Pit bull tem instinto para atacar? Veja mitos e verdades sobre a raça

Nos últimos meses, uma série de ataques envolvendo cães da raça pit bull foi registrada em diferentes regiões do país, gerando comoção, debates nas redes sociais e questionamentos sobre o comportamento desses animais. Em alguns dos casos, os ataques resultaram em ferimentos graves e até mortes, reacendendo a discussão sobre a criação, regulamentação e possível proibição da raça em espaços públicos.

Apesar de toda polêmica, um especialista e adestradores afirmaram que não há nenhum estudo que comprove que cães dessa raça nascem com instinto agressivo.

Em entrevista ao ENFOCO, José Luiz Pinto Lopes, médico veterinário da UFF, explicou que essas afirmações são boatos. 

Aspas da citação

Isso tudo é uma lenda, uma mentira. A raça pit bull não tem fatores genéticos que comprovem a agressividade, mas o ser humano sim. Essas raças são extremamente dóceis”


José Luiz Pinto Lopes
médico veterinário

Aspas da citação

Um estudo da American Veterinary Medical Association (AVMA) indicam fatores como criação inadequada, maus-tratos, falta de socialização e estímulo ao comportamento agressivo têm mais influência no comportamento de um cão do que sua raça.

“Qualquer raça pode apresentar comportamentos agressivos, especialmente quando criada em ambientes estressantes ou sem controle adequado”, destacou o médico veterinário.


É importante destacar que o termo “pit bull” não se refere a uma raça única, mas sim a um grupo de raças com características físicas semelhantes, como o American Pit bull Terrier, American Staffordshire Terrier e Staffordshire Bull Terrier.

A generalização da raça dificulta o levantamento de estatísticas precisas e alimenta estigmas que podem prejudicar a adoção e o tratamento justo dos animais. Organizações de proteção animal também alertam que criminalizar uma raça pode desviar o foco do real problema: a responsabilidade dos tutores na criação e socialização dos cães.

Genética e comportamento

Todas as raças têm traços genéticos que influenciam comportamento (como energia, sociabilidade, etc.), mas a agressividade não é exclusiva de nenhuma raça. Pit bulls foram originalmente criados para combates entre cães, então podem ter uma maior reatividade a outros cães, mas isso não significa agressividade generalizada nem ódio por humanos.

Ambiente e socialização

Estudos mostram que a criação, socialização e treinamento são os maiores fatores que moldam o comportamento de um cachorro. Cães maltratados, criados para brigas ou com donos irresponsáveis tendem a ter maior risco de comportamento agressivo, independentemente da raça.

Opinião de um adestrador

De acordo com o adestrador Guilherme Botelho, cães da raça pit bull são mais fortes e precisam de um tratamento especial para não haver nenhum problema.

Aspas da citação

É um cão especial, com potencial alto de força e que precisam sim de uma orientação para ter um cão dessa magnitude. Eles não são para qualquer pessoa. Esta raça precisa de um tratamento especial. Apesar disso, os pit bulls são extraordinários e maravilhosos”


Guilherme Botelho
adestrador

Aspas da citação

Guilherme cita que, em alguns lugares no mundo, para ser tutor de cães com “potenciais perigosos”, a pessoa tem que adquirir uma licença. Essas pessoas precisam cumprir uma série de requisitos legais para ter esses cachorros. Para ele, esta seria uma das formas ideais para evitar problemas no Brasil.

“Acho que isso faria muito sentido no Brasil também. A pessoa tem que passar por um teste com o animal para saber se ele tem controle e se tem condição de conviver com outros animais. Se a pessoa não tiver o controle dele, não pode sair com ele pra rua”, adestrador Guilherme.


No Brasil, não há esta licença, mas alguns estados e municípios exigem uso obrigatório de focinheira, coleira e guia curta em locais públicos, além de idade mínima do condutor (acima de 18 anos).

O adestrador trouxe um dado interessante e um tanto curioso: para a maioria das pessoas, cães da raça pit bull são os que têm o maior número de ataques a seres humanos. No entanto, esta afirmação é falsa.

“Para se ter uma noção, pit bull não é nem de perto a raça que mais tem números de ataques a seres humanos. A raça que mais ataca humanos é a Dachshund (salsichas)”, revelou.

Apesar disso, a sociedade continua dividida entre o medo gerado pelos casos violentos e a defesa de que nenhum animal nasce agressivo — ele é moldado pelo ambiente onde vive e pelas experiências que vivencia ao longo da vida.

Relembre alguns casos

Recentemente, os ataques de cães da raça pit bull vêm chamando a atenção da sociedade. Um dos casos que mais chamou a atenção foi o da escritora Roseana Murray, que foi atacada brutalmente por três cachorros desta raça no bairro Gravatá, em Saquarema, na Região dos Lagos, em abril do ano passado.

A escritora Roseana Murray: prótese após ter braço dilacerado por pit bulls


A escritora Roseana Murray: prótese após ter braço dilacerado por pit bulls


|  Foto:
Reprodução

A escritora teve que amputar o braço direito devido a gravidade dos ferimentos. Por conta disso, utiliza uma prótese.

Outro caso que ocorreu na Região dos Lagos, em dezembro do ano passado, foi de um menino de 8 anos que foi atacado por um pit bull de um vizinho. Ele passou por uma cirurgia de reconstrução labial e reparo nos braços, realizada por especialistas das áreas bucomaxilofacial e geral.

Já em Niterói, em fevereiro deste ano, uma idosa morreu após sofrer diversas mordidas do cachorro no bairro Cantagalo. Segundo testemunhas, a mulher estava no quintal de sua residência quando foi atacada.

O cachorro se soltou da coleira e atacou a vítima. Ainda segundo relatos, o cachorro seria de uma vizinha e invadiu a casa da mulher.

O caso mais recente foi de um bebê de três meses que morreu no bairro Capibaribe, em São Lourenço da Mata, Pernambuco, ao ser atacado por um pit bull.

Lucas Levi dos Santos estava na casa de uma cuidadora de crianças enquanto a mãe do bebê trabalhava. A cuidadora era uma pessoa de confiança da família e já havia cuidado de outras crianças.

Ainda segundo as investigações, o cachorro ficava no quintal, mas ele conseguiu invadir a casa e foi correndo em direção ao bebê. A cuidadora ainda tentou impedir o ataque, mas Lucas Levi não resistiu aos ferimentos.

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