A partir de qual idade a criança pode usar aparelho ortodôntico?

A ideia antiga de que o uso de aparelho só começa na adolescência já está ultrapassada. Cada vez mais, as crianças iniciam o tratamento ortodôntico mais cedo — e, muitas vezes, antes mesmo de perder todos os dentes de leite.

Mas em que momento essa intervenção é realmente necessária? E quais são os sinais de que a posição dos dentes dos pequenos não está adequada? A ortodontista Daniela Kimaid Schroeder, mestre pela UFRJ, que dedica o seu trabalho ao atendimento de crianças, esclareceu à CRESCER as principais dúvidas sobre o assunto.

Quando desconfiar que a criança precisa de aparelho?
 
Segundo a especialista, nem todas as crianças precisam usar aparelho, mas há alguns sinais que indicam a necessidade. “Os pais podem observar se a arcada superior está por dentro da inferior, se o queixo está mais para frente ou para trás do que o normal ou ainda se está desviado para algum dos lados”, explica Daniela.

Espaços exagerados entre os dentes ou a falta dele, bruxismo, dificuldade para respirar pelo nariz, alterações na mastigação, fala ou deglutição também são indicativos. “Hábitos como chupar chupeta ou dedo além dos 4 anos, ter vergonha dos dentes por motivos estéticos e até situações de bullying também devem ser levados em consideração”, pontua.

Pode usar aparelho antes de trocar todos os dentes?
 
Segundo a cirurgiã-dentista Patricia Georgevich, presidente da Câmara Técnica de Odontopediatria do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) e Ronaldo Tuma, presidente da Câmara Técnica de Ortodontia do órgão, não há uma idade exata para usar aparelho ortodôntico ou ortopédico funcional dos maxilares. Segundo os ortodontistas, é preciso considerar a condição psicomotora da criança de aceitar e conseguir usar o aparelho ortodôntico.

“Muitas vezes, pequenas intervenções nessa fase de dentição mista [a partir dos 6 anos] facilitam o desenvolvimento da dentição e dos ossos maxilares.”, explica Daniela. Segundo ela, é possível abrir espaço para dentes permanentes nascerem corretamente ou redirecionar dentes que estejam fora da posição ideal.

Quais são os tipos de aparelhos mais indicados para crianças?
 
O tipo de aparelho depende do caso e do perfil da criança. “Usamos muito os expansores maxilares para ganho de espaço e correção de mordidas cruzadas. Sempre que possível, optamos pelos fixos, porque exigem menos colaboração da criança e costumam se adaptar bem”, explica.

Existem, ainda, os aparelhos, que podem ser fixos ou removíveis, chamados “lembretes”, que ajudam a conter hábitos como chupar chupeta ou dedo. Alinhadores e brackets (as peças de resina que são diretamente coladas nos dentes) também podem ser usados em situações específicas, como fechamento de espaços ou correção de mordidas cruzadas. “Os alinhadores funcionam bem, desde que a criança tenha disciplina para manter o uso constante”, diz.

Quais condições podem ser evitadas com o tratamento precoce?
 
O uso do aparelho na infância ajuda a prevenir problemas como falta de espaço severa, mordidas abertas graves, crescimento assimétrico da mandíbula e desgaste excessivo dos dentes. “Se o tratamento for adiado, pode ser necessário extrair dentes permanentes ou até recorrer à cirurgia ortognática”, afirma a ortodontista.
 

Começar cedo demais também tem riscos?
 
Segundo Daniela, o início precoce do tratamento também exige atenção. “Estamos percebendo uma sobrecarga em tratamentos ortodônticos em crianças. Existe uma fase da infância, em média dos 8 aos 10 anos, na qual os caninos superiores estão em íntimo contato com a raiz dos incisivos laterais superiores.

Nessa fase, a criança apresenta espaços entre os dentes superiores e muitas vezes os pais nos procuram para fecharmos esses espaços. É preciso ter cuidado para não provocarmos reabsorção da raiz dos incisivos laterais”, alerta

Outro ponto que preocupa é com o esgotamento da criança. “Precisamos ser pontuais e objetivos para não cansá-la. Ela precisa estar disposta para ser tratada quando os dentes permanentes estiverem na boca”, afirma.

Quais hábitos podem levar a necessidade do aparelho?
 
Hábitos como chupar chupeta ou dedo influenciam diretamente na necessidade de usar aparelho. “Existe uma relação direta entre esses hábitos e alterações na forma das arcadas e no posicionamento dos dentes”, diz Daniela. “Quanto mais intenso, frequente e duradouro for o hábito, maior será o impacto”, completa.

Para driblar esses costumes, a ortodontista indica estratégias como furar a chupeta para reduzir o prazer da sucção ou usar luvas para desencorajar o uso do polegar. “Mas tudo depende de uma avaliação individual. A maioria responde muito bem.”

Segundo Daniela, os pais também precisam se atentar a distúrbios do sono que possam estar relacionados a dificuldades respiratórias. Nesses casos, o acompanhamento com otorrinolaringologista, alergista e fonoaudiólogo pode ser necessário. “Essa parceria entre especialidades ajuda a normalizar o crescimento da face e melhorar a respiração”, finaliza.

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