O Ouribank, instituição financeira antes chamada Banco Ourinvest, desenvolveu um portal de interfaces de programação de aplicações (APIs, na sigla em inglês) para clientes com a solução da Sensedia, empresa paulista de tecnologia para gestão de APIs.
Pedro Guimarães, head de produtos do Ouribank, conta que o banco já tinha uma prateleira de APIs há algum tempo, pois começou a atuar com Banking as a Service (BaaS) ainda em 2019.
“Mas elas acabaram nascendo num formato que não tinha tanta estrutura. A gente até conectou ao longo do tempo outros parceiros, mas tínhamos uma prateleira menor e talvez um pouco mais desorganizada”, conta Guimarães.
Apesar da empresa ter muitas das suas soluções voltadas ao mercado de câmbio, com clientes como a Husky e a Nomad, ficou clara a necessidade de tornar essa posição um pouco mais evidente no mercado. O caminho encontrado foi deixar a plataforma mais robusta.
“Não só para alavancar aquilo que a gente já tinha sido um pouco pioneiro, mas também combinando a estratégia do banco de andar um pouco mais nesse público tecnológico, de se posicionar mais no contexto de BaaS, fintechs e oferecer soluções para provedores de pagamento internacional”, explica Guimarães.
Depois de uma estruturação que incluiu a migração de parte da infraestrutura para a nuvem, a empresa chegou à Sensedia e teve duas ondas de trabalho entre março e julho deste ano com aproximadamente 50 pessoas envolvidas, sendo 90% do time interno.
A primeira fase foi focada em colocar tudo no ar o mais rápido possível usando a solução da fornecedora sem muitas customizações.
“Essa parte que você vê ali no portal, das páginas, aquilo que tem espaço para documentação, mais a gestão. Toda a parte de chaves, toda a parte de middleware que a gente chama, que faz a comunicação com as APIs internas, isso tudo é da Sensedia”, detalha Guimarães.
Na segunda onda, a missão foi rever uma parte das APIs, simplificar a forma que elas funcionam e trazer mais conteúdo.
“Essa foi a etapa para garantir que a gente tenha toda a informação básica dessas APIs, que todas elas estão preenchidas, documentadas, arrumar toda a prateleira de produtos que estava dispersa, colocar num lugar só e organizar. Com isso, eu falo de câmbio, de pagamento, de cadastro”, explica Guimarães.
Nesta fase, o time garantiu que todas as APIs estivessem em português e inglês. Além disso, certificou que todas as informações referentes a todos os tipos de erro estivessem preenchidas, bem como presença das explicações sobre cada parâmetro das APIs.
“Tínhamos muita dificuldade, por exemplo, para trabalhar com um fornecedor estrangeiro, pois não conseguíamos entregar documentações em inglês. Essas coisas simples restringiam muito, tiravam muito da credibilidade que a gente precisava passar”, conta Guimarães.
O Ouribank tem um pequeno time de pesquisa e usou os seus próprios desenvolvedores para entender os pontos de melhoria. Com muitos desses feedbacks, direcionou conteúdo no portal para entregar a versão 2.
“Os próprios desenvolvedores do banco são clientes de API todo dia. Então eles também tinham muito para contribuir sobre melhores práticas, coisas que são importantes dentro da experiência de um desenvolvedor, de olhar para aquilo e reconhecer facilmente, poder desenvolver o trabalho com confiança e qualidade”, destaca Guimarães.
Depois disso, a companhia vem trabalhando para “engordar” a oferta de produtos. Recentemente, lançou uma solução de conta para instituições financeiras no exterior e outros provedores de pagamento, viabilizando a essas empresas o acesso ao Pix.
Agora, o time está desenvolvendo uma terceira versão do portal com foco em trazer mais orientação, colocando todas as informações em contexto.
“Quando chamamos uma empresa para vir trabalhar com a gente, tem um monte de pequenas dúvidas no dia-a-dia que são até funcionais, não são nem técnicas. É mais para o cliente entender o passo-a-passo de como ele usa toda aquela tecnicidade que estamos entregando”, explica Guimarães.
Para operar usando a conta para fazer um fluxo de pagamento, por exemplo, o cliente precisa seguir toda uma jornada que mistura câmbio, pagamento e criação de chaves Pix. A versão 3 deve ficar pronta até o final deste ano.
“A gente constroi muito disso com os próprios clientes. Na medida em que vamos percebendo as dificuldades, vamos naturalmente tentando construir guias para aquelas situações já com uma pré-preparação para levar isso depois para o portal”, conta Guimarães.
Com a V3, o head acredita que o portal chegará a 80% ou 90% da sua capacidade. Depois disso, até poderão existir versões 4 e 5 ao longo do tempo, mas o trabalho não precisará andar na mesma velocidade.
“A gente também precisa cuidar de outros pilares, investir em todo o entorno. Então provavelmente vamos continuar as partes de geração e gestão das credenciais, de formalização e de sandbox (um ambiente controlado onde os desenvolvedores testam APIs sem afetar sistemas)”, destaca Guimarães.
O diretor ressalta que o portal é “só a ponta do iceberg”, pois existem muitas coisas em torno da API e tudo precisa funcionar de uma maneira suave para o parceiro.
“Se o cara vem aqui e o sandbox, por algum motivo, não está no ar, ele fala que não funciona, que nosso serviço é ruim. Então a gente precisa investir nesses outros pontos para garantir que a experiência como um todo seja de qualidade”, pontua Guimarães.
Para o executivo, a parte do portal é importante para que o processo de integração seja simples e o cliente tenha um custo relativamente baixo.
“Porque quanto mais organizado, mais fácil para nós e mais fácil para ele. Mas, no final do dia, o que eu estou mais preocupado nesse momento é ter lá toda a prateleira de serviços disponível. Isso permite alavancar mais negócios, chegar em mais gente que queira trabalhar conosco”, destaca Guimarães.
Em feiras no exterior, o Ouribank tem notado que o portal gera mais oportunidades de interação com empresas de pagamento que querem se conectar ao Brasil de alguma forma. Pelo menos quatro já se tornaram clientes e estão em processo de integração, mas o banco ainda não pode abrir seus nomes.
“Várias das conversas que a gente teve viraram uma oportunidade efetiva por causa do portal. No modus operandi antigo, como o que tínhamos de documentação, de solução, a chance de ter convertido esses caras em clientes era zero”, afirma Guimarães.
Com mais de 40 anos no mercado, o Ouribank tem um modelo de BaaS com uma cesta de produtos que inclui onboarding, pix, câmbio e gateway de pagamentos. Através do serviço, o banco já atendeu mais de 500 mil clientes e realizou mais de 1 milhão de operações de câmbio. Só em 2023, foram mais de US$ 30 bilhões transacionados.