Síndrome da bexiga dolorosa. Por Dr. Rafael De Conti

As sociedades de urologia dos diversos países definem a síndrome da bexiga dolorosa (SBD) como uma sensação desagradável — dor, desconforto, pressão — relacionada à bexiga, com duração superior a seis semanas, na ausência de infecção ou outras causas identificáveis.

Acomete mais as mulheres do que os homens, e um estudo realizado nos Estados Unidos mostrou que ocorre em aproximadamente 200 para cada 100.000 mulheres.

E por que ela ocorre? Existem muitas teorias, mas a mais aceita é que ocorre uma falha na mucosa (membrana interna) da bexiga, deixando com que compostos tóxicos na nossa urina penetrem nos tecidos da bexiga e causem dor.

A dor é o sintoma predominante e piora com o enchimento da bexiga e melhora com o esvaziamento. Geralmente, ocorre na região acima do púbis, mas pode manifestar-se na uretra, vulva, vagina e reto. O aumento da frequência miccional é muito comum nesses pacientes, assim como a urgência em urinar, que ocorre em 85% dos pacientes. Muitos desses pacientes têm doenças psiquiátricas associadas, como a depressão, pânico e ansiedade.

Esta doença tem importante impacto na qualidade de vida, no desempenho profissional e nas relações pessoais.

O diagnóstico é clínico e de exclusão, devendo o médico urologista sempre excluir outras doenças mais frequentes antes de firmar este diagnóstico. As doenças mais comuns que devem ser excluídas são a cistite, cálculos urinários, prostatite, tuberculose urinária, endometriose, câncer de próstata e câncer da bexiga.

Sempre realizamos exame físico completo do abdome e pelve, e toque retal. Exames de urina são necessários, assim como exames de imagem e, muitas vezes, um exame neurológico da bexiga chamado urodinâmica, onde são colocados sensores dentro da bexiga do paciente. O exame de imagem mais realizado é o ultrassom. Muitas vezes, também realizamos uma endoscopia da bexiga, chamada cistoscopia, com biópsias de áreas alteradas dentro da bexiga.

TRATAMENTO: O tratamento depende do julgamento clínico do médico, da gravidade e de atender às necessidades do paciente, com decisões conjuntas entre o médico e o paciente. Incluem:

  • Manejo do estresse e métodos de relaxamento
  • Manejo psicológico
  • Fisioterapia
  • Modificação comportamental (evitar certos tipos de alimentos, restrição diária de líquidos e manejo do estresse com exercícios físicos e meditação)
  • Educação do paciente quanto à doença
  • Analgésicos e medicamentos usados dentro da bexiga
  • Cistoscopia com anestesia para distender a bexiga
  • Aplicação de botox no músculo da bexiga
  • Neuromodulação
  • Por último, cirurgias grandes com desvios do sistema urinário, que são irreversíveis e mórbidas.

O tratamento é chamado multimodal, com terapias associadas e multidisciplinar, com trabalhos compartilhados entre médicos, fisioterapeutas, psicólogos, psiquiatras, especialistas em dor, ginecologistas e gastroenterologistas.

Sempre deixamos claro para o paciente que é uma condição crônica, com episódios de melhora, outros de piora, e que o objetivo principal é atenuar os sintomas e melhorar a qualidade de vida, sendo que nem sempre é possível a remissão completa ou a cura da doença.

 

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