EUA redirecionam política energética: impacto global e desafios

EUA redirecionam política energética: impacto global e desafios

A política energética dos Estados Unidos passa por uma reconfiguração com a nova gestão de Donald Trump. O incentivo à produção de petróleo, o corte de subsídios para fontes renováveis e a suspensão de projetos eólicos offshore marcam essa guinada. O objetivo, segundo o presidente, é reduzir custos para a indústria e para os consumidores americanos.

Pedro Rodrigues, sócio-diretor do CBIE, avalia que “Trump identificou que os EUA gastavam trilhões na transição energética enquanto países como a China investiam menos, tornando a energia americana mais cara”. Com isso, a estratégia americana se volta para combustíveis fósseis, buscando garantir energia barata e fortalecer a competitividade industrial.

Impacto no mercado global de petróleo e gás

O aumento da produção nos EUA pode impactar diretamente o mercado global. “Se Trump cumprir sua promessa de resolver a guerra entre Rússia e Ucrânia rapidamente, isso pode gerar um aumento na oferta de petróleo e uma queda nos preços”, analisa Rodrigues. Além disso, a retomada da exploração em áreas federais pode fortalecer os EUA como um dos maiores produtores mundiais, reduzindo a influência da OPEP.

Os desdobramentos são complexos. A Rússia, antes responsável pelo abastecimento de gás para a Europa, redirecionou suas exportações para China e Índia. Enquanto isso, os EUA aumentaram sua presença no mercado europeu. “O mundo se dividiu: a Rússia atende a Ásia, enquanto os EUA tentam suprir a demanda europeia”, explica Rodrigues.

A transição energética ainda tem força?

A mudança na política energética americana coloca em xeque o ritmo da transição para energias renováveis. “As energias renováveis são intermitentes, enquanto a indústria precisa de segurança energética 24 horas por dia”, afirma Rodrigues. Ele cita a Microsoft como exemplo: “A empresa reativou uma usina nuclear para garantir fornecimento estável para seus data centers”.

Apesar do corte de subsídios, a transição energética continua, mas com um novo equilíbrio. O gás natural ganha espaço como alternativa mais estável, e a energia nuclear volta a ser considerada. “O mundo precisa de energia confiável, e a diversificação de fontes é essencial”, reforça Rodrigues.

Oportunidades e desafios para o Brasil

O Brasil possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com alta participação de hidrelétricas, eólicas e solares. No entanto, a falta de planejamento e infraestrutura pode limitar oportunidades. “O Brasil tem vento, sol, biomassa e gás natural, mas esbarra na insegurança regulatória e na dificuldade de atrair investimentos”, aponta Rodrigues.

A dependência da arrecadação com petróleo também preocupa. “Se o preço do petróleo cair, o Brasil arrecada menos. Isso pode ser ruim para o país, mas, por outro lado, pode reduzir a pressão política sobre a Petrobras e os preços dos combustíveis”, analisa.

A América Latina e a integração energética

A proposta de importar gás da Argentina através de um gasoduto levanta dúvidas sobre viabilidade e segurança. “Temos déficit de gasodutos no Brasil. Faz sentido investir na infraestrutura de outro país enquanto a nossa malha ainda é limitada?”, questiona Rodrigues. Ele lembra que experiências anteriores, como o gasoduto Brasil-Bolívia, geraram incertezas devido a mudanças políticas na região.

A Argentina, sob o governo de Javier Milei, pode alinhar sua política energética com a dos EUA, mas a instabilidade histórica do país preocupa investidores. “A integração energética é positiva, mas precisamos avaliar riscos antes de depender de parceiros voláteis”, pondera Rodrigues.

COP 30 e a relevância dos acordos climáticos

A COP 30, que será sediada pelo Brasil, ocorre em um momento de questionamento sobre a relevância dos fóruns ambientais. “Esses eventos se tornaram um espaço de discursos, mas com poucas ações concretas”, diz Rodrigues. Ele aponta que a exclusão de empresas de petróleo das discussões limita o impacto real das decisões. “Não faz sentido debater transição energética sem incluir os principais agentes do setor”, critica.

A possível saída dos EUA do Acordo de Paris e a redução do financiamento a políticas climáticas reforçam a incerteza sobre o futuro das iniciativas globais. “O pêndulo agora está indo para o outro lado. Depois de anos de foco ambiental, os custos elevados levaram governos e empresas a reavaliar suas estratégias”, conclui Rodrigues.

Investimentos no setor energético: onde estão as oportunidades?

Com o aumento da demanda global por energia, diversas oportunidades surgem para investidores. “O mundo vai consumir mais energia, principalmente com a expansão da inteligência artificial e do setor tecnológico”, afirma Rodrigues. Ele destaca que a energia nuclear volta a ser considerada, enquanto o gás natural se consolida como uma solução de transição.

No Brasil, a questão regulatória será determinante para atrair investimentos. “Temos potencial para liderar a transição energética, mas precisamos de estabilidade jurídica e um planejamento estratégico que integre diversas fontes”, reforça Rodrigues.

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