Quando Paraguaios e Bolivianos se enfrentaram nos céus da América do Sul

Guerra do Chaco

Apesar de oficialmente reconhecida como tendo duração entre 1932-1935, a Guerra do Chaco teve um prólogo desconhecido, em 1928, e, desde seu primeiro uso, a aviação demonstrou ser a arma mais adaptada à natureza da guerra na região. Devido a impossibilidade de Paraguaios e Bolivianos em cobrir o Chaco em sua totalidade com forças terrestres, fora decidido por ambas as nações a concentração de forças em pontos fortes, mais especialmente, fortes e fortins. 

Como havia se provado na Primeira Guerra Mundial, o ataque a posições fortificadas havia se transformado em uma tática perfeita para o gasto inútil de vidas, com ataques a peito aberto sucumbindo facilmente perante ao poder da metralhadora e artilharia. Assim, o avião se tornara a arma ideal para tais operações, como o único meio capaz de transpor as defesas baseadas em terra de um inimigo.

Outro detalhe que acentua a importância do avião no Chaco era que ele se transformara na única arma capaz de surpreender o adversário: na vastidão da região, composta basicamente por estepes e pradarias, não havia onde se esconder, seja para preparar um ataque ou fazer um reconhecimento. Era impossível manter contato com o adversário sem ter seus próprios movimentos observados, o que basicamente negava um aspecto crucial do reconhecimento.

Guerra dos Chacos
Dois Potez 25A.2 paraguaios realizam exercícios de guerra, em 1931. Essas aeronaves prestaram um serviço inestimável às forças guaranis nos primeiros meses de conflito. Créditos: Gonzalo Palau

 

Assim, os aviões foram elevados de papel alegórico de uma força armada a um mecanismo essencial no desenvolvimento de operações militares. Em 15 de dezembro de 1928, os Bolivianos realizaram o primeiro uso comprovado da aviação militar no Chaco, quando um Breguet XIX e um Fokker CVB foram destacados para uma missão de retaliação contra forças paraguaias em Bahía Negra. Apesar de o Breguet retornar para a base antes de cumprir sua missão (devido a problemas mecânicos), o Fokker continuou com seu curso, conseguindo despejar suas bombas sobre os alvos marcados, retornando à salvo posteriormente a sua base de partida.

Esse primeiro episódio promoveu uma corrida armamentista aérea em ambas as nações, que somente depois desta incursão, se deram conta da importância da arma aérea para o sucesso de qualquer operação no Chaco. Tal missão também demonstrou o estado de despreparo das Forças Aéreas Paraguaias e Bolivianas em caso de guerra aérea, e ambos os países não tardaram a se reforçar com armamentos no interlúdio entre esse primeiro choque de 1928, para aquele muito mais grave que aconteceria a partir de 1932.

ANO DE 1932

 

O cessar-fogo de 1928 foi apenas um adiamento em uma situação que estava se demonstrando insustentável nos campos diplomático e político. Tanto Bolívia quanto Paraguai se negavam a restabelecer ligações, enquanto que a maquinaria militar de ambos os países entrava em pleno vapor com vistas de um conflito que se tornava agora inevitável. 

A primeira a tomar medidas mais concretas no intuito de fortalecer seu braço aéreo foi o Paraguai. As autoridades militares do país guarani, assustadas depois do raid boliviano de 15 de dezembro, incumbiram ao capitão Vicente Almandos Almonacid a tarefa de reorganizar a arma aérea paraguaia, resguardando os céus praticamente indefesos da nação. O primeiro resultado dessa corrida armamentista aérea foram seis aeronaves de reconhecimento armado Potez 25A.2, encomendados diretamente à fabricante francesa já no final de 1928. Logo no ano seguinte, se juntaram aos Potez os primeiros caças razoavelmente modernos do Paraguai: um lote de sete Wibault 73C.1, equipados com duas metralhadoras sincronizadas Madsen de 7,65mm.

Tais incorporações permitiram que a “Aviación en Campaña”, como ficaria conhecida a Arma Aérea Paraguaia durante o conflito, pudesse alinhar as seguintes unidades  no começo de 1932: a ‘Primera Escuadrilla de Caza’, equipada com os Wibault; a ‘Primera Escuadrilla de Reconocimiento y Bombardeo’, equipada com os Potez; a ‘Escuela de Aviación Militar’, que contava com uma peculiar mistura de aeronaves da Consolidated, Hanriot e Morane; a ‘Escuadrilla de Transporte’, que tinha a disposição aeronaves Junkers, De Havilland e Breda; além da ‘Escuela Aeronaval’, equipada com hidroaviões de fabricação italiana, como os Savoia-Marchetti, CANT e Macchi.

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Wibaults da ‘Primera Escuadrilla de Caza’ na base aérea de Isla Poí, em fins de 32. Com a chegada dos Fiats em 1933, essas aeronaves seriam relegadas a papeis de segunda linha, como a defesa aérea de Assunção. Créditos: Museo Militar del MDN

 

O “Cuerpo Aéreo Boliviano”, por outro lado, não poderia deixar seu inimigo ganhar a dianteira no estabelecimento de uma força aérea orgânica e concreta. Apesar de ter aparentemente uma boa vantagem em relação ao seu inimigo no número de aparelhos, mesmo após as compras feitas pelo Paraguai nos anos de 1928/29, os militares bolivianos tinham consciência de que tal vantagem existia somente existia no papel.

Dos cinco Fokker CVB e sete Breguet XIX A.2 comprados pelo país durante os anos vinte, apenas dois e três de cada modelo, respectivamente, sobravam nos arsenais do exército no começo do conflito, em condições bastante precárias de voo. Por sorte, o Coronel Bernardino Bilbao, chefe do ‘Cuerpo Aéreo’, não tinha ilusões sobre essa força, e já no final de 1929, a unidade já se encontrava com substitutos para essas velhas aeronaves.

Ao estourar da guerra, em setembro de 32, o “Cuerpo Aéreo Boliviano” se organizava da seguinte maneira: a ‘Escuadrilla de Caza’, com quatro Vickers Type 143; a ‘Escuadrilla de Reconocimiento y Bombardeo’, equipada com cinco Vickers Vespa Mk.III Type 149 e três Breguet XIX A.2; e a ‘Escuadrilla de Entrenamiento’, com um punhado de treinadores Caudron C.97 e Vickers Type 155 “Vendace III”.

Com essas forças, os contendentes partiram para a batalha. Os primeiros movimentos aéreos no Chaco começaram a se desenvolver em junho de 1932, com o Corpo Aéreo Boliviano estabelecendo sua primeira base aérea avançada na região, em Muñoz, com uma segunda base em Villa Montes.

Apesar do conflito não ter ainda se transformado em guerra generalizada naquele ponto, os primeiros atos de hostilidade já se desenvolviam no Chaco. Aviões bolivianos cruzavam regularmente o espaço aéreo paraguaio e, em 15 de junho, acontece a primeira baixa na guerra aérea na região: um Vickers Vespa boliviano é abatido por uma combinação de fogo antiaéreo e de armas portáteis, caindo dentro do território paraguaio.

Tal ato bélico promoveu o deslocamento das unidades aéreas paraguaias para a zona, estabelecendo a “Aviación en Campaña”, no começo de agosto, dois campos aéreos avançados, que serviriam como as principais bases da unidade durante boa parte do conflito: o primeiro se localizava perto de Puerto Casado, recebendo o nome apropriado de Isla Taguató (Ilha das Águias, em português); a segunda base se localizava em Isla Poí, a leste de Neuland.

Guerra dos Chacos
Oficiais paraguaios inspecionam cuidadosamente um Potez 25 TOE, comprado em 1932, mas que entraria em operação somente no começo do ano seguinte. Créditos: Victor Meden

 

À época da eclosão da guerra, com o início da Batalha de Boquerón, tanto a aviação paraguaia quanto boliviana já haviam realizado uma dezena de missões ofensivas, mas sem nunca encontrar seus semelhantes no ar. Isso mudaria em 9 de setembro, quando finalmente os pilotos dos dois lados puderam medir forças pela primeira vez. Dois Potez 25A.2s paraguaios se depararam com dois Vickers Scouts e um Vespa bolivianos nas cercanias de Boquerón. A escaramuça foi selvagem, com quase todos os aviões envolvidos sendo danificados no combate – apesar disso, todas as máquinas conseguiram retornar às suas bases de origem.

Ao longo do final de 1932, outros quatro outros combates aéreos entre aeronaves bolivianas e paraguaias foram registradas, com o mais importante deles ocorrendo em 4 de dezembro, quando um Vickers Scout, pilotado pelo Capitão Rafael Pabón, abateu um Potez 25A.2 paraguaio, nas cercanias de Saavedra. Essa foi o primeiro abate aéreo da Guerra do Chaco; mas, não seria o último.

 

ANO DE 1933

 

1933 seria chave para a compreensão do desenvolvimento da guerra aérea sobre o Chaco, visto que seria neste ano que ambos os lados gastariam consideráveis fundos para reforçar suas forças aéreas, no intuito de ganhar definitivamente o controle sobre os céus da região.

Pelo lado Paraguaio, oito Potez 25 TOE, entregues novos pela firma francesa no final de 1932, foram finalmente integrados a “Aviación en Campaña” no começo de 1933, formando a ‘Segunda Escuadrilla de Reconocimiento y Bombardeo’, que, junto com seus irmãos mais velhos da ‘Primera’, formariam a espinha dorsal da armada aérea paraguaia durante o resto da guerra.

No entanto, essa não seria a adição mais poderosa ao arsenal paraguaio para 1933, sendo os Potez ofuscados pelos moderníssimos caças Fiat C.R.20bis, incorporados para complementar e, posteriormente, substituir os veneráveis Wibault como os caças de primeira linha da aviação paraguaia. Um total de cinco dessas aeronaves foram compradas, formando a ‘Undécima Escuadrilla de Caza’, conhecida informalmente como “Los Indios”. Apenas a nata dos pilotos paraguaios foi escolhida para integrar as fileiras do novo esquadrão.

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Os Fiat C.R.20bis se transformaram nos grandes símbolos da arma aérea paraguaia durante a guerra do Chaco. Créditos: Antonio Luis Sapienza

 

A Bolívia também se reforçara consideravelmente no período entre 1932-1933, com seu braço aéreo crescendo de maneira exponencial. A primeira compra importante do país andino durante a guerra em assuntos relacionados a aviação seria um lote de nove Curtiss-Wright Hawk II, dos modelos 35A (8) e 65 Sea Hawk (1), que foram entregues no final de 1932.

Apesar disso, tais aeronaves entraram em operação somente no segundo trimestre de 1933, devido à questão de adestramento de pilotos e tripulações de terra. Os Hawk II eram aeronaves espetaculares, sendo naquele momento alguns dos aviões mais modernos a equipar uma força aérea latina. Sua aparição nos céus do Chaco certamente foi uma surpresa desagradável para os pilotos paraguaios, que se viam agora à mercê do veloz caça boliviano.

Mas outra surpresa indigesta também esperava os paraguaios em 1933: os Curtiss-Wright CW-C14R Osprey comprados pelo “Cuerpo Aéreo Boliviano”. 20 aeronaves deste tipo chegaram a Bolívia no começo de 1933, se transformando essa, por sinal, a maior encomenda de aeronaves feita durante a guerra (e uma das maiores da América do Sul durante a época).

Os Osprey poderiam não ser as aeronaves mais rápidas, manobráveis ou bem armadas do conflito, mas certamente compensavam essas deficiências sendo as mais confiáveis, robustas e versáteis de ambas as forças. Os CW-C14R foram empregados em uma infinidade de missões, que iam desde bombardeio, apoio aéreo cerrado, reconhecimento e até caça – isso em uma época em que aviões de múltiplo emprego eram ainda uma coisa do futuro.

A medida que cada uma das novas unidades aéreas entrava em operação, de um lado ou outro da linha de frente, havia uma alteração na balança do poderio aéreo sobre o Chaco. Ambos os lados estavam desejosos de testar suas novas máquinas, e assim que a oportunidade surgia, novas asas estavam por voar sobre a região.

Em fevereiro de 1933, os Osprey bolivianos já partiam para suas primeiras missões bélicas, principalmente na sessão do front que corria desde Toledo até Nanawa. No entanto, no dia 25 do mesmo mês, a unidade de Ospreys perdia seu primeiro membro, quando um dos CW-C14R foi abatido por fogo antiaéreo perto do Fortín Toledo.

Em contrapartida, os primeiros Fiat C.R.20bis paraguaios pousavam no campo aéreo avançado de Isla Poí, no final de maio, estando operacionais oficialmente em meados de junho. Seria nessa época que as operações aéreas no Chaco voltariam a se intensificar, em concomitante com as preparações para a grande ofensiva de inverno boliviana sobre Nanawa.

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Entregues no começo de 1933 para as forças bolivianas, três Junkers Ju52/3m poderiam ter formado o coração de uma força estratégica de ataque, se convertidos para o perfil de bombardeiros. Para a sorte dos paraguaios, os bolivianos tinham outros planos, usando as ‘Tante Ju’ para operações de evacuação e transporte. Créditos: Desconhecido (colorizada pelo Autor)

 

Os mais interessantes acontecimentos deste período foram os combates aéreos de 11 e 12 de junho. O primeiro, uma pequena escaramuça entre três Fiats e quatro Ospreys, terminou em empate, depois que os bolivianos, surpreendidos pelos ágeis caças paraguaios, fugiram velozmente para território amigo.

No entanto, a batalha do dia seguinte foi uma outra história, envolvendo nada menos que 12 aeronaves, sobre o QG da “Aviación en Campaña” em Isla Poí. Originalmente planejada para ser uma incursão surpresa sobre a central nervosa da arma aérea paraguaia no Chaco, foram na realidade os bolivianos os emboscados no combate.

Avisados sobre a aproximação das aeronaves bolivianas, três Fiats paraguaios montaram uma armadilha sobre os cinco Osprey, quatro Hawk II e um Vickers Scout que se aproximavam para bombardear a base, com a simples incursão se degenerando em um intenso combate aéreo. Um dos Fiat foi seriamente danificado na batalha, sendo submetido a um pouso forçado que matou o seu piloto. Em compensação, um dos Hawk II também saiu avariado da escaramuça – mas esse retornou salvo a sua base de origem.

Pegos de surpresa nas duas ocasiões, os bolivianos posteriormente raramente se aventurariam tão dentro das linhas inimigas. Isso deixou que a aviação paraguaia conquistasse, pela primeira vez, a supremacia nos céus da região, com os Potez e Fiats sendo as visões mais comuns sobre os céus do front durante quase toda a segunda metade de 1933. 

PERÍODO DE 1934/1935

O avanço constante das forças paraguaias pelo Chaco no verão de 1933/1934 fez com que o alto comando das forças bolivianas entrasse em modo de alerta, ativando todos os recursos possíveis para parar a arremetida do exército guaraní pela região.

Obviamente, as unidades aéreas bolivianas faziam parte deste plano de contingência, e, mesmo com os dois lados fortemente empenhados em apoiar suas forças terrestres nesse período, nenhum combate aéreo foi registrado ao longo dos primeiros meses de 1934. No entanto, junho viu um ressurgimento das batalhas nos céus do Chaco, com quatro combates aéreos registrados ao longo do mês.

O destaque fica para o embate de 26 de junho, quando 3 Potez 25 TOE paraguaios resistiram a um ataque feito por um Osprey e um Hawk II bolivianos, perto de El Carmen. As aeronaves paraguaias saíram ilesas do combate, enquanto o Osprey boliviano foi levemente avariado na batalha. O Hawk, por outro lado, também saiu sem danos da contenda.

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Um Curtiss Hawk II sobre o Chaco em 1934. Essas aeronaves, atuando como caças-bombardeiros, fizeram de tudo para tentar frear os devastadores contra-ataques paraguaios de 1933-34. Créditos: Ramiro Molina Alanes

 

Julho e Agosto também tiveram sua cota de combates pesados entre aeronaves nos céus do Chaco, à medida que forças paraguaias sitiavam e conquistavam uma a uma as posições defensivas bolivianas. Em 8 de julho, quatro Potez paraguaios e uma formação mista boliviana, composta por dois Osprey e dois Hawk II, se chocaram sobre Fortín Ballivian, fortificação escorada sobre o rio Pilcomayo.

No selvagem combate que se desenvolveu, todos os Potez paraguaios foram danificados – mas quem se deu pior foram novamente os bolivianos, que perderam um dos Osprey na batalha, além de ter a outra aeronave do mesmo tipo envolvida na luta retornado a base seriamente danificada. Um dos Hawk II também foi danificado, enquanto o outro escapou de maiores danos.

Mas a perda desta aeronave não seria o pior choque para o “Cuerpo Aéreo Boliviano” neste período, visto que em 12 de agosto, Rafael Pabón, um dos líderes e mais respeitados aviadores da unidade boliviana, foi abatido em combate aéreo contra um Potez 25, perto de Fortín Madrejon.

Em setembro, os combates aéreos diminuíram novamente de intensidade, com um punhado de pequenas escaramuças acontecendo em algumas partes do front, à medida que o exército paraguaio se movia cada vez mais para o norte, em direção a fronteira entre Bolívia e Paraguai. Como destaque para este mês, fica a introdução de novas aeronaves no arsenal boliviano: nove aeronaves do tipo Curtiss “Cyclone” Falcon, que foram compradas para substituir as perdas até o momento, e dois Junkers K43h, que formariam a primeira unidade de cooperação com o exército dentro das forças armadas bolivianas, conhecida como “Punta de Alas”.

Dezembro, por outro lado, viu um novo crescimento na atividade aérea, à medida que a situação das forças armadas bolivianas se deteriorava rapidamente. As unidades de terra se encontravam em frangalhos, devido às sucessivas derrotas frente às mais hábeis e melhor lideradas forças paraguaias. Tais revezes iam se acumulando no moral da tropa e, apenas a aviação, com seus parcos recursos, ainda se mantinha com espírito razoavelmente intacto depois de dois anos de luta.

Guerra dos Chacos
Nem aeronaves de construção robusta, como os Curtiss “Cyclone” Falcon, aguentavam por muito tempo as condições severas da guerra no Chaco. Entre sua entrada em serviço (1934) e o armistício (1935), apenas cinco dos nove Falcon originais restavam no plantel do “Cuerpo Aéreo Boliviano”. Créditos: Antonio Luis Sapienza

 

Apesar de o mês começar bem para o “Cuerpo Aéreo Boliviano”, com um abate de um Potez por dois Hawk II em 11 de dezembro, as semanas finais tiveram um tom melancólico, após a perda de um precioso Hawk II para fogo antiaéreo em 26 de Dezembro.

A última grande tentativa boliviana de tentar recobrar o controle dos céus durante a guerra aconteceu logo nas primeiras semanas de 1935, quando um raid composto por onze aeronaves (três Junkers K43h, três Hawk II, dois Ospreys, dois Falcon e um Vickers Scout) tentou atacar alvos estratégicos dentro das linhas paraguaias, tendo como objetivo secundário perturbar as atividades das unidades aéreas paraguaias. Obviamente, tal intento fracassou, e os paraguaios puderam se vangloriar de ter o controle quase absoluto dos céus durante o restante do conflito.

 

BALANÇO DE OPERAÇÕES

 

A estratégia paraguaia desenvolvida logo no começo da guerra, que se baseava inicialmente em conter as forças bolivianas para depois repeli-las através de golpes certeiros e fulminantes, foi a chave para a vitória das forças guaranis depois de quatro anos de conflito na zona do Chaco. Utilizando táticas modernas, adaptadas às características de um conflito no século XXI, o exército paraguaio conseguiu repelir o invasor, reclamando para si oficialmente o Chaco como zona de influência guarani.

Um dos fatores que mais contribuíram para o triunfo das forças paraguaias foi o papel que seus líderes viam na aviação, postos em prática primeiramente por Vicente Almandos Almonacid e depois, pelo tenente-comandante José Bozzano, líderes da chefatura da aeronáutica paraguaia durante os anos de guerra.

Por exemplo, para os bolivianos o avião era apenas uma arma alegórica no desenvolvimento de um combate, onde a verdadeira importância se encontrava nos movimentos em terra; em contrapartida, para os paraguaios, a aviação era a chave para o desenvolvimento das batalhas, e essencial para decretar o sucesso ou fracasso de uma operação.

Além do mais, para a alta cúpula militar guarani, a aviação significava um meio pelo qual vidas valiosas de soldados poderiam ser poupadas, com a inteligência coletada por aviões de reconhecimento se provando essencial no curso de várias manobras bem-sucedidas desempenhadas pelo exército paraguaio durante a guerra.

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Apesar de lutarem quase toda a guerra em inferioridade de números e aviões, os pilotos paraguaios compensavam essas desvantagens com táticas arrojadas de combate, além de uma boa dose de disciplina, quebrando facilmente as formações bolivianas. Créditos: Museo Militar del MDN (colorizada pelo Autor)

 

No lado boliviano, apesar da desastrosa derrota, a aviação talvez tenha sido o único braço das forças armadas do país andino que saiu com sua imagem fortalecida depois do conflito, tendo lutado valorosamente contra um adversário cônscio de suas capacidades. Apesar disso, não se deve negar as graves falhas no alto comando da aviação boliviana, que apesar de ter quase duas vezes mais aeronaves que os seus adversários durante grande parte do conflito, jamais conseguiu estabelecer superioridade aérea clara sobre qualquer parte front.

Ao fim, resta fazer um balanço das perdas de ambos os lados, no que tange às forças aéreas. Para os Paraguaios, as perdas seriam (somadas aquelas decorridas de acidentes e em combate): sete Potez (modelos A.2 e TOE), três Fiat C.R.20bis, dois Wibault 73C.1, um DH60 Gipsy Moth, um Fleet-2 e um Macchi M-18A.R.

As perdas bolivianas durante o período entre 1932-35 foram ainda piores do que aqueles sofridas por seus adversários: doze Osprey CW-C14R, quatro Curtiss “Cyclone” Falcon, quatro Curtiss Hawk II, três Vickers (Scout) Type 143, dois Vickers Type 149 “Vespa III”, um Junkers K 43h, um Junkers W 34ci, um Ford Trimotor e um Vickers Type 155 “Vendace III”.

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