Quem é Tarcísio de Freitas: biografia, carreira e trajetória política do governador de SP

Quem é Tarcísio de Freitas. Governador de São Paulo com microfone na frente, e ao fundo, um backdrop do governo do estado desfocado

Tarcísio de Freitas (Republicanos) começou a carreira no Exército e passou pelo funcionalismo público antes de entrar para a política – Foto: Pablo Jacob/Governo SP/ND

Em novembro de 2018, o recém-eleito a Presidente da República, Jair Bolsonaro, anunciou Tarcísio de Freitas como Ministro da Infraestrutura. Sem filiação partidária, o ex-Diretor Geral do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) era pouco conhecido na política. Quatro anos depois foi eleito governador de São Paulo.

Nestes quatro anos, Tarcísio ganhou visibilidade, ficou mais próximo do ex-presidente, conclui obras e privatizações, mas ainda foi visto com muitas reservas quando Bolsonaro (PL) o anunciou candidato ao governo de São Paulo, estado administrado pelo PSDB desde 1995. A aposta deu certo, e Tarcísio (Republicanos) venceu as eleições.

Hoje, o governador de São Paulo se equilibra entre a imagem construída de político moderado e de um dos principais nomes da direita, com acenos ao bolsonarismo radical e demonstração de gratidão e fidelidade ao ex-presidente, que está inelegível e sofre processo por tentativa de golpe de estado que poderá levá-lo à prisão.

Com articuladores como Gilberto Kassab (PSD), Tarcísio é apontado a um dos nomes favoritos do mercado para disputar a Presidência, em 2026. Ideia que, a princípio, ele descarta, anunciando candidatura à reeleição em São Paulo.

Família de Tarcísio de Freitas

Tarcísio Gomes de Freitas nasceu em 19 de junho de 1975 na cidade do Rio de Janeiro (RJ), filho de um brasileiro e uma portuguesa. A mãe Maria Alice Gomes Freitas era empregada doméstica e o pai Amaury Vieira Freitas fez carreira no Banco do Brasil, mas antes disso, trabalhou no comércio.

Aos três anos, mudou com a família para Águas Claras, cidade-satélite de Brasília. Tarcísio tem origem humilde.

“Meu pai carregou caixa de sapato no comércio. Vendia bola, passava o dia com pão com mortadela”, declarou em entrevista ao programa Conversa com Augusto Nunes, da Revista Oeste, no início de abril de 2025.

Foi durante a carreira militar que conheceu sua esposa, Cristiane Ferreira da Silva Freitas. Ela é natural de Parnamirim, a 17km de Natal (RN), cidade onde se encontraram. Tarcísio era aspirante do Exército na capital potiguar quando passou a namorar a então vendedora de loja, que depois se tornou gerente.

Tarcísio de Freitas e Cristiane estão casados há 26 anos e têm dois filhos – Foto: Marcelo S. Camargo / Governo SP/ND

Os dois se casaram há 26 anos na Igreja Católica e têm dois filhos: Matheus e Letícia. Passaram por cidades como Manaus (AM), Rio de Janeiro e Belo Jardim (PE) antes de se fixarem em Brasília, e, hoje, residem no Palácio dos Bandeirantes. Cristiane, além de primeira-dama, preside o Fundo de Solidariedade de São Paulo.

Carreira militar

Tarcísio de Freitas saiu de casa aos 19 anos para ingressar na EsPCEx (Escola Preparatória de Cadetes do Exército), em Campinas, no interior de São Paulo. Depois cursou Ciências Militares na Acadêmia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ), e foi declarado Aspirante a Oficial da arma de Engenharia.

Enquanto subia na hierarquia militar, chegando a capitão, se formou em Engenharia Civil no IMA (Instituto Militar de Engenharia), no Rio de Janeiro (RJ). No mesmo instituto, fez mestrado em Engenharia de Transportes, concluído em 2008.

Entre 2003 e 2008, Tarcísio de Freitas trabalhou como engenheiro militar e chegou a chefiar a seção técnica da Companhia de Engenharia do Brasil na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti, entre 2005 e 2006. Deixou o Exército em 2008.

Luta contra o câncer

Quando ainda era acadêmico de Engenharia Civil no IME, Tarcísio de Freitas descobriu um câncer em um dos testículos. Como o diagnóstico ocorreu ainda no início, o tratamento foi rápido e o tumor foi retirado com sucesso.

“Era um tumor simples. Mas, como qualquer tumor, se você não tratar com velocidade, ele pode evoluir mal. No meu caso, tratamos rápido. Estou aqui, Deus me deu essa benção”, discursou na inauguração do Centro de Transplantes de Medula Óssea do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, em setembro de 2024.

Sua esposa, Cristiane, recordou a doença no ano anterior, em uma publicação no Instagram, com a foto do casal na formatura de Tarcísio de Freitas no IME.

“Esse foi um dia muito especial e marcante de nossas vidas, porque foi uma grande prova de superação. A conclusão de um curso tão difícil, ao mesmo tempo, em que passou pelo tratamento de um câncer. Fé, perseverança e disciplina”, postou a primeira-dama.

Tarcísio no funcionalismo público

Ao deixar o Exército, Tarcísio de Freitas prestou concurso e foi aprovado como analista de finanças e controle da CGU (Controladoria-Geral da União). Tornou-se assessor do diretor de auditoria da área de infraestrutura (2008 e 2011), e coordenador-geral de auditoria da área de transportes (2011).

Foi levado pela então presidente Dilma Rousseff (PT) para o cargo de diretor-executivo do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), por indicação do general Jorge Fraxe.

O governo via estourar uma série de escândalos de corrupção e Dilma prometeu uma limpeza ética no governo, apostando em nomes mais técnicos. Em 2014, Tarcísio de Freitas foi promovido à Diretor Geral do Dnit, cargo que exerceu até janeiro de 2015.

Saiu do Executivo para se tornar consultor legislativo da Câmara dos Deputados. No governo Michel Temer (MDB) atuou como secretário da Coordenação de Projetos da Secretaria Especial do PPI (Programa de Parceria de Investimentos), responsável pelo programa de privatizações e concessões.

Voltou ao cargo na Câmara antes de ser anunciado Ministro da Infraestrutura por Bolsonaro (na época no PSL), menos de um mês após sua vitória nas Eleições de 2018.

Ministro Tarcísio de Freitas

A frente do Ministério da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas apostou em privatizações e obras rodoviárias, o que lhe rendeu o apelido de “homem asfalto”.

Tarcísio inaugurou obras e concedeu à iniciativa privada dezenas de ativos durante o governo Bolsonaro, seu padrinho político – Foto: Edsom Leite/Reprodução/Facebook/ND

Entre as obras entregues no período, se destacam a ponte estaiada sobre o Rio Parnaíba, que liga os estados do Piauí e Maranhão pela BR-235, entre Santa Filomena (PI) e Alto Parnaíba (MA), além da ponte do Abunã, sobre o rio Madeira, em Rondônia, ligando o Acre ao sistema rodoviário brasileiro.

Durante sua gestão ocorreu a privatização da Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa) e concessões em todos os modais de transporte (rodoviário, ferroviário, aquaviário e aéreo), entre eles, 13 terminais portuários e 12 aeroportos apenas em 2019.

Deixou o cargo em março de 2022 para concorrer ao governo de São Paulo. Tarcísio de Freitas participou de “motociatas” e colou ainda mais no padrinho político, Bolsonaro. Decidiu filiar-se ao Republicanos.

Se aproximou de Gilberto Kassab (PSD), hoje seu principal articulador político e secretário estadual de Governo e Relações Institucionais. O PSD indicou o vice de Tarcísio de Freitas, Felicio Ramuth, ex-prefeito de São José dos Campos, para onde Tarcísio transferiu seu domicílio eleitoral.

A coligação São Paulo Pode Mais, reuniu Republicanos, PSD, PL, PTB, PSC e PMN. Tarcísio virou alvo dos adversários políticos que atacavam a suposta falta de conhecimento do estado por parte do ex-ministro. O PSOL chegou a questionar judicialmente a veracidade do domicílio eleitoral em São José dos Campos no Tribunal Regional Eleitoral (TRE/SP), mas o processo foi arquivado.

Impulsionado pela polarização entre Bolsonaro e Lula, Tarcísio de Freitas desbancou quase três décadas de domínio tucano e o tempo maior de TV de Rodrigo Garcia (PSDB) para chegar ao segundo turno contra Fernando Haddad (PT). Em 30 de outubro, foi eleito governador de São Paulo com 55,27% dos votos válidos.

Governo de São Paulo

Tarcísio de Freitas assumiu como governador de São Paulo declarando gratidão a Bolsonaro, mas prometendo pacificação e diálogo com o governo federal, liderado por Lula. Enfrentou resistência a algumas nomeações, como de Diego Torres Dourado (PL), irmão da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Em seu primeiro Carnaval, o governador precisou lidar com crise. O litoral norte foi atingido por fortes temporais que deixaram 64 mortos. Em São Sebastião choveu 627mm em 24 horas, mais do que o dobro do esperado para fevereiro.

Tarcísio de Freitas transferiu seu gabinete para o município por cerca de 10 dias e comandou os trabalhos de resgate e limpeza dos municípios. O governo estima em R$ 1 bilhão os investimentos na recuperação da região e a construção de mais de 900 casas, sendo 700 já entregues.

Seu governo emplacou forte agenda de privatizações, que incluíram a Rota Sorocabana, a Nova Raposo, os serviços lotéricos, a Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae) e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).

Governo Tarcísio, em São Paulo, tem alto volume de leilões de concessões – Foto: Pablo Jacob/Governo SP

A privatização da Sabesp foi uma das que enfrentou mais resistência e ainda gera polêmicas. Agora privada, a empresa tem cortado benefícios concedidos a instituições médicas e beneficentes.

Foi estabelecida novas regras para a cobrança de água. A mudança levou a ABCDT (Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante) a entrar com processo contra a Sabesp alegando risco de inviabilização dos serviços.

Segundo o governo do Estado, a concessão da Sabesp irá gerar um investimento de R$ 60 bilhões e universalizar o saneamento básico de São Paulo até 2029.

Há também editais para privatizações de linhas de trens e metrô, privatização de construção e gestão de escolas (Programa Novas Escolas) e plano de extinção da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), o que tem gerado ações na justiça e conflito com o funcionalismo público. Foram três greves dos servidores da Companhia do Metropolitano de São Paulo – Metrô apenas no primeiro ano.

Tarcísio tem mantido boa relação com o governo Lula, com quem tem obras em parceria, como o túnel Santos-Guarujá – Foto: Sergio Barzaghi/Governo SP

Tarcísio de Freitas tem focado também em grandes obras para marcar seu governo. Estão em andamento as obras do Rodoanel Norte, último trecho do anel viário iniciado nos anos 1990 e que estavam com os serviços parados.

Outro projeto que Tarcísio de Freitas corre para tirar do papel é o Túnel Imerso Santos-Guarujá, que prevê quase R$ 6 bilhões em investimentos, e foi registrada pela primeira vez pela imprensa em 1927. O edital foi lançado em fevereiro de 2025 por Tarcísio e Lula (PT).

Não foi a primeira oportunidade que Tarcísio e Lula trocaram elogios e falaram em união. No ano anterior, o petista promoveu cerimônia no Palácio do Planalto com o governador de São Paulo para assinar contratos de financiamento de obras de infraestrutura e mobilidade urbana.

Essas parcerias têm feito com que Tarcísio de Freitas evite críticas diretas ao governo federal enquanto cresce como nome favorito de setores da direita para a Presidência da República, seja em 2026 ou 2030.

 

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