Opinião: “O governo está realmente preocupado com o dólar?”

Nas últimas semanas, tornou-se comum ouvir declarações que culpam o mercado financeiro pela desvalorização do Real, como se houvesse uma “força maligna” manipulando a moeda para prejudicar o país. No entanto, essa narrativa ignora os fundamentos básicos da economia e a percepção de risco dos investidores. A desvalorização do Real perante o Dólar reflete uma política econômica mal planejada e um ambiente que afasta o capital estrangeiro.

O dólar não se fortalece porque o mercado financeiro é “malvado” ou conspira contra o Brasil. O cenário é mais simples: investidores tomam decisões baseadas em risco e retorno. Quando há insegurança política, fiscal e econômica, a percepção de risco aumenta. Para atrair investimentos, o país precisa oferecer um prêmio (retorno) maior, e ainda assim, pode não ser suficiente.

Atualmente, o Brasil enfrenta um ciclo perigoso: o governo sinaliza incertezas sobre o equilíbrio fiscal, demonstra dificuldade em controlar gastos e apresenta discursos contraditórios sobre o mercado. O resultado? Fuga de capital estrangeiro, menor entrada de dólares e um Real cada vez mais desvalorizado.

Prova disso é a saída líquida de R$ 33,228 bilhões do país no acumulado do ano, até o último dia 3. O Real é a oitava moeda do mundo que mais perdeu valor frente ao dólar em 2024. Esse dado evidencia que a fraqueza da moeda não é uma conspiração do mercado, como sugere o governo, mas um reflexo da percepção de risco.

O capital estrangeiro que entra no Brasil frequentemente é especulativo, representando uma pequena parcela dos portfólios globais. Assim, sua saída não causa grandes prejuízos aos investidores internacionais, mas tem impacto significativo na nossa economia.

Apesar das críticas, o mercado financeiro não tem “poder absoluto” sobre o câmbio. Se tivesse, o dólar estaria muito além dos níveis atuais, considerando que a maioria do patrimônio dos investidores globais é dolarizado.

Enquanto o PT aprova resolução e critica ‘artimanhas’ da Faria Lima e ‘sabotagem’ do presidente do Banco Central para justificar os desafios enfrentados pelo governo, a narrativa revela uma tentativa de desviar o foco dos próprios entraves políticos e econômicos. O embate ideológico contra agentes do mercado, descrito na resolução, parece ignorar que juros altos refletem, em grande parte, os riscos fiscais e a falta de confiança gerados pela condução da política econômica. Essa postura de confronto pode aprofundar a desconfiança, afastando ainda mais os investidores e comprometendo as tão almejadas ‘conquistas sociais’

O limite dessa situação é perigoso. Se o governo continuar “esticando a corda”, chegará um ponto em que nenhum prêmio será suficiente para compensar o risco de investir no Brasil. Quando o investidor perceber que há mais chances de perder do que ganhar, ele sairá do jogo. Nesse cenário, não será o mercado que desvalorizará o Real — será a falta de confiança na política econômica do país.

Se o governo deseja conter a alta do dólar, é necessário mais do que retórica. Medidas fiscais claras e responsáveis, recuperação da credibilidade internacional e garantia de segurança jurídica são passos fundamentais para atrair investimentos.

Culpar o mercado financeiro é uma estratégia simplista e perigosa. Enquanto não houver uma mudança de postura, o dólar continuará subindo, e o país desperdiçará oportunidades de crescimento econômico.

Embora o atual governo não seja o único culpado pelos problemas estruturais do Brasil, é responsável por não liderar uma agenda econômica que coloque o país em um rumo sustentável de crescimento. Ao invés disso, ostenta descontrole fiscal e ignora sinais claros de desconfiança, enquanto o país perde credibilidade.

O mercado reage ao cenário que o governo cria. Quanto maior o risco, maior o preço a pagar. Sem confiança, não há prêmio que compense o risco. E, nesse jogo, todos saem perdendo: o investidor, o governo e, principalmente, o cidadão brasileiro.

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