Como explicar a barbárie na ponte de São Gabriel; psicóloga aponta o aterrorizador motivo

Ana Tolfo- Psicóloga Clínica, pós graduada em Neurociência do Comportamento, atua com psicoterapia e avaliação psicológica- neuropsicológica de adultos e idosos na Clínica Fluir Alegrete, fez um análise desse caso à luz da psicologia e comportameto das pessoas

Ela diz que um pai jogar o próprio filho de uma ponte, isso choca a todos e num primeiro momento podemos pensar em consternação: como alguém faz isso? Mas este caso não é isolado, é fruto de uma violência presente nas nossas relações que paira no ar como uma névoa e que devemos estar muito atentos para não nos acostumarmos, alerta.

Relembra a profissional que o casal, pais do menino de 5 anos, haviam terminado a relação em novembro do ano passado, porém, o homem não aceitou o término do relacionamento. A mãe, na época, chegou a prestar queixa em uma delegacia, mas desistiu de prosseguir com a denúncia. Meses depois em uma visita, o homem ainda ressentido, fez valer seu desejo de continuar a relação. Nesse momento, o pai pratica o primeiro ato de violência contra a criança e tenta estrangular o filho. Como não consegue, coloca ele na bicicleta e se desloca pelas ruas da cidade. A psicóloga diz que vendo as imagens da câmera de segurança, o menino aparentava estar bem, não há choro ou desespero, parece realmente um passeio. Ao chegar a ponte, o homem joga o filho e logo em seguida envia um áudio à prima da ex companheira, dizendo que agora seria um “guenta coração pro resto da vida” pois havia feito uma “loucurinha”. No áudio, não há voz de choro ou arrependimento, o tom é realmente de vingança, considera.
-A história choca, mas escancara a realidade existente em muitas de nossas relações: a masculinidade tóxica que faz com que um homem sinta que tem o direito de receber de todos o que deseja. E que, em retaliação, pode agir com violência e vingança ( principalmente daquelas) que não suprem o que desejam. Ana Tolfo diz que essa masculinidade, também traz arrogância e falta de responsabilização por parte de muitos homens, como por exemplo, inúmeros casos de homens que ao se divorciarem das parceiras, deixam também de serem pais. Fica muito claro que neste caso, não havia vínculo afetivo real com o filho, o interesse era apenas na parceira e ela estando indisponível fica muito fácil renunciar a qualquer responsabilização com o filho. E esse é o retrato do que ocorreu em São Gabriel.

Ana diz que não sabe como era a relação deste homem com a criança, por isso não irá se referir a ele nesta análise como pai, porque ele não foi. Ser pai não significa simplesmente engravidar uma parceira, ser pai requer dedicação ativa, requer construir uma relação com bem-estar, essa é sua responsabilidade. Para o menino poderia ser apenas um passeio, em teoria deveria estar seguro com aquele homem que deveria protegê-lo. Infelizmente o sentimento de posse falou mais alto, o ódio e o ressentimento foram aumentando. O plano inicial era matar a ex-companheira e, já que não conseguiu, enxergou na criança uma simples moeda de troca, um objeto, e faz uso desse expediente de maneira perversa para atingir a mãe.
-A violência normalmente não vem do nada, estamos falando aqui de um caso extremo, mas que possivelmente teve muitos sinais antes de chegar a tal ponto. Temos em nossa história e, recentemente, como mostra a série Adolescência, da Netflix, grupos que reforçam ideias de que homens são superiores, que mulheres são as grandes culpadas por suas falhas, dores e insatisfações, por isso reforçam discurso de ódio e punição. Exatamente as ideias que o indivíduo que matou o filho expôs: quis fazer a ex companheira sofrer, pagar.
A psicóloga lembra que precisamos entender que este tipo de coisa não acontece apenas em séries ou casos extremos, mas no dia a dia em menor escala. “Precisamos ensinar os homens e meninos a lidarem com seus sentimentos, a lidar com a frustração e a se responsabilizarem. Precisamos ensinar as meninas e as mulheres a não titubear ao menor sinal de agressividade, invalidação e opressão”.
Ela credita que isso precisa ser mudado agora, hoje, no dia a dia, nas conversas que se tem no café, na roda com os amigos, na monitoração do que vemos e consumimos na internet, na maneira como estabelecemos limites para filhos e filhas.

“Por isso, ao me perguntarem: afinal, o sujeito tem transtorno mental? Não sei, não o avaliei, e seria muita irresponsabilidade afirmar algo deste tipo sem conhecimento aprofundado sobre o caso, mas somos fruto do que consumimos e ao misturarmos dor, com discurso e exemplos de ódio e misoginia, devemos concordar que não se produz algo bom dentro de nós.

Fonte dos Fatos
Site: www.cnnbrasil.com.br

O post Como explicar a barbárie na ponte de São Gabriel; psicóloga aponta o aterrorizador motivo apareceu primeiro em Alegrete Tudo.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.