Brasileiro poupa, mas não investe

Por Carlos Castro*

A 8ª edição do Raio-X do Investidor Brasileiro, da ANBIMA, mostra que o brasileiro está aprendendo a guardar dinheiro, mas ainda não está investindo.

Entre 2024 e 2025, a taxa de brasileiros que economizaram subiu de 31% para 33%. Em contrapartida, a quantidade de pessoas que investiram permaneceu igual: 37% da população, considerando a caderneta de poupança.

A ANBIMA segmenta os brasileiros em quatro perfis:

  1. Sem Reservas (52%): não guardam, não investem. Estão fora do sistema financeiro. Altos níveis de estresse financeiro. Renda menor.
  2. Economiza e Não Investe (12%): guardam dinheiro, mas não aplicam. Têm disciplina, falta orientação e adequação de produto.
  3. Caderneta (20%): conservador, avesso ao risco, com preferência por liquidez imediata. Investem apenas na caderneta de poupança.
  4. Diversifica (17%): investem em mais de um produto. Perfil mais digital e com maior domínio financeiro.

Ou seja, se considerarmos os perfis “Economiza e Não Investe” e “Caderneta”, 32% da população guarda dinheiro, mas não investe de verdade.

Esse dado importa porque a poupança não é um investimento no sentido técnico da palavra. É uma conta corrente remunerada, com rendimento mais baixo que produtos de renda fixa com liquidez.

Na prática, serve para manter o dinheiro disponível e, em muitos casos, “sentir que está fazendo algo”.

Mesmo com o aumento da digitalização e do uso de apps, isso não se traduziu em crescimento no número de investidores. Hoje, 49% dos investidores usam aplicativos de bancos como principal canal, contra 43% no ano anterior. Entre os mais jovens, esse número passa de 60%.

Ou seja: o brasileiro está mais digital. Mas, mesmo com esse avanço, o número de investidores não cresceu.

Enquanto isso, apostas continuam ocupando o espaço que deveria ir para investimentos:

  • 4 milhões de pessoas ainda acreditam que isso é uma forma de investimento.
  • 47% dos apostadores estão endividados.
  • 10% têm comportamento de risco compatível com vício.

A aposta aparece como solução rápida para quem busca retorno. O investimento, por outro lado, ainda parece distante, complicado ou inacessível.

O estresse financeiro também continua alto: 51% da população declara sentir alto estresse com dinheiro.

Entre os endividados, o índice sobe para 66%. As causas seguem as mesmas:

  • Falta de hábito de guardar.
  • Gastar mais do que ganha.
  • Falta de clareza sobre como usar o dinheiro guardado.

Quem guarda e investe sente menos estresse, mas ainda representa minoria no país.

Mais um alerta: o percentual de pessoas que dizem que pretendem guardar para a aposentadoria caiu:

  • 2024: 36%
  • 2025: 34%

E aumentou quem não pensa nisso:

  • 2024: 23%
  • 2025: 27%

Mesmo com mais conteúdo e canais, menos brasileiros estão se preparando para o futuro.

O que o Raio-X do Investidor Brasileiro da ANBIMA mostra:

  • Mais brasileiros estão guardando dinheiro.
  • O número real de investidores continua estagnado.
  • 32% da população guarda, mas não investe de verdade (12% sem aplicar + 20% só poupança).
  • A digitalização aumentou, mas não mudou o comportamento.
  • Apostas crescem e seguem sendo vistas como investimento.
  • Estresse financeiro segue alto e sem alívio.
  • Planejamento de longo prazo perdeu espaço.

Por que o brasileiro ainda não investe?

Não é falta de produto.
Não é falta de acesso.
Não é falta de tecnologia, plataforma ou informação.
É falta de planejamento financeiro.

A pessoa guarda, mas não sabe o que fazer com o dinheiro parado. Não enxerga benefício em investir. Não vê clareza no caminho. A poupança acaba sendo o destino padrão: não exige decisão, não exige risco.

O brasileiro está aprendendo a guardar. Agora precisa aprender a planejar para investir bem.

*Coluna escrita por Carlos Castro, planejador financeiro pessoal, CEO e sócio fundador da plataforma de saúde financeira SuperRico

As opiniões transmitidas pelo colunista são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a opinião da BM&C News. Leia mais colunas de opinião aqui.

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