Pressão em Motta, elogio a Fux e vice do DF em selfies marcam ato bolsonarista por anistia

Apesar da exaltação do pastor Silas Malafaia ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux e das críticas do senador Magno Malta (PL-ES) contra a Suprema Corte – chamada por ele de “consórcio do mal” e “cooperativa da maldade” –, o ato em defesa da anistia aos presos do 8 de janeiro em Brasília, nesta terça-feira (7), se voltou a pressionar a Câmara dos Deputados para acelerar a pauta, em especial o presidente Hugo Motta (PP-PB).

A reportagem da Agência Pública acompanhou a manifestação e ouviu, por exemplo, o senador Márcio Bittar (União-AC) dizer, em um caminhão de som, que “brasileiros estão sendo condenados por um crime que não cometeram” – ignorando as evidências reunidas pela Polícia Federal contra os acusados por invadirem e depredarem as sedes dos Três Poderes em janeiro de 2023 na capital federal.

Bolsonaro confirmou presença horas antes do início do ato, que se concentrou em frente à Torre de TV em Brasília no fim da tarde de 7 de maio.

Na ocasião, nenhum familiar ou associação representante dos presos falou ao microfone, apenas políticos e pastores. Breves, os discursos antecederam a fala de Jair Bolsonaro (PL), réu por tentativa de golpe desde março. O ex-presidente agradeceu a presença dos apoiadores e clamou pela anistia dos presos, que também pode beneficiá-lo. Bolsonaro confirmou presença horas antes, menos de uma semana após ter recebido alta hospitalar de uma cirurgia intestinal.

“A anistia é um ato político e privativo do parlamento brasileiro. O parlamento votou, ninguém tem que se meter em nada: tem que cumprir a vontade do parlamento, que representa a vontade da maioria do povo brasileiro”, afirmou o ex-presidente.

Nas ruas, amontoaram-se pessoas usando trajes militares, camisetas personalizadas com a bandeira do Brasil ou dizeres a favor do agronegócio e manifestantes com camisetas da seleção brasileira de futebol, além de casais de aposentados e assessores dos parlamentares presentes. Um dos participantes usou um macacão verde amarelo com bordados do estado de Mato Grosso do Sul e uma máscara do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Desde a concentração no gramado logo em frente ao Eixo Cultural Ibero-Americano, no Eixo Monumental em Brasília, a organização do evento – a cargo do pastor da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo Silas Malafaia – pedia aos manifestantes que dispersassem ao término do ato, antes do cair da noite na capital federal. “Isto aqui não é uma manifestação”, dizia o locutor ao microfone.

Vice do DF posou para selfies e abraçou parlamentares

Ao fim do ato, a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP), que também participou do ato pró-anistia de abril em São Paulo, posou sorridente para selfies com manifestantes. Ela estava ao lado de policiais armados que protegiam a avenida José Sarney, que separa a Esplanada dos Ministérios do Congresso Nacional.

À Pública, Leão reforçou sua posição a favor da anistia, mas se disse “contrária a qualquer tipo de violência”. Logo após, disse que “ninguém é a favor da impunidade”: “a maioria da população condenou a invasão, mas uma parte considera as penas injustas.”

Frases personalizadas e fantasias evidenciaram o apoio dos manifestantes a Donald Trump e o foco nas eleições do próximo ano.

A vice-governadora também abraçou parlamentares da extrema direita que saíam do evento em direção ao Congresso Nacional, como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) – ovacionado durante sua breve fala cobrando que Hugo Motta faça o projeto da anistia avançar.

Parlamentares isentam Senado

Presente no ato, o deputado federal Eliéser Girão, o General Girão (PL-RN), disse à Pública que “não iria se calar”, criticando o Judiciário pelo processo que o condenou a pagar R$2 milhões, e citou a Anistia Geral de 1979, promulgada pela ditadura militar – “aquela anistia serviu para os dois lados… o país precisa ser pacificado”. Girão foi condenado pela Justiça Federal por danos morais coletivos por incentivar atos antidemocráticos durante a crise golpista de 2022.

“Muitos dos que estão aqui hoje também estavam no 8 de janeiro, fazendo a ‘movimentação’, mas tiveram sorte de ir dormir em casa, ao contrário de muitos que não eram daqui e foram dormir no QG [Quartel General do Exército] e acabaram presos”, disse Girão.

Frases personalizadas e fantasias evidenciaram o apoio dos manifestantes a Donald Trump e o foco nas eleições do próximo ano.

À Pública, o senador Jorge Seif (PL-SC) disse que a bancada bolsonarista na Casa aguarda uma solução. “É um problema da Câmara. Quando for problema nosso, lá no Senado, aí sim a gente discute”, afirmou. O líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), seguiu a mesma linha: “não conheço o projeto que está sendo gestado. Quando ele for apresentado, a gente se pronuncia”.

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