Os primeiros 100 dias de Trump no cargo foram um fracasso total

Apesar de toda a bravata masculina exagerada e tóxica que Trump gosta de projetar ao mundo para mostrar sua força e poder, seus primeiros 100 dias no cargo foram um desastre. Conhecidos como “período de lua de mel”, porque o presidente geralmente mantém o apoio popular e orienta a aprovação de leis importantes, os últimos três meses foram “repletos de barulho e fúria, sem significar nada”, como Hamlet observou sobre sua própria vida na peça de William Shakespeare.

A resposta pública à enxurrada de decretos executivos que ele emitiu desde sua posse em 20 de janeiro de 2025 — muitos dos quais os tribunais consideram ilegais — tem sido um sonoro não às suas políticas, procedimentos e práticas. De acordo com uma pesquisa recente do New York Times/Siena College, realizada de 21 a 24 de abril, 59% dos entrevistados descreveram Trump no cargo como “assustador” e 66% como “caótico”. De acordo com uma pesquisa recente da ABC, o índice de aprovação de Trump caiu para 39%, o menor número em 80 anos para um presidente em seus primeiros 100 dias no cargo. Na mesma pesquisa, sua taxa de desaprovação é de 55%. Embora os congressistas republicanos permaneçam em grande parte leais a Trump, mesmo entre suas fileiras pequenas fissuras começam a surgir. E uma resistência multifacetada cresce diariamente.

Observadores políticos concordam, em geral, que as duas principais questões que garantiram a vitória de Trump em novembro foram a inflação e a presença estimada de 11 milhões de residentes indocumentados no país. Trump, o candidato, prometeu reduzir a inflação desde o “primeiro dia” e deportar milhões de imigrantes. Em nenhum dos casos ele cumpriu sua promessa.

Na frente econômica, desde que assumiu o cargo, o presidente não implementou nenhuma medida concreta para conter os preços. Em vez disso, embarcou em uma guerra tarifária mal concebida, ameaçando um aumento generalizado de 10% em todos os produtos importados e diversas tarifas mais altas que visam países onde os Estados Unidos têm um desequilíbrio comercial, usando uma fórmula incompreensível. Trump rasgou o Acordo Comercial EUA-México-Canadá, negociado por ele em seu primeiro mandato, e impôs tarifas de 25% sobre produtos que entram nos Estados Unidos vindos do seu segundo e terceiro parceiros comerciais mais importantes. Depois, suspendeu por três meses as tarifas, deixando os empresários incapazes de fazer planos. Ele também impôs um aumento de 145% nas tarifas sobre importantes produtos chineses, o que, na prática, é um embargo virtual às importações vindo daquele país.

Quase todos os economistas concordam que a tarifa será repassada aos consumidores americanos, inevitavelmente aumentando os preços.

Suas ações levaram a uma queda significativa na bolsa de valores dos EUA, ao mesmo tempo, em que os investidores optaram por não comprar títulos do governo americano, o que levou a uma queda no valor do dólar e um aumento nas taxas de juros. No mês de abril, a queda de 10% no valor das ações na bolsa de valores foi comparável à de abril de 1932, início da Grande Depressão.

De acordo com a mesma pesquisa do New York Time/Siena College citada acima, apenas 43% aprovam a forma como Trump está lidando com a economia, enquanto 55% dos entrevistados desaprovam.

É difícil determinar se Trump tem um plano mestre para tarifas ou se está apenas inventando políticas à medida que avança. Aparentemente, sua arrogância sobre o quão brilhante empresário ele é influenciou sua interpretação da realidade. Além de insistir que suas políticas tarifárias melhorarão a economia americana, forçando empresas a se mudarem para os Estados Unidos e aumentando as oportunidades de emprego no setor manufatureiro, Trump está tentando usar as novas tarifas para aumentar a receita do governo federal, já que prometeu a seus apoiadores bilionários que fará um corte de impostos para os ricos até o fim deste ano.

Trump argumenta que sua política tarifária gerará bilhões de dólares para compensar o déficit orçamentário. As ações de Elon Musk, demitindo centenas de milhares de funcionários públicos do governo federal e desmantelando programas e agências governamentais para economizar dinheiro e aumentar a eficiência, também visam compensar a queda na receita.

Mas a extensão deste corte de impostos ainda precisa ser aprovada no Congresso. E onze congressistas republicanos assinaram uma carta declarando oposição às políticas tarifárias, e a maioria dos economistas respeitados e vozes influentes, como o conservador Wall Street Journal, insistem que a economia pode entrar em recessão.

Dada a pequena maioria de três deputados que apoiam Trump na Câmara dos Representantes, neste momento a aprovação da legislação destinada a ajudar o 1% mais rico do país não está garantida.

Além disso, muitas pessoas que votaram em Trump ou se abstiveram de participar das eleições de 2024 estão se arrependendo dessa decisão. Se os preços subirem drasticamente e os Estados Unidos entrarem em recessão, esses eleitores serão cruciais para uma vitória dos democratas nas eleições de 2026, chamadas de “mid-term”, ou meio do mandato, onde se elegem membros para a Câmara de Deputados e o Senado.

A política de imigração de Trump também enfrentou muitos problemas, em grande parte devido a decisões judiciais que bloquearam ou suspenderam deportações.

A deportação de estudantes internacionais pró-palestinos e a evocação da Lei dos Inimigos Estrangeiros de 1796, sob a alegação de que a gangue venezuelana Trem de Aragua invadiu o país e está em guerra com os Estados Unidos, foram rejeitadas por juízes. A Suprema Corte dos EUA decidiu ainda que todos os residentes dos Estados Unidos gozam do direito ao devido processo legal, incluindo trabalhadores sem documentos.

Atualmente, 53% dos entrevistados desaprovam a forma como Trump lida com a imigração e 46% aprovam suas políticas, refletindo a queda notável em seu apoio.

Para cumprir sua promessa eleitoral sobre imigração, Trump fez todo o possível para aumentar o número de deportações de trabalhadores indocumentados, supostamente expulsando primeiro imigrantes condenados por crimes. Nas primeiras ações, membros de alto escalão do governo Trump acompanharam os agentes do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE). Eles fizeram isso para criar medo entre imigrantes indocumentados que vivem nos Estados Unidos e dissuadir as pessoas de tentarem cruzar a fronteira.

Entre os casos de imigrantes deportados sem o devido processo legal está o de Kilmar Abrego Garcia, um salvadorenho que obteve status de proteção nos Estados Unidos devido ao medo de perseguição por gangues em El Salvador. Garcia é casado com uma cidadã americana e teve três filhos que nasceram nos Estados Unidos. Ele foi detido e deportado para o Centro de Confinamento Antiterrorismo em El Salvador por engano, segundo o governo americano, por supostamente pertencer à MS-13, uma gangue salvadorenha.

A Suprema Corte dos EUA instruiu o governo Trump a “facilitar” seu retorno à família em Maryland, mas, até a publicação desta coluna, o governo não cumpriu a ordem judicial, abrindo uma crise política.

Garcia foi enviado para El Salvador com 200 venezuelanas sob a Lei de Inimigos Estrangeiros. Imagens de vídeo da prisão de segurança máxima circularam amplamente, gerando medo adicional entre os imigrantes, mas também indignação entre o público americano. Cartazes caseiros exibidos durante o dia nacional de protestos de 19 de abril contra o governo Trump, que mobilizou milhões em todos os estados da união, exigiram a libertação de Garcia e o devido processo legal para todos os imigrantes.

Dois outros eixos significativos de resistência, que merecem maior atenção no futuro, vieram de Harvard (e, posteriormente, de líderes de outras 400 faculdades e universidades), protestando sobre a tentativa de Trump interferir na educação superior, juntamente com grandes escritórios de advocacia que não cederam à pressão para se recusar a defender clientes que o presidente considera inimigos.

Ainda é muito cedo para saber as implicações a longo prazo desta oposição cada vez mais visível, mas não há dúvida de que o presidente Trump tem pouco a celebrar: seus primeiros100 dias foram muito ruins.

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