‘Acabou a minha vida’, diz homem preso sem provas pelo assassinato de avó e neta no PR


Reginaldo Aparecido dos Santos, de 42 anos, ficou preso por mais de 40 dias. Polícia solicitou liberação dele após prisão de homem que confessou crime. Marley Gomes de Almeida e Ana Carolina Almeida Anacleto foram mortas em março, em Jataizinho. Homem preso indevidamente por 40 dias deixa o hospital
Reginaldo Aparecido dos Santos, de 42 anos, recebeu alta hospitalar nesta segunda-feira (12). Ele ficou preso por 43 dias ao ser considerado suspeito de envolvimento nas mortes de Marley Gomes de Almeida, de 53 anos, e Ana Carolina Almeida, de 11, avó e neta, em Jataizinho, no norte do Paraná. Entretanto, a Polícia Civil (PC-PR) informou que não foram encontradas provas contra ele e outro homem foi preso, após confessar o crime.
Em entrevista à RPC, Reginaldo falou sobre a agressão sofrida no dia 26 de março – quatro dias depois que os corpos foram encontrados.
✅ Siga o canal do g1 PR no WhatsApp
✅ Siga o canal do g1 PR no Telegram
Não havia um suspeito identificado na época, e foi compartilhado um vídeo de câmera de segurança que mostrava ele circulando pelo bairro no dia do duplo homicídio.
O homem, conhecido pelo apelido de “Javali”, disse que quebrou o maxilar e bateu a cabeça ao ser espancado pela população. Por isso, não se lembra de detalhes daquele dia.
“Destruíram [a casa]. Acabou a minha vida. Peguei até trauma daquele lugar. Estou até com medo da ‘turma’ chegar e bater em mim, lá”, Reginaldo contou em entrevista à RPC.
Na entrevista, Reginaldo disse que também foi agredido por policiais quando foi levado para passar por exames médicos. “Falava que era inocente e aí que eles batiam mais”, contou.
Reginaldo foi preso temporariamente – com renovação do mandado após 30 dias. À época, o coronel Hudson Leôncio Teixeira, secretário de Segurança Pública do Paraná, disse que a prisão iria “preservar a integridade”.
Sobre este período que ficou na Penitenciária Estadual de Londrina II, ele lembrou que estava “meio perdido no mundo”.
“Eu nem sabia de nada. Falei ‘meu Deus do céu, como alguém faz um negócio desse com uma criança [Ana Carolina]?'”, Reginaldo relatou.
O advogado Claudinei de Oliveira afirma que a Polícia Penal do Paraná também não viabilizou ao homem o medicamento para o tratamento contínuo de cirrose hepática e que isso fez o quadro de Reginaldo piorar.
Justificativa para prisão
Reginaldo ficou preso por 43 dias.
Reprodução/RPC Londrina
Reginaldo recebeu liberdade na sexta-feira (9), mesmo dia em que o delegado Vitor Dutra disse que o vídeo não era uma prova e que ele não tinha “capacidade de escrever” a mensagem deixada com sangue na parede, na cena do crime. Entretanto, explicou que a prisão foi necessária para confirmar que ele não tinha envolvimento.
“[…] ele foi detido e a população acusava ele de autor do crime, e tinha o video compatível com horário da morte. Facas com material biológico foram encontradas na casa dele. Então a gente não tinha como saber sem a perícia”, o delegado falou em coletiva.
Em nota enviada à RPC, a Secretaria de Segurança Pública do Paraná (SESP-PR) disse que Reginaldo só comunicou ter cirrose hepática no dia 30 de abril, e que um médico prescreveu a medicação, que não é distribuído para o sistema penitenciário.
A nota não cita o relato de agressões.
LEIA TAMBÉM:
Tragédia: Quatro pessoas morrem em acidente envolvendo carro de prefeitura; mãe e filha estão entre vítimas
Risco de queda: Motoristas denunciam carga de postes de fibra deslizando e caminhões são parados em rodovia no Paraná, diz PRF
‘Muitas memórias’: Ex-alunos de um dos colégios agrícolas mais antigos do Paraná se reencontram em visita
Como foi o crime, segundo a investigação da polícia
Reviravolta: novo suspeito confessa ter matado avó e neta no Paraná
Nesta sexta-feira (9), a Polícia Civil (PC-PR) revelou pela primeira vez detalhes sobre as mortes de Marley e Ana Carolina.
João Vitor Rodrigues, de 24 anos, contou em depoimento que, durante a noite do dia 21 de março, usou um balde para conseguir pular a janela da casa de Marley e entrar na sala.
No cômodo, ele encontrou a bolsa da vítima e furtou aproximadamente R$ 100.
Ele resolveu, então, percorrer outras partes da casa para encontrar objetos de valor. Foi neste momento que encontrou Marley e Ana dormindo no quarto.
“Ele [João] amarra elas [Marley e Ana] na cama e tenta tranquilizar elas dizendo que posteriormente iria liberar elas”, explicou o delegado Vitor Dutra em entrevista coletiva.
Entretanto, João disse que mudou de ideia porque ficou com medo de ser reconhecido e sofrer represálias por ter cometido um crime contra uma pessoa moradora do bairro em que ele também vivia.
Por isso, segundo a confissão, ele matou avó e neta com golpes de faca.
O suspeito usou um perfume de Marley para apagar digitais que pudessem estar na cena do crime. O delegado confirmou em entrevista que a perícia não localizou as marcas.
João voltou para a casa na madrugada do dia 22 de março, fingiu que estava dormindo e não contou o que havia feito.
Ele voltou ao presídio, após os corpos serem encontrados, porque foi condenado pelo crime de tráfico de drogas. De lá, ligou para a mãe e contou ter assassinado Marley e Ana porque não estava aguentando o “peso” de ter cometido o duplo homicídio, segundo o delegado.
A mãe de João ligou para a delegacia e denunciou o próprio filho, ação que fez a investigação sobre ele ser aprofundada.
Em seguida, o homem confessou.
VÍDEOS: Mais assistidos do g1 Paraná
Veja mais notícias em g1 Norte e Noroeste.
Adicionar aos favoritos o Link permanente.