Garimpeiros ameaçam ‘meter bala’ contra operação da PF e Ibama

Garimpeiros que atuam na extração ilegal de ouro no rio Madeira, na região de Humaitá, sul do estado do Amazonas, falam em motim e reação a tiros contra agentes da Polícia Federal e do Ibama que realizam uma operação contra o garimpo ilegal na região.

Por meio de grupos de WhatsApp, os garimpeiros trocam mensagens para avisar sobre os locais em que as operações estão ocorrendo nos rios e registram imagens de deslocamento de viaturas nas estradas.

Os garimpeiros também falam em causar confusão durante as festas de aniversário de Humaitá. O município completa 155 anos na próxima quinta-feira, dia 15 de maio, e tem uma agenda com uma série de eventos e shows previstos desde esta terça-feira (13).

A Folha de S.Paulo teve acesso a uma série de mensagens trocadas entre os garimpeiros. Em uma das falas, um dos homens é direto.

“Tá na hora de meter bala nesses arrombados aí”, diz. “Tem que se reunir aí no [rio] Beem, pô, e meter bala nesses caras, comprar foguete, pra não deixar eles queimarem [as balsas de garimpo]”, comenta outro. Um terceiro fala em “cercar os agentes” no rio Beem e “não deixar eles saírem”.

Ainda por mensagens de áudio, um quarto homem diz que a festa em Humaitá acabou, referindo-se aos eventos previstos para o aniversário da cidade.

“Olha, a festa no Humaitá acabou, hein”, afirma. “Eu já tô chamando a minha equipe todinha pra descer lá pra praça [central da cidade]. Se tentarem entrar no Beem, vamos meter todo tipo de barco em cima deles, não vai arredar ninguém.”

Em um dos áudios, é possível ouvir uma explosão ao fundo, enquanto um dos garimpeiros passa informações aos demais.

A reportagem questionou o Ibama e a Polícia Federal sobre a operação que acontece na região e medidas contra as ameaças. A PF declarou que não vai comentar o assunto. O Ibama não respondeu até a publicação deste texto.

Em agosto do ano passado, houve confronto direto entre garimpeiros e agentes da PF no centro de Humaitá, após uma operação que destruiu dragas usadas nas atividades ilegais.

Policiais militares chegaram a ser chamados para controlar a retaliação dos garimpeiros, que lançaram rojões contra os agentes.

Houve a queima de pelo menos 223 balsas de garimpo ilegal nos rios Madeira, Aripuanã e Manicoré. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas, 14 pessoas foram detidas.

A região de Humaitá é historicamente marcada pela presença de garimpeiros. Na operação da PF e Ibama, são destruídas as dragas, equipamentos instalados em balsas clandestinas, usados para sugar o leito do rio e “lavar” a terra, em busca de ouro.

Depois de revirar o fundo do rio, os garimpeiros separaram o ouro, por meio de esteiras acarpetadas, onde os resquícios de ouro ficam presos. Em seguida, costumam usar o mercúrio, também conhecido como azougue, para separar o ouro de impurezas.

Esse material, extremamente contaminante, acaba sendo lançado no próprio rio, comprometendo a qualidade da água, peixes e toda a cadeia alimentar associada à vida no rio.

Em fevereiro, páginas pessoais e grupos utilizados por garimpeiros tornaram-se alvo de uma investigação do Ministério Público Federal no Amazonas, que questionou por que a Meta – dona do Facebook e do Instagram – permite que as contas permaneçam ativas.

O inquérito é desdobramento de outra investigação, já existente, da Polícia Federal em Roraima, que apurava suspeitas de crimes contra a ordem econômica por usuários das redes sociais.

Em novembro de 2021, centenas de balsas formaram uma cidade flutuante próximo a Autazes, também no Madeira.

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