‘Titanic brasileiro’ vira série: relembre história real que deixou 55 mortos

Já está disponível na Max o primeiro episódio de “Bateau Mouche: O Naufrágio da Justiça”, série documental inspirada na tragédia que chocou o Brasil no Réveillon de 1988 para 1989.

O que aconteceu
Atenção: este texto dá detalhes sobre o naufrágio do barco Bateau Mouche IV e pode conter spoilers da série. Siga com cautela!

O passeio foi vendido como uma opção luxuosa para a virada do ano. Inspirado nas embarcações turísticas do rio Sena, na França, o Bateau Mouche IV tinha como proposta oferecer um jantar refinado, com música, open bar e uma visão privilegiada do show de fogos da praia de Copacabana. O ingresso custava Cz$ 150 mil — cerca de R$ 2.737 pelos valores de hoje.

A lotação estava muito acima do permitido. Não se sabe exatamente o número de passageiros, mas estima-se que fosse perto de 150. Quando o barco foi construído, nos anos 70, a lotação era de apenas 20 pessoas. Com uma série de reformas (algumas delas irregulares, como a instalação de um piso de cimento e novas caixas d’água no convés superior), o número aumentou para 62, segundo a perícia — o que ainda é menos de metade do número de passageiros no dia do naufrágio.

Barco foi parado pela fiscalização, mas foi liberado após 20 minutos. Testemunhas dizem ter visto funcionários da empresa Itatiaia Turismo, organizadora do evento, subornando oficiais da Marinha. No entanto, as investigações não encontraram provas dessa acusação.

Às 23h50, o barco começou a virar. Além do excesso de peso, a embarcação também enfrentava ondas de cerca de 1,50 m — para as quais o seu casco chato não era adequado. O naufrágio aconteceu entre a Ilha de Cotunduba e o Morro do Pão de Açúcar, e deixou 55 mortos. A série tem entrevistas com sobreviventes da tragédia e recria o momento do naufrágio. Em entrevista a Splash, a diretora Tatiana Issa explicou:

— [Gravar a cena dos sobreviventes] é impactante porque você revive aquela noite. É o nosso Titanic, tirando as devidas proporções, porque o Titanic era um barco muito maior, mas o grau da tragédia foi similar. Aconteceu numa noite de alegria, numa noite em que se faz planos, deseja um ano melhor. Ninguém ali estava sozinho. Você passa o Réveillon com familiares, amigos, filhos, marido, esposa — Tatiana Issa.

Entre as vítimas, estava a atriz Yara Amaral. Aos 52 e no auge de sua carreira, Yara não sabia nadar e sempre teve medo do mar, mas decidiu participar do passeio a convite da amiga Dirce Grotkowsky. Em entrevista a Splash em 2021, a sobrinha dela contou que a causa da morte não foi afogamento. “Quando ela foi ao banheiro e viu a água subindo no vaso sanitário, ela sofreu um ataque cardíaco”.

O primeiro julgamento, em 1990, absolveu todos os denunciados pelo Ministério Público. Em 1991, os empresários Álvaro Pereira da Costa e Faustino Vidal foram condenados a quatro anos de prisão em regime semiaberto. Eles começaram a cumprir a pena no final de 1993, mas em abril de 1994 fugiram da prisão. Os dois estão foragidos até hoje. Ainda nos anos 90, foram flagrados na Europa, mas o pedido de extradição foi negado.

A maioria dos processos abertos pelas famílias das vítimas ainda está em aberto. “É um trauma que as pessoas ficam revivendo e não conseguem sair daquilo, como uma assombração”, diz Guto Barra, também diretor da série.

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