Mari Ferrão, uma fisioterapeuta made in Baita Chão

A alegretense Mariana Ferrão, tem 28 anos, e é formada pelo misto de duas universidades. Ela iniciou pela Unipampa Campus Uruguaiana e terminou o curso pela UNIVALI, em Santa Catarina.

Logo que se formou, em 2020, ainda residia em Brusque, onde trabalhou num hospital, em ambiente de UTI, na linha de frente contra o Covid-19. Etapa marcante na vida da profissional.

Após dois anos dessa jornada no hospital, resolveu retornar a sua cidade natal. “A minha ideia inicial era ter meu próprio ambiente de trabalho, o hospital lá em Santa Catarina me trouxe muitos aprendizados, mas também trazia grandes desafios e o sistema muitas vezes sufocava os pacientes e isso me incomodava muito”, destaca Mariana.

Em 2022, ela conseguiu abrir seu consultório, no mesmo ano que retornou ao Baita Chão. Sempre muito ativa nos projetos que foram surgindo no seu caminho, atualmente além de atender na clínica, ela é assistente do time de futsal da AABF (Blackout), e também aceitou de primeira o convite para dar assistência aos meninos do Flamenguinho, que jogam o Efipan, ela estreou em 2025 com a equipe.

“Eu penso que é fundamental que nós, daqui, apoiemos os nossos, os que são daqui”, resume orgulhosa, a fisioterapeuta.

Ela também já participou de eventos relacionados à saúde da mulher, levando palestras e compartilhando um pouco de tudo que a saúde e a prevenção em saúde pode nos beneficiar.

Foi com essa profissional que o PAT realizou uma entrevista. Confira o bate-papo:

PAT: Como é a experiência de trabalhar no esporte, cuidando de atletas?
É muito enriquecedora, com atletas a dinâmica se torna um pouco diferente do que com outros perfis de paciente. Tratamos de acordo com a fase que estamos, se em preparação temos mais tempo pra reabilitar pensando em casa detalhe. Já se estamos em meio a um campeonato a prioridade é tratá-los para já seguirem em campo, ativos no campeonato. Em todas as fases estamos muito alinhados com a visão e o momento do time. Isso exige uma boa comunicação entre a comissão.

PAT: A tua participação no Efipan foi um marco. De que forma tu avalias esse trabalho junto à comissão técnica do Flamenguinho?
Bom, de início foi um grande desafio, os atletas do time são adolescentes, eles reagem de forma diferente mediante uma potencial lesão, eles desestabilizam emocionalmente, mediante isso existe uma preparação mental para que eles lidem bem quando lesionam em campo. Avaliei de forma muito positiva, e também tive a devolutiva deles, era visível que o time se sentia mais seguro pelo fato de ter um profissional preparado para caso algo saísse fora do esperado, eles levam muito a sério o campeonato, vão pra dar tudo de si mesmo.

PAT: Atualmente tu estás no futsal com a equipe da Blackout. Será tua segunda temporada. Como é o teu trabalho com o time ?
Isso! Bom, nos organizamos desde muito cedo e na realidade a minha orientação com eles começa desde as primeiras reuniões para as temporadas. A intenção é sempre prevenir as lesões. Os meninos começam a treinar e conforme vão aparecendo questões, distensões, lesões eles vão sendo atendidos no meu consultório. Eu brinco que é um trabalho de “bastidor”. E a minha missão é de alinhar tudo que compete a parte biomecânica do movimento, para que nos dias de jogo eles possam fazer o que sabem de melhor, com o melhor do potencial deles.

PAT: Teu trabalho é num universo totalmente masculino. De que forma tu avalias essa interação entre os atletas ?
Verdade, totalmente masculino. Sempre tive uma boa relação com os atletas e com a comissão em geral. É tudo muito definido. Os atletas conhecem o meu trabalho e entendem a importância dele, a comissão da mesma forma. Nunca tive problema em campo ou em quadra. Essa parte é bem tranquilo.
As vezes a torcida que “estranha” um pouquinho a minha presença, mas é só no início e de certa forma é esperado porque realmente ainda não é tão comum a mulher ocupar esses espaços. Eu também penso que é muito bom que isso se desfaça. Afinal, o lugar da mulher também pode ser em campo, e na comissão. Somos detalhistas e cuidadosas.

PAT: Geralmente a gente lembra da fisioterapia após a lesão. Como tu trabalhas para prevenir, de que forma podemos se preparar para evitá-las?

Isso mesmo, geralmente o pessoal vai para o consultório para reabilitar depois de lesionar. Mas existem alguns ajustes que podem alinhar muito esse processo e evitar as lesões. Como por exemplo, preparar os grupos musculares para o “embate”, se é um atleta jogador de futebol, ele precisa ter um reforço muscular em membros inferiores, abdômen estável e forte. Se é um tenista, ele precisa ter um bom aporte muscular de membros superiores, ombros e costas mais preparados. Faz parte do processo. Esse é o primeiro e mais importante passo para evitar/prevenir as lesões: preparar o físico.

PAT: O boom da corrida de rua está no cotidiano da cidade. Na área de fisioterapia quais as recomendações que tu sugeresq para quem está iniciando nessa atividade ?
Eu diria: 1º) comece aos poucos, defina curtos trajetos no início, faça treinos intercalados de caminhada e corrida, isso vai preparando o sistema cardiovascular (interação da respiração e do coração) para essa atividade. 2º) defina um trajeto plano, sem tantas subidas e descidas ou irregularidades no terreno. Isso vai facilitar para percorrer nas primeiras vezes.

A corrida é maravilhosa, mas intensa. Se possível tenha um profissional habilitado para acompanhar. Mas se fosse só um conselho, eu diria: vá aos poucos, evolua de forma constante, o corpo vai acostumar, mas respeite o processo.

PAT: Vem chegando o frio, qual a dica da fisioterapeuta Mariana para os alegretenses?

Primeira coisa: agasalhem-se. O corpo “estranha” muito essas mudanças de temperatura e existe um grande esforço para manter a temperatura corporal. Em segundo: não deixem de abrir a casa para ventilar um ar limpo e renovado. A proliferação de bactérias e vírus aumenta muito em ambientes sempre fechados.

PAT: Como autêntica alegretense, qual o principal incentivo que falta para o esporte no município?
O apoio financeiro, sem dúvidas. Praticamente tudo que se faz hoje no esporte tem a movimentação voluntária de ajudantes. Os atletas tem poucos recursos pra seguirem no mundo do esporte, muitos conciliam trabalho, família e o esporte. Sem os recursos facilitadores, como estrutura para os treinos, por exemplo… fica tudo mais complicado.

PAT: Qual é a principal lesão que acomete os pacientes que procuram teu consultório?
Sem dúvidas lesões associadas a articulações do joelho e do tornozelo. São duas articulações importantes, com muitos ligamentos e tendões envolvidos. Algumas delas são estruturas bem frágeis, mas sustentam muita carga. E dependendo do esporte essa demanda aumenta ainda mais.

PAT: Qual a importância da fisioterapia para um atleta amador e quais os principais cuidados que ele não deve ignorar?
A fisioterapia entra como um pilar importante para os amadores, desde os primeiros contatos com o esporte, existem alguns ajustes e orientações que podem evitar grandes “estragos” lá na frente. E eu vivo isso na prática. É muito mais fácil a introdução de um iniciante em um esporte quando ele tem as orientações certas para começar. Às vezes são ajustes pequenos, mas que fazem muita diferença para qualidade de desempenho e execução.
Como principal cuidado eu diria: perceba os sinais que seu corpo dá quando você inicia uma nova prática de esporte, se o joelho dói, busque entender se é a pisada, o quadril ou o tornozelo, quem sabe um ajuste do calçado já ajuda. Alinhe antes de virar uma complicação maior, busque ajuda, tire dúvidas e a partir daí ficas mais seguro para desfrutar de um novo hobbie.

Fotos: acervo pessoal

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