F-47: a resposta da Força Aérea dos EUA ao desafio dos novos caças de sexta geração da China

O dia de ontem, 21 de março, marcou um novo e importante marco para a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) com a escolha da proposta da Boeing, materializada no F-47, para a fase de desenvolvimento e produção do futuro caça de sexta geração que surgiu do programa e da competição NGAD. Embora o foco das declarações tenha se concentrado na importância dessa nova aeronave de combate, que deverá ser introduzida na década de 2030, não devem passar despercebidas as mensagens enviadas à China, principal adversário geopolítico dos EUA no atual século, que também estaria desenvolvendo uma nova geração de aeronaves de combate enquanto consolida e expande sua atual frota de caças de quinta geração.

O anúncio e seus destinatários

Como foi relatado durante o dia de ontem, o presidente Trump, na qualidade de comandante em chefe das Forças Armadas dos EUA, acompanhado pelo Secretário de Defesa, Pete Hegseth, e pelo Chefe do Estado-Maior da USAF, General David Allvin, fez o anúncio que pôs fim a uma série de especulações e rumores que cercavam o Programa NGAD (Next Generation Air Dominance), destinado a substituir os atuais caças de quinta geração F-22 Raptor.

Em suas palavras, o mandatário republicano anunciou que a Boeing foi escolhida para avançar para a fase de engenharia e produção do novo caça de sexta geração F-47, que superou a proposta da Lockheed Martin após pelo menos cinco anos de testes e avaliações realizados com total sigilo.

“Tenho o prazer de anunciar que, por minha indicação, a Força Aérea dos Estados Unidos está avançando com o primeiro caça de sexta geração do mundo”, declarou Trump do Salão Oval. “Não há nada no mundo que se aproxime disso, e ele será conhecido como F-47”, acrescentou.

Posteriormente, a Força Aérea dos EUA indicou: “Esta decisão resulta de um processo justo e exaustivo de seleção de fornecedores conduzido pela Força Aérea, que reafirma a plataforma NGAD como a solução mais capaz e econômica para manter a superioridade aérea em um ambiente global de ameaças cada vez mais complexo e contestado. A decisão reflete o compromisso da Força Aérea em fornecer tecnologia de ponta aos combatentes, ao mesmo tempo em que otimiza o investimento dos contribuintes”.

No entanto, deve-se prestar especial atenção às mensagens veladas feitas pelo presidente Trump e por seu Secretário de Defesa. Para além da retórica, essas mensagens são direcionadas aos atuais adversários da hegemonia aérea e espacial dos EUA, sendo, sem dúvida, a China a principal hipótese de conflito e objeto de estudo de cenários futuros pelo Pentágono.

“No que diz respeito a todas as características de um caça, nunca houve nada parecido, desde a velocidade até a manobrabilidade, passando pelo que ele pode transportar, por sua carga útil. E isso vem sendo desenvolvido há muito tempo”, afirmou Trump. “Os inimigos dos Estados Unidos nunca o verão chegar”.

Por sua vez, Hegseth indicou que o comunicado divulgado pela USAF dizia: “Agora temos o F-47, que envia uma mensagem muito direta e clara aos nossos aliados de que não iremos a lugar nenhum… e aos nossos inimigos, que podemos — e poderemos — projetar poder em todo o mundo, sem obstáculos, durante gerações”.

No final do ano passado, fontes abertas de informação (OSINT) relataram no final de dezembro a realização de dois voos de teste realizados na China por aeronaves nunca antes observadas, apontando, por diversos indícios, que se tratava de uma nova geração de aeronaves destinadas a equipar a Força Aérea do Exército Popular de Libertação.

Em ordem cronológica, a primeira a ser captada foi uma aeronave com formato de asa volante e presumivelmente equipada com três motores. Denominada pela comunidade como “J-36”, devido à presença desse número nas laterais da fuselagem, realizou um voo de teste em 26 de dezembro, partindo, pela proximidade onde foram captadas as imagens, das instalações da empresa Chengdu, aparentemente responsável por seu desenvolvimento e fabricação de protótipos.

As imagens que se espalharam rapidamente certamente tiveram impacto nos Estados Unidos, ao registrar-se uma pausa em 2024 no Programa NGAD, do qual, naquelas datas, não havia confirmação de voos de teste nos últimos cinco anos. No entanto, ao contrário do recente anúncio, o Ministério da Defesa da China e as empresas envolvidas ainda mantêm absoluto sigilo sobre a função que essa aeronave desempenharia.

Posteriormente, dias após o primeiro voo do “J-36”, outra aeronave de design semelhante, mas visivelmente menor, também realizou um voo de teste partindo do que aparenta ser as instalações da empresa Shenyang, outro gigante da indústria aeroespacial chinesa.

Até o momento, sem maiores anúncios, especula-se amplamente na comunidade de especialistas sobre ambas as aeronaves. Entre as hipóteses levantadas, considera-se que estamos diante de novos caças de sexta geração sendo submetidos a voos de teste, ou de demonstradores de tecnologia cujos avanços seriam aplicados à atual geração de caças furtivos chineses; a saber: o atual J-20, sua nova versão biposto apresentada em 2024, J-20S, bem como o J-35, também apresentado no ano passado e cuja versão embarcada está em desenvolvimento para equipar os novos porta-aviões classe Fujian da Marinha do Exército Popular de Libertação.

O último relatório confirmou que o “J-36” realizou seu segundo voo de testes, onde se observa que este foi realizado com o trem de pouso estendido, sem aeronave de escolta e com a presença de diversos equipamentos de medição. Os vídeos divulgados em 17 de março precederam o recente anúncio e apresentação do F-47, o que, sem provas, mas sem dúvida, poderia indicar que a inteligência chinesa está ciente dos avanços do programa NGAD e busca causar novo impacto na opinião pública mundial.

Além de demonstrar suas capacidades tecnológicas e avanços em todos os domínios, a República Popular da China continua seus esforços para reduzir a distância tecnológica em relação aos Estados Unidos, tanto em termos qualitativos quanto quantitativos.

A resposta: Boeing F-47

Mas, na realidade, o que sabemos sobre o F-47? Atualmente, graças aos anúncios de ontem, sabemos que a competição do programa NGAD foi liderada pelos protótipos fabricados pela Boeing e pela Lockheed Martin. Também deve ser mencionado que a Northrop Grumman participou do mesmo processo, mas optou por não continuar como contratante principal, focando seus esforços em outros programas com melhores perspectivas, como o bombardeiro furtivo B-21 Raider. Resta saber se a empresa também desenvolveu e fabricou seu próprio protótipo NGAD, e se sua decisão de se retirar do programa se deveu às poucas chances de vencer a competição contra os outros dois gigantes da aviação americana. No entanto, a empresa poderá ter sua revanche com o programa F/A-XX da Marinha dos Estados Unidos, cujos últimos indícios indicam que a Lockheed Martin teria sido descartada, restando Northrop Grumman e Boeing na competição pelo futuro sucessor do F/A-18 Super Hornet.

Com sua escolha para avançar no desenvolvimento e produção do F-47, Steve Parker, presidente e CEO interino da Boeing Defense, Space & Security, declarou em comunicado oficial: “Reconhecemos a importância de projetar, fabricar e entregar uma capacidade de caça de sexta geração para a Força Aérea dos Estados Unidos. Em preparação para essa missão, realizamos o maior investimento da história do nosso negócio de defesa e estamos prontos para fornecer a aeronave NGAD mais avançada e inovadora necessária para apoiar essa missão”.

Graças à escolha do F-47, a Boeing deverá avançar nas próximas fases do programa NGAD, que incluirão “… a fase de desenvolvimento de engenharia e fabricação, que inclui a maturação, integração e teste de todos os aspectos do F-47”, conforme detalhou a USAF, acrescentando: “Essa fase produzirá um número reduzido de aeronaves de teste para avaliação. O contrato também inclui opções, com preços competitivos, para uma produção inicial em escala reduzida”.

No entanto, embora o programa venha sendo conduzido em sua fase experimental e de testes em voo há cinco anos, não foram divulgadas datas oficiais para pelo menos uma apresentação pública com um modelo em escala real da aeronave. Sabemos apenas datas estimadas através das declarações de Trump ontem, nas quais ele prevê contar com modelos de produção antes do término de seu atual e último mandato, em 29 de janeiro de 2029.

Quanto ao design, as imagens e ilustrações artísticas permitem algumas ideias gerais de como será o F-47 e de quais aeronaves experimentais do passado a Boeing se inspirou para seu desenvolvimento e fabricação. Entre elas, destaca-se, conforme o portal especializado The War Zone, a aeronave experimental YF-118G Bird Of Prey, que surgiu nos anos 90 e realizou voos sob total sigilo na Área 51.

Com essa aeronave, de design sem cauda ou estabilizador vertical, a Boeing testou uma série de novas tecnologias, inclusive aquelas que poderiam torná-la invisível ao olho humano, sem saber ao certo quais tecnologias e equipamentos poderiam ter origem nessa aeronave e que, após mais de 20 anos de maturação e desenvolvimento, podem ou não equipar o F-47.

Nas imagens já divulgadas em alta resolução dos renders, observa-se que o F-47 parece possuir canards, um recurso totalmente ausente nos modelos americanos de quinta geração, mas presente no J-20 chinês e em outras aeronaves de gerações anteriores como o Rafale e o Eurofighter.

Outra inspiração no design, segundo o The War Zone, pode ser encontrada nos veículos aéreos não tripulados experimentais X-45, desenvolvidos pela Boeing em conjunto com a NASA.

Por fim, para além da retórica, a apresentação do F-47 representa, para o mundo da aviação militar, um novo marco que nos oferece uma janela para o futuro, com os possíveis desdobramentos que as tecnologias aplicadas em seu design poderão ter em outras áreas da indústria aeroespacial.

*Texto original em castelhano: Juan José Roldán

Você pode estar interessado em: À medida que a transferência de caças F-16 para a Argentina e a Ucrânia avança, a Força Aérea Dinamarquesa está preparando os seus F-35A para iniciar missões de interceptação

La entrada F-47: a resposta da Força Aérea dos EUA ao desafio dos novos caças de sexta geração da China aparece primero en Zona Militar.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.