Estudante do Sertão da Paraíba é aprovada em 7 universidades dos EUA: ‘dediquei todo o meu tempo a essa jornada’


Alice dos Santos aprendeu inglês sozinha e com o uso de materiais gratuitos. Ela se apaixonou por estudar tecnologia enquanto era aluna do IFPB. Alice durante viagem à Alemanha, após ganhar bolsa de 10 mil dólares
Alice dos Santos / Arquivo pessoal
Aos 20 anos, a paraibana Alice dos Santos Araújo Lourenço acumula diversas conquistas acadêmicas. Entre elas, o fato de ter sido aprovada em sete universidades dos Estados Unidos. No mês de agosto ela embarca rumo ao sonho de estudar em uma dessas instituições, com uma bolsa integral e o desejo de transformar a realidades de outras jovens, que assim como ela, apostam na educação para transformar vidas.
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As aprovações, mesmo que repetidas por um número expressivo de vezes, não são encaradas como parte da rotina.
“É aquele tipo de acontecimento que leva tempo para a ficha cair. Ainda não parece real. Fora os sentimentos de alegria e superação profundas, reconheço as barreiras quebradas que essa conquista representa para mim, minha família e meu estado”, refletiu.
A jovem nasceu e foi criada em Nova Olinda, cidade do Sertão da Paraíba, com pouco mais de 6 mil habitantes. Com a vida inteira no interior, ela conhece as dificuldades para ter acesso ao ensino tecnológico.
“Por isso, quero que essa oportunidade inédita que recebi não seja apenas minha, quero que os frutos dela sejam colhidos por outros jovens paraibanos. Quero que a gente mostre cada vez mais para o nosso Brasil que a Paraíba desenvolve sim jovens talentos em tecnologia”, destacou.
O interesse por estudar no exterior surgiu a partir de dois fatores: o primeiro era a curiosidade por conhecer outros países e culturas. Já o segundo, a descoberta das oportunidades profissionais e acadêmicas disponíveis fora do Brasil.
“Quando percebi que existia uma possibilidade real de estudar fora e viver esse conjunto de experiências, dediquei todo o meu tempo a essa jornada”, reforçou.
Alice durante viagem para a Índia
Alice dos Santos / Arquivo pessoal
Etapas das candidaturas às universidades norte-americanas
O processo de seleção para as faculdades dos Estados Unidos foi desafiador, mas também uma oportunidade transformadora para Alice. A jornada, para a jovem, começou no ano de 2023, com o auxílio da Academia Latino-Americana de Liderança (LALA), que é um programa de colocação universitária.
O processo envolve diversas etapas, como a proficiência no inglês por conta própria, demonstrar impacto por meio de atividades extracurriculares, enviar cartas de recomendação escritas por professores, notas do ensino médio, documentação financeira, uma redação pessoal e redações suplementares.
No primeiro ano de candidaturas, ela foi aceita em quatro instituições. Porém, não conseguiu bolsas que custeassem toda a viagem e estudos. Já em 2024, foram mais três aprovações. Confira na lista abaixo:
Aprovações em 2023:
University of British Columbia
University of Wisconsin – Madison
University of Colorado at Boulder
Stetson University
Aprovações em 2024:
University of North Carolina at Chapel Hill
University of Wisconsin – Madison
University of Connecticut
A escolhida foi a UNC-Chapel Hill, localizada na Carolina do Norte. Nela, a jovem ganhou uma bolsa integral que cobrirá, pelos próximos quatro anos, gastos com os cursos da faculdade, alimentação, computador, viagens de avião e tudo o que for necessário. As aulas começam em agosto deste ano.
“A UNC-Chapel Hill ganhou meu coração por vários motivos, como a comunidade vibrante de Tar Heels, sua localização no centro mais importante de pesquisa, inovação, tecnologia e educação dos Estados Unidos. E o fato da universidade oferecer a combinação curricular ideal para as áreas que desejo seguir profissionalmente”, confessou.
Alemanha, Índia, Itália e Noruega: ‘sempre volto para casa com ideias novas e criativas’
Antes mesmo das aprovações nas universidades norte-americanas, Alice viveu outras experiência fora do país de origem.
2024 – Alice participou do Venetian ESummer, com bolsa de 100%, na Itália. O programa é focado em sustentabilidade e tecnologia. Essa foi a primeira experiência dela em outro país e durou uma semana.
2025 – A estudante ganhou uma bolsa de 10 mil dólares, com a ajuda da The Flight School (Escola do Voo), para viajar o mundo. Desde de janeiro, ela conseguiu viajar para Bangalore, na Índia; Trebur e Kraitchal, na Alemanha; e Eidsvoll, na e Noruega.
Em todos esses países, a paraibana se voluntariou para participar de projetos de tecnologia, educação e cultura.
“Hoje, após já ter vivido em alguns países como a Índia, onde passei dois meses, percebo que essa conexão com o desconhecido é essencial para a formação de jovens líderes visionários e inovadores. Sempre volto para casa com ideias novas e criativas para resolver, de forma incisiva, os desafios da minha comunidade”, destacou.
Alice durante viagem à Índia
Alice dos Santos / Arquivo pessoal
Alice aprendeu outros idiomas com material gratuito: ‘vem abrindo muitas portas’
Atualmente, além do português nativo, Alice fala inglês em nível avançado e espanhol em nível básico.
Mas o caminho até atingir esse nível em línguas estrangeiras não foi fácil e despertou receio na jovem. “Medo de não desenvolver o idioma a tempo de aplicar para as faculdades naquele ano (2023) e a falta de recursos que poderiam potencializar o meu aprendizado, como um professor particular, por exemplo”, confessou.
Para conseguir o objetivo, ela estudou com materiais, dicionários, aplicativos e projetos gratuitos.
Dessa forma, ela se tornou a primeira da família a aprender inglês por conta própria. Essa conquista é motivo de orgulho para ela.
“Ter desenrolado o inglês vem abrindo muitas portas para a minha jornada acadêmica e profissional, para a minha família e com certeza para as gerações futuras de jovens que eu quero impactar através do ensino tecnológico”, declarou.
Pais apoiaram jovem a encarar desafios acadêmicos: ‘minha família me inspira a seguir em frente’
Em toda a caminhada de desafios acadêmicos, Alice recebeu o apoio da família.
“Apesar das condições financeiras limitadas e falta de conhecimento em relação ao processo seletivo internacional, eles me apoiaram entendendo o meu momento de foco e dedicação, sempre acreditando no meu potencial de fazer acontecer”, recordou a jovem sobre a preparação para disputar uma vaga nos Estados Unidos.
Os pais de Alice trabalham de forma informal. A mãe dela atua como empregada doméstica. Já o avô, por quem também foi criada, é carpinteiro.
“Minha família me inspira a seguir em frente de forma humilde, sabendo que o meu valor está na minha educação e caráter”, destacou.
Estudar tecnologia é uma paixão: ‘converter o meu conhecimento em soluções’
Estudar tecnologia é uma das paixões da vida de Alice, que começou quando ela era aluna do Instituto Federal da Paraíba (IFPB). Na instituição, a estudante participou de pesquisas científicas, projetos de extensão e aprendeu sobre programação.
“O que me fez realmente apaixonada por tecnologia foi a possibilidade palpável de converter o meu conhecimento em soluções para problemas reais da minha comunidade. Pra mim, não tem felicidade comparável aos momentos em que seus programas funcionam, você testa, faz os ajustes necessários e finalmente vê aquela aplicação melhorando algum aspecto da rotina da sua comunidade”.
Para o futuro, após se formar, Alice quer trabalhar com inovação em educação tecnológica e empreendedorismo social. E para isso, ela sonha grande, assim como as conquistas já alcançadas.
Alice quer se tornar a CEO da edtech – empresa que usa tecnologia para desenvolver e oferecer soluções no segmento da educação, buscando melhorar a experiência de ensino e aprendizagem – mais inovadora e acessível da América Latina. Além disso, ela também busca ser a líder do maior ecossistema de apoio a meninas de baixa renda em regiões interioranas e periféricas da América Latina.
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