Placas sobre veneno de rato preocupam moradores de Niterói

Moradores de Niterói denunciam a instalação de placas em árvores e canteiros de vias públicas nos bairros de Santa Rosa e Icaraí, na Zona Sul da cidade, informando sobre a presença de veneno para ratos.

A situação tem gerado preocupação entre tutores de animais, famílias com crianças e defensores da causa animal. Além do alerta, há relatos de mortes de cães atribuídas à exposição ao veneno. Um dos casos teria ocorrido no bairro de São Francisco, onde um animal teria morrido após contato com o produto.

De acordo com os relatos, a aplicação de veneno em áreas públicas representa um risco à saúde de animais domésticos, animais de rua e crianças que circulam pelos locais citados.

A Prefeitura de Niterói, por meio do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), esclarece que o uso indevido da substância pode caracterizar crime ambiental. O município informou ainda que não foi responsável pela aplicação do produto tóxico.

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Rotina mudada

Tutores de cães, principalmente, têm vivido momentos de cautela com seus animais de estimação. É o caso do mecânico Carlos Eduardo, morador da Avenida Almirante Ary Parreiras, na esquina com a Rua Doutor Mário Vianna, em Santa Rosa.

Tutor da cadela Nina, ele teme perdê-la devido à exposição ao veneno. Segundo ele, o local onde foi instalada a placa alertando sobre o produto é um ponto frequentado por animais, que costumam passear e deitar sob a sombra da árvore.

“Eu não deixo ela ir para lá (onde a placa foi colocada), fico com medo. Ela está comigo há muitos anos, dorme comigo, me acompanha para todo lado, é uma cachorra incrível. Não posso perdê-la”, relatou.

  • Carlos Eduardo e sua cadela Nina

    Carlos Eduardo e sua cadela Nina | Foto: Péricles Cutrim
  • Nina é amada por todos no bairro e a presença de veneno preocupa seu tutor

    Nina é amada por todos no bairro e a presença de veneno preocupa seu tutor | Foto: Péricles Cutrim

Nina, conhecida e querida entre os vizinhos, passou a ser protegida por todos, para evitar que se aproxime do local sinalizado.

De acordo com o mecânico, os moradores não sabem quem instalou a placa e realizou a aplicação do veneno na área. Inclusive, vizinhos tentam identificar o responsável para formalizar uma denúncia junto aos órgãos competentes. Segundo relatos, a placa permaneceu fixada por cerca de dois meses em uma árvore, mas foi retirada misteriosamente na última segunda-feira (5), após a repercussão do caso.

“A placa desapareceu. Estava lá, mas alguém tirou. Só não sabemos quem. Ficou por cerca de dois meses e ninguém tomou providências. Ficamos com medo”, disse Carlos.

Susto

A confeiteira Simone Megre e seu filho passaram por um susto ao passearem com a cadela da família no local, e só perceberam o alerta sobre a presença do produto tóxico após já terem passado pela área.

“Há menos de um mês, meu filho se assustou ao ver a placa na volta do passeio. Ficamos muito nervosos. A cadela precisou ficar em observação na clínica por 24 horas. Só o cheiro do veneno já pode afetar outros animais”, afirmou.

Uma moradora de Santa Rosa, que preferiu não se identificar, relatou que já houve casos de mortes de cães na região, frequentemente utilizada por famílias para caminhadas com seus pets. A preocupação dos moradores se estende desde pais e mães que circulam com seus filhos pelos locais temendo que as crianças tenham acesso ao veneno, até a situação dos cães de rua, que ficam expostos ao produto.

Na Avenida Sete de Setembro, em Icaraí, uma placa foi fixada em um canteiro em frente a um condomínio. A farmacêutica Stefania Page, tutora da cadela Lili, de um ano, também demonstrou preocupação. “Eu, por exemplo, evito deixar minha cachorra ir para os canteiros. É muito perigoso, não sabemos o que pode estar ali” declarou. 

Stefania Page e sua cadela Lili


Stefania Page e sua cadela Lili


|  Foto:
Péricles Cutrim

Em São Francisco, embora não haja registro de placas, moradores relatam o uso de venenos diretamente nas ruas. O coordenador de informática Charles Gomes afirmou que perdeu uma cadela recentemente, e outra precisou ser internada após ter contato com o produto enquanto passeava.

“Uma morreu, a outra ficou internada, e, uma semana depois, outra cadela, de uma veterinária que mora aqui, também morreu. Semana passada, mais um caso”, relatou. 

O coordenador ainda destacou que os casos não se limitam apenas a São Francisco, mas têm sido registrados também no bairro Ingá, aumentando a preocupação.

Infestação de ratos

A Prefeitura de Niterói, por meio do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), informou ao ENFOCO que há registros da presença de roedores em algumas regiões da cidade, principalmente em locais com acúmulo de lixo, entulho ou descarte irregular de resíduos.

Placa em canteiro no bairro Icaraí


Placa em canteiro no bairro Icaraí


|  Foto:
Péricles Cutrim

Além disso, destacou que as equipes de vigilância ambiental monitoram periodicamente os locais para avaliar a necessidade de ações de controle.

O CCZ realiza aplicações de veneno apenas mediante solicitação de moradores ou rotineiramente em bueiros, utilizando blocos parafinados presos com arames. Segundo a nota, essas ações seguem diretrizes do Ministério da Saúde. O Centro de Controle de Zoonoses afirmou que não realiza aplicações de veneno em canteiros públicos.

Crime ambiental

O CCZ ressaltou que a aplicação de rodenticidas (venenos para ratos) em logradouros públicos deve ser realizada exclusivamente por empresas especializadas, devido ao risco de intoxicações acidentais de pessoas e animais. O uso indiscriminado por pessoas não habilitadas pode, inclusive, configurar crime ambiental.

Segundo o vereador Daniel Marques, que atua na Frente Parlamentar em Defesa dos Animais em Niterói e está recebendo diversas denúncias sobre a instalação de placas e o uso de venenos em vias públicas, a prática é ilegal e preocupante.

“Somente a prefeitura, por meio de órgãos competentes, pode aplicar veneno em espaços públicos, e isso deve ser feito de forma segura. É proibido que qualquer cidadão espalhe substâncias tóxicas nas ruas. O caso se agrava ainda mais quando pensamos nas crianças que brincam no chão, na grama, e nos animais de rua, que ficam vulneráveis”, alertou o parlamentar.

Ele também destacou o risco para tutores e animais domésticos:

“Muita gente não percebe. Está passeando com seu pet e, quando vê, o animal já teve contato com o veneno e isso pode causar sérios problemas. Por isso, essa informação precisa circular amplamente”, acrescentou.

Daniel Marques afirmou ainda que está atuando junto à Vigilância Sanitária para desenvolver uma normativa mais rigorosa, incluindo a previsão de multas para quem for flagrado aplicando veneno ilegalmente em locais públicos.

Denúncias em condomínios

A prefeitura também informou que equipes do CCZ, em conjunto com a Secretaria de Meio Ambiente, realizaram vistorias após denúncias sobre o uso de veneno por condomínios em canteiros públicos. Em alguns casos, constatou-se que as placas alertavam para a presença de sabão em pó, utilizado supostamente para afastar animais de estimação que costumavam urinar ou defecar nos locais.

Ainda segundo a prefeitura, os responsáveis foram orientados sobre os riscos e a ilegalidade de utilizar qualquer tipo de substância em espaços públicos sem autorização e supervisão técnica.

O CCZ reforça que, sempre que recebe denúncias de uso indevido de substâncias tóxicas, realiza vistorias com a equipe de fiscalização ambiental para apurar a veracidade das informações e tomar as medidas cabíveis, conforme a legislação.

Lei no Rio

No Rio de Janeiro, a Lei nº 8.770/2024 proíbe o uso de veneno para ratos, baratas ou outras pragas em locais acessíveis a animais domésticos na cidade do Rio de Janeiro. De autoria do vereador Dr. Marcos Paulo (PT), a nova legislação tem como objetivo proteger a integridade física da população, especialmente de crianças e animais.

Segundo o autor da lei, o uso de substâncias para eliminar animais peçonhentos, muitas vezes misturadas a alimentos, “acaba causando o envenenamento acidental de animais domésticos, principalmente cães e gatos”.

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