Quadrilha junina de Maceió aborda violência contra a mulher em suas apresentações


Com o tema “Até que a morte nos separe”, a Quadrilha Amanhecer no Sertão conta a história da personagem Maria das Dores e reforça o papel da cultura popular como instrumento de conscientização. Quadrilha junina de Maceió aborda violência contra a mulher em suas apresentações
A Quadrilha Amanhecer no Sertão, uma das mais tradicionais de Alagoas, decidiu usar o brilho das festas juninas para falar sobre uma pauta urgente: a violência contra a mulher. Para as apresentações desse ano, o grupo apresenta o tema “Até que a morte nos separe”, inspirado em histórias reais de mulheres vítimas de agressão. A ideia é provocar reflexão onde passar.
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O g1 conversou com Bruno Melo, um dos diretores da quadrilha. Segundo ele, a ideia nasceu do desejo de fazer a festa dialogar com temas que atravessam a vida de quem está do outro lado da arquibancada.
“A cultura popular também é espaço de denúncia e transformação. Mesmo em meio à alegria, é importante lembrar que muitas mulheres ainda não podem celebrar em segurança”, explica Bruno.
A personagem central, Maria das Dores, foi construída a partir de relatos reais coletados pela equipe desde a pandemia, período em que os índices de violência doméstica subiram no país. A proposta, segundo Bruno, é não apenas retratar a dor, mas também a força feminina e o apoio coletivo, fatores que podem romper o ciclo de silenciamento e medo.
Um trecho da encenação foi compartilhado por diversos perfis que atuam na proteção das vítimas de violência, e viralizou. Neste domingo (15), a Ministra das Mulheres, Márcia Lopes, também publicou o vídeo em suas redes sociais. A expectativa da quadrilha é que o espetáculo provoque mais do que aplausos.
“Queremos que o público se emocione, se reconheça e, acima de tudo, reflita. Sabemos que estamos tocando em uma ferida, e por isso gostaríamos que o espetáculo fosse capaz de provocar empatia, escuta e consciência. Além, claro, de levar a informação de como efetuar a denúncia em casos de violência”, reforçou.
Desde que o tema foi anunciado, a quadrilha começou a receber depoimentos em suas redes sociais. Alguns emocionantes, como o de uma mulher que compartilhou o drama que enfrenta em casa.
“Muitas pessoas tentaram acolhê-la nos comentários, incentivando a denunciar e a não se tornar mais uma entre as tantas vítimas de feminicídio”, disse Bruno.
O diretor disse ainda que o grupo sabe que esse tipo de espetáculo, que amplia a tradição das quadrilhas, ainda gera desconfiança e críticas, e nem todos recebem bem essa mistura de festa, teatro e denúncia.
“Na mesma proporção em que nossa mensagem impacta e gera identificação, também ouvimos quem diga que esse ‘não é o tipo de coisa’ que uma quadrilha junina deveria fazer. Mas seguimos firmes, porque entendemos que cultura também é lugar de confronto, de desconforto e de transformação”, explicou.
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A Amanhecer do Sertão, assim como outras quadrilhas de Alagoas, já começou a maratona de apresentações públicas de privadas, além das participações em diversos concursos de quadrilha que acontecem nessa época do ano no Nordeste.
Para denunciar casos de violência, as vítimas podem entrar em contato com a Central de Atendimento à Mulher Ligue 180. A ligação é gratuita e o serviço funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana. É possível fazer a ligação de qualquer lugar do Brasil. Em casos de emergência, deve ser acionada a Polícia Militar, por meio do 190. Em Alagoas, o telefone da Patrulha Maria da Penha é o (82) 98733-9112.
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