Microplásticos podem aumentar risco de depressão e demência

Praia poluída por plásticosjcomp/Freepik

Pesquisas revelam que os microplásticos presentes em alimentos ultraprocessados podem se acumular no cérebro humano e estar associados ao aumento global de casos de depressão, demência e outros transtornos mentais. 

Pesquisadores das universidades de Ottawa, Toronto, Loma Linda e Deakin identificaram que o cérebro humano contém cerca de uma “colher de chá” dessas partículas, com níveis três a cinco vezes maiores em pessoas diagnosticadas com demência.

Os quatro estudos, publicados na revista Brain Medicine, sugerem que essas partículas, com menos de 5 mm, ultrapassam a barreira hematoencefálica e atuam por meio de inflamação, estresse oxidativo e danos às mitocôndrias.

Os pesquisadores destacam que alimentos industrializados, que representam mais de 50% das calorias consumidas em países como os EUA, contêm até 30 vezes mais microplásticos do que alimentos naturais, explica à Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS) o Dr. Nicholas Fabiano, da Universidade de Ottawa, coautor dos estudos.

“Nuggets de frango contêm 30 vezes mais microplásticos por grama do que peitos de frango, destacando o impacto do processamento industrial”.

A hipótese é que o processamento industrial, que envolve embalagens plásticas e maquinários, contamine os alimentos durante a produção.

Mecanismos de ação

Segundo o Dr. Wolfgang Marx, da Universidade Deakin, à AAAS, tanto os alimentos ultraprocessados quanto os microplásticos atuam por vias biológicas semelhantes.

“Alimentos ultraprocessados ​​têm sido associados a problemas de saúde mental por meio de inflamação, estresse oxidativo, epigenética, disfunção mitocondrial e perturbações nos sistemas neurotransmissores. Os microplásticos parecem operar por vias notavelmente semelhantes”.

Dados da revista Nature Medicine reforçam a hipótese ao mostrar maior concentração de microplásticos no cérebro de pacientes com demência.

Caminhos para remoção

Em paralelo, um estudo liderado pelo Dr. Stefan Bornstein investiga se a aférese terapêutica, técnica que filtra o sangue fora do corpo, pode remover microplásticos.

“Embora precisemos reduzir nossa exposição a microplásticos por meio de melhores escolhas alimentares e alternativas de embalagens, também precisamos pesquisar como remover essas partículas do corpo humano”.

A pesquisa preliminar foi publicada no mesmo volume da Brain Medicine.

Alerta urgente

A edição inclui um editorial da Dr. Ma-Li Wong intitulado “Uma colher de plástico no seu cérebro“, que classifica os achados como um marco na relação entre poluentes ambientais e saúde mental.

“Se microplásticos cruzam a barreira cerebral, o que mais não está seguro?”.

Os autores defendem a criação de um Índice de Microplásticos na Dieta (DMI) para quantificar a exposição humana e reforçam a necessidade de políticas públicas.

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