Sobrevivente na Índia desafiou estatísticas ou estava em assento ‘ideal’?

Vishwash Kumar Ramesh, único passageiro vivo após a queda do avião da Air India nesta quinta-feira (12), desafiou as probabilidades ao sair relativamente ileso da poltrona 11A – um assento onde os índices de sobrevivência não são altos em caso de acidente, segundo estudos.

Homem disse que escapou da aeronave após a queda pela saída de emergência. Ele saiu andando dos destroços, mas foi socorrido por pessoas que estavam no local do acidente e o encaminharam para uma ambulância.

Seção onde ele estava não colidiu contra o telhado do prédio, como o restante da aeronave. “Quando vi a saída, achei que conseguiria sair. Tentei e consegui. Talvez as pessoas que estavam do outro lado do avião não tenham conseguido”, explicou à emissora local DD News.

Segundo o mapa de assentos do Boeing 787-8 da Air India, compartilhado pelo site especializado Seat Guru mantido pela plataforma Tripadvisor, a poltrona 11A fica ao lado da saída de emergência.

Estudos mostraram lugares mais seguros em um avião —e o assento de Ramesh não era um deles. Assentos mais para o fundo e afastados das janelas tiveram menos mortes em acidentes analisados por estudos. O assento de Ramesh era o primeiro da classe econômica, próximo à frente do avião, e rente à lateral, ou seja, uma poltrona “de janela”.

Dado é apoiado pela mecânica dos acidentes. Geralmente, no caso de colisão, “a frente do avião age como um absorvedor de choque”, explicou o professor de aeronáutica e astronáutica do MIT (Massachusetts Institute of Technology), John Hansman, à revista Travel and Leisure. Seu time já derrubou intencionalmente um Boeing 727 só para pesquisar como acidentes acontecem.

Mortalidade seria maior nas partes da frente e de trás do avião. Segundo levantamento da revista americana Time de 2015, a mortalidade seria de 32% na parte de trás do avião, 39% no meio e 38% na parte da frente. Foram analisados 17 acidentes entre 1985 e 2000, registrados pela FAA, órgão de aviação dos EUA.

Assentos longe das janelas têm melhores índices. Os assentos do corredor, na parte de trás do avião, têm uma taxa de mortalidade de 28%. Já os assentos do corredor na parte central do avião representam uma taxa de 44% de mortalidade.

No entanto, a diferença entre chances de sobrevivência em áreas distintas da aeronave pode não ser tão grande. Outro levantamento de 284 acidentes entre 1959 a 2020 feito pela Flight Safety Foundation, organização internacional dedicada à segurança da aviação, revelou que, em 39 dos acidentes, a parte de trás foi mais segura. Em 25, foi a parte central. Já em 32, a frente representou menos mortes. Apenas 70 acidentes, no entanto, tinham dados suficientes para análise.

HÁ UM LUGAR MAIS SEGURO PARA SE SENTAR?

Pode haver mais de uma “área segura” por voo. Em um mesmo acidente, até duas áreas podem registrar menos mortes em comparação com a restante. É o caso de um acidente com um Boeing 737 da US Airways dos EUA em 1991. Nele, 19 pessoas que estavam na área da frente do avião morreram, enquanto no meio e na parte de trás foram três mortes.

A maneira como acidente acontece também importa ao definir quem terá maior chance de sobreviver. Se houver uma queda livre, provavelmente ninguém sobreviverá. Se o pouso for na água, as chances aumentam, mas isso dependeria do ângulo de toque com a superfície, velocidade, inclinação, entre outros. Em um incêndio, quem está próximo à saída de emergência terá mais chances de sair primeiro e se salvar.

Mesmo acidentes similares mostram resultados diferentes. Por isso, é necessário compreender que a chance de sobreviver a um acidente aeronáutico tem mais a ver com as condições em torno dele, do que com o lugar onde se está sentado.

Mas, diante das condições únicas da queda do Boeing, Ramesh pode realmente ter escolhido a “poltrona ideal”. “Ele tinha uma melhor chance média de sobrevivência por causa de onde estava sentado? A resposta intuitiva é sim. Há um pouco mais de espaço em torno da saída de emergência – e ele pode então sair da aeronave depressa”, opinou o expert em avião e professor da Universidade de York, John Alexander McDermid, ao jornal britânico Daily Mail.

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