Nego Di quebra silêncio sobre condenação de quase 12 anos: ‘Fui enganado’

Condenado na última terça-feira (10) a 11 anos e dez meses de prisão por estelionato, o comediante Dilson Alves da Silva Neto, mais conhecido como Nego Di, quebrou o silêncio e alegou que também foi vítima do sócio Anderson Bonetti, a quem chamou de “estelionatário profissional”. “Eu também fui enganado”, disse o ex-BBB.

Ele conversou com Roberto Cabrini para uma reportagem especial do Domingo Espetacular, da Record, exibida neste domingo (15). Na entrevista, tentou se esquivar da culpa dos negócios escusos da loja virtual Tadizuera, que vendia produtos e não os entregava. De acordo com a Justiça, mais de 370 clientes foram enganados.

“Eu tenho consciência de que, através de mim, um estelionatário acabou enganando pessoas. E eu gostaria de dizer que sinto a dor dessas pessoas porque eu vim do mesmo lugar dessas pessoas”, afirmou Nego Di, que fez questão de ressaltar sua origem humilde na entrevista.

“Eu comecei a minha vida no fundo do poço. Sou filho único, de mãe solteira. Morei a vida inteira de aluguel, fui despejado várias vezes. Consegui ascender e, quando eu achei que estava no meu melhor momento, e realmente estava, a minha vida desabou”, apontou ele, citando sua prisão no ano passado.

“Eu estava sendo transportado numa viatura, algemado, vendo o mundo pelo vidro de um camburão. Pra mim, aquilo foi uma vergonha. Eu fui para o pior lugar que o ser humano pode ir, que é a prisão. Pior que isso, acho que só o cemitério”, afirmou o comediante, que emagreceu 33 quilos enquanto estava preso. “Eu cheguei a ficar 72 horas seguidas sem comer nada. Eu estava deprimido, tinha que tomar remédio pra dormir e remédio pra acordar.”

Questionado sobre a loja Tadizuera, ele foi explícito ao afirmar que não era sua ideia enganar os clientes. “Não faria sentido eu acordar um dia e decidir ‘vou dar um golpe nos meus seguidores’, isso não existe.”

“A loja não era minha. Eu confiei numa pessoa que eu não conhecia direito, ele é um estelionatário profissional, não dá golpezinho. Eu queria que as pessoas comprassem porque eu também acreditava nele”, se defendeu Dilson, que em suas postagens afirmava ser dono da loja. “Ele tinha feito uma proposta para que eu fosse sócio dele, mas nunca me mandava os contratos.”

“Quando eu descobri que era um golpe, eu coloquei a cara dele nas redes, porque ninguém conhecia, ele não era uma pessoa pública como eu. Eu botei a cara dele, falei onde ele morava, expus a esposa dele, aí ele parou de me responder. Todo mundo me chamou de golpista, de estelionatário, e três anos depois ele vem pedir desculpas e falar que foi sem querer?”

Ele afirmou ter crises de consciência pelas vítimas. “Isso é um fantasma que me acompanha desde 2022, quando se deu o fato da loja. Eu não consigo não pensar nisso quando estou na rua. Quando uma pessoa me olha, eu não sei se é um fã, se é alguém que comprou um produto… Quando alguém quer me ofender, me chama de estelionatário e de ex-presidiário. Eu preciso ser tratado com Justiça”, sentenciou.

“Eu me arrependo de ter feito um negócio com ele, de ter confiado nessa pessoa. Eu estava sendo enganado! Mas eu não sabia que eu estava sendo enganado também. E isso começou a crescer”, disse ele, que afirmou ter devolvido o dinheiro para todas as pessoas prejudicadas. “Enquanto eu estava preso, todas as pessoas que estão no processo foram ressarcidas, só uma pessoa que não quis receber.”

Nego Di ainda falou sobre sua pena de 11 anos e oito meses. “Eu vou sair [da cadeia] depois dos meus 40. Eu perco uma parte da minha vida por um crime que eu não cometi. Tem dias que eu acordo e penso: ‘Quando esse pesadelo vai acabar?’. Hoje eu vivo praticamente de nada, tive minhas contas bloqueadas, o restaurante que eu tinha fechou, estou impedido de aparecer nas redes sociais. Quem me sustenta é minha esposa, que é microinfluenciadora e faz algumas publicidades.”

Doação mentirosa para as enchentes

Cabrini também questionou Nego Di sobre a suposta doação de R$ 1 milhão que ele alegou ter feito às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul no ano passado –depois, as movimentações de suas contas apontaram que ele havia doado apenas R$ 100.

“Essa história precisa ser contextualizada. Porque ela causou mais impacto na minha vida do que a minha prisão. Me processaram por uso de documentos falsos, sendo que não existe alguém lesado por isso”, se esquivou ele, que explicou: “Teve uma ideia de criar um comprovante simbólico de R$ 1 milhão. Eu doei metade desse valor e acordei de pagar o resto parcelado”.

“Pega mal pra mim, eu admito, mas do jeito que o Estado estava, com pessoas embaixo d’água, perdendo a dignidade, a vida… Em uma semana, a vaquinha saiu de R$ 50 milhões para R$ 80 milhões. Pode ser que eu tenha me precipitado, mas foi uma mentira que fez uma diferença no Estado. E eu não fiz da minha cabeça, eu conversei com os organizadores da vaquinha, e eles aceitaram”, justificou o ex-BBB.

 

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