Bolsonaro no STF: desafio é não produzir (mais) provas contra si

Jair Bolsonaro é julgado pela Primeira Turma do STFNelson Jr./SCO/STF

Jair Bolsonaro e outros sete réus do chamado “núcleo crucial” da trama golpista serão ouvidos, a partir desta segunda-feira (9).

O primeiro a falar será o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência e delator da turma. Na fila estão os ex-ministros Augusto Heleno, Walter Braga Netto, Anderson Torres e Paulo Sergio Oliveira, o ex-chefe da Marinha Almir Garnier e o ex-chefe da Abin Alexandre Ramagem, hoje deputado federal. 

Segundo a denúncia da Procuradoria Geral da República, Cid foi o elo entre Bolsonaro e os grupos políticos e militares que elaboraram um plano, antes e depois das eleições, para evitar a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.

O início do julgamento foi destruidor, até aqui, para Bolsonaro.

Testemunhas de defesa e acusação confirmaram diversos encontros com o então presidente para debater um decreto para a instauração de um estado de sítio e até a anulação das eleições.

O depoimento mais demolidor até aqui foi o do brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, ex-comandante da Aeronáutica e um dos chefes das Forças Armadas que se reuniram com Bolsonaro para tratar do assunto.

Uma das ideias era prender os ministros do STF. Dois dos chefes militares avisaram que não topariam a empreitada. Um deles lembrou que Bolsonaro poderia ser preso se a proposta avançasse.

Não convencido, Bolsonaro decidiu vender a pauta para os subordinados dele, quebrando a hierarquia militar na tentativa de desossar as instituições democráticas.

Nos celulares de outros envolvidos, a conversa foi além. Em certo momento, o núcleo operacional tentou colocar em prática um plano para matar Lula e Geraldo Alckmin, presidente e o vice eleitos, e Alexandre de Moraes, então chefe do Tribunal Superior Eleitoral.

Agora os autores intelectuais da trama se sentarão frente a frente ao antigo alvo.

Bolsonaro passou quatro anos do mandato atacando as urnas eletrônicas – as mesmas que o elegeram em 2018, junto com os filhos e a bancada do PL, seu partido –, o Judiciário e Alexandre de Moraes, a quem chamou em público de canalha e prometeu que não acataria mais nenhuma decisão.

Poderá mostrar agora que mudou de ideia. Ou não.

Moraes montou um cenário como os de filme norte-americano para a fase dos interrogatórios.

Os réus ficaram perfilados, um do lado do outro, à frente da plateia e cara a cara com os juízes.

Tudo com transmissão ao vivo e a cores.

Após o depoimento de Mauro Cid, os outros réus serão ouvidos em ordem alfabética.

Bolsonaro será o sexto a ser interrogado.

Ele já chamou o julgamento de “inquisição” e mandou os seguidores ficarem de olho na TV.

Promete responder tudo o que lhe for perguntado.

Se vai seguir o script combinado com os advogados, Paulo Cunha Bueno e Celso Vilardi, é uma incógnita.

Das últimas vezes que falou só o que lhe dava na venta, produziu uma série de provas contra si. Elas estão nos registros de seus quatro anos na Presidência.

Às vésperas do interrogatório, Bolsonaro foi passear em São Paulo, onde ficou hospedado no Palácio dos Bandeirantes. Caminhou e tirou fotos com fãs na Faria Lima e em uma padaria nos Jardins.

A ideia era mostrar serenidade e algum apoio popular.

Antes de se sentar oficialmente no banco dos réus, ele já estava sob escrutínio. Era o julgamento da História.

*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG

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