Esquina de rua vira xodó de amantes da leitura em São Gonçalo

A Jornateca é uma biblioteca comunitária que se destaca como um farol de cultura em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio. Fundada em 27 de agosto de 2021, a iniciativa que resiste a diferentes desafios, nasceu do sonho do servidor público Bruno Policarpo, de 42 anos, em democratizar o acesso à leitura em uma região historicamente carente de equipamentos culturais.

Localizada na esquina das ruas Doutor Jurumenha e João Pessoa, no bairro Barro Vermelho, o espaço rapidamente se tornou um ponto de encontro literário.

“Acreditamos na leitura como ferramenta de transformação social, e por isso promovemos ações que vão além do empréstimo de livros”, explica Bruno.

A Jornateca oferece empréstimos gratuitos de livros, promove saraus, clubes de leitura, oficinas e contações de histórias. O espaço é mantido de forma colaborativa, com apoio de voluntários, doações de livros e parcerias com autores e educadores.

Desde sua fundação, a Jornateca enfrentou problemas financeiros, falta de infraestrutura e até questões pessoais abalaram o projeto.

Um dos momentos mais críticos foi quando minha mãe sofreu um AVC e, pouco depois, a biblioteca foi atingida por uma poda drástica dos galhos de árvores que nos presenteavam com uma bela sombra, nos deixando expostos ao sol. Chegamos perto de encerrar o projeto, mas o apoio de amigos, voluntários e moradores do bairro nos ajudou a seguir em frente.

Mara Regina, de 61 anos, frequentadora assídua da Jornateca, não esconde o encantamento que a biblioteca trouxe para sua vida.

“Ter à disposição uma gama de livros de romance, ficção e fantasia abriu uma janela gigante na minha frente. Era aficionada por livros de Agatha Christie, mas aqui vivi outros mundos”, afirma.

O Sarau: poesia e resistência

Os saraus da Jornateca nasceram de um momento de reinvenção. Após a perda da sombra que tornava o espaço acolhedor, uma tenda foi adquirida com o apoio da comunidade, e o espaço foi revitalizado. No aniversário de três anos, em agosto de 2024, o primeiro sarau foi realizado, em parceria com a amiga Sol de Paula.

“Foi um dia repleto de poesia, emoção, memória e esperança”, relembra Bruno.

A frequentadora Mara Regina também destaca a importância dos saraus para o bairro: “A Jornateca é um calorzinho de cultura. Aqui, a poesia não só é lida, mas sentida e compartilhada. É um espaço de encontros e memórias”.

Clube do Livro: diálogo e aprendizado

Em fevereiro de 2025, a Jornateca lançou o Clube do Livro, uma iniciativa que surgiu de forma orgânica através de uma enquete nas redes sociais. Sob a curadoria da jornalista e escritora Mariana Sales, o clube reúne leitores de diferentes idades para discutir obras literárias a partir de múltiplas perspectivas.

Na Jornateca, encontrei o impulso para ler mais. Você chega, conhece pessoas que indicam livros e sente vontade de ler cada vez mais. É uma libertação.

Apesar das dificuldades, como a ausência de apoio institucional e a constante luta por recursos, a Jornateca segue transformando vidas. “O impacto da Jornateca é concreto. Já realizamos mais de 1.100 empréstimos de livros”, destaca Bruno.

Para Bruno Policarpo, o sonho é ver a Jornateca se expandir, alcançando outros bairros de São Gonçalo. “Mais do que livros, o que oferecemos aqui é esperança.”