Medicina no foco das avaliações. Por Ana Dalsasso

Semana anterior conversamos sobre a avaliação das escolas de Ensino Superior, num geral, realizada pelo Ministério da Educação e Cultura. Hoje lançaremos um olhar sobre o curso de Medicina, tendo por base os dados divulgados e o debate levantado, considerando o baixo nível de qualidade da maioria dos cursos em todo país.

O Brasil é o segundo maior país do mundo em número de faculdades de Medicina. São 389 escolas para uma população de 211 milhões, perdendo apenas para a Índia com cerca de 600 cursos, porém com uma população de 1.438 bilhão, ou seja, sete vezes maior que o Brasil. Vale registrar também que nosso país está na frente dos Estados Unidos com 125 escolas para uma população de 334 milhões, e da China com 150 escolas, com 1.411 bilhão de habitantes.

Em 1990 nosso país possuía 78 faculdades de Medicina, hoje 389. Houve um salto quantitativo, porém não qualitativo, uma vez que muitos cursos se concentram em municípios que não atendem os critérios mínimos para a boa formação de futuros médicos.

Deixo bem claro que nunca fui contra a interiorização do ensino superior, mas esse movimento tem que acontecer com qualidade, estrutura adequada, professores habilitados e compromissados com uma formação de qualidade. Mas, o que temos visto é o aumento desordenado de faculdades, sem atender os requisitos legais. Não apenas Medicina, mas tantos outros cursos que só funcionam no “cuspe e giz”. Faltam laboratórios, faltam práticas. Teoria sem prática, é vazia.  Abrir por abrir é falta de ética e comprometimento.  É preciso dar condições para a formação e depois valorizar o profissional no exercício de suas funções.

Voltando à avaliação da Medicina é muito preocupante a situação. Dos 309 cursos avaliados apenas seis,1,9%, obtiveram a nota máxima, 38,5% nota quatro, e 50,5% três. Daí entender o motivo de disparar o número de erros médicos. Segundo o Conselho Nacional de Justiça CNJ) entre 2023 e 2024 os processos aumentaram em 506% por atendimento inadequado. Dados da OMS um em cada dez pacientes sofre danos no atendimento. São milhares de mortes por ano por erros médicos, tais como: medicamentos, cirurgias e diagnósticos, além de infecções hospitalares. Eu tive a infelicidade de ser vítima de um erro médico que por pouco não me tirou a vida. É preciso que as instituições repensem e tenham consciência que Medicina não é comércio, não é para ganhar dinheiro, é para salvar vidas.

Ratificando o exposto, neste ano dos 175.000 acadêmicos de Medicina, 45.000 concluirão o curso; destes apenas 16% terão vaga para especialização (residência), onde ganham segurança e informação para o exercício da tão nobre profissão. Os demais vão para hospitais, postos de saúde com uma base de conhecimento rasa, fragmentada, sem preparo real para o exercício da função. Despreparados, perdidos, inseguros…

Em suma, a má qualidade de ensino nos cursos de Medicina no Brasil é um problema grave que requer atenção imediata. É essencial que haja uma reestruturação das instituições de ensino, investindo em infraestrutura, atualização docente e um currículo que contemple uma formação mais prática e humanizada. Somente assim, poderemos formar médicos competentes e preparados para atender às necessidades da população, contribuindo para a melhoria do sistema de saúde no país. As consequências de um mau médico são vastas e profundas, afetando não apenas a vida dos pacientes diretamente envolvidos, mas também o sistema de saúde e a confiança da sociedade na medicina.

 

 

 

 

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor.

 

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