Índice Big Mac revela: a Argentina ainda é um destino barato?

Por Carlos Castro*

A Argentina passou por uma mudança em sua política cambial. Em abril de 2025, o governo de Javier Milei encerrou o “cepo cambial” — um conjunto de restrições que limitava o acesso ao dólar desde 2019 — e adotou um câmbio flutuante com bandas entre 1.000 e 1.400 pesos por dólar, ajustadas em 1% ao mês. A medida também extinguiu o limite mensal de US$ 200 que os argentinos podiam comprar no câmbio oficial. O objetivo do governo é estabilizar a economia, atrair investimentos, recompor as reservas do Banco Central e abrir caminho para um cenário de menor inflação e maior previsibilidade cambial.

Segundo o governo e analistas de mercado, a nova política — alinhada a um pacote de US$ 20 bilhões acertado com o FMI — deve criar uma base mais sólida para o crescimento econômico no médio prazo. O Banco Central poderá intervir quando o câmbio ultrapassar os limites definidos pelas bandas, garantindo maior controle sobre a volatilidade.

Mas o que isso muda na prática para quem pretende visitar o país? E, afinal, ainda compensa fazer turismo na Argentina?

Uma forma simples de avaliar se o destino está caro ou barato é o Índice Big Mac, criado pela revista The Economist em 1986. A lógica é comparar o preço do sanduíche em diferentes países, usando a mesma base de produto, para medir o poder de compra de cada moeda. Quando o Big Mac custa menos que nos Estados Unidos, por exemplo, a moeda está desvalorizada; se custa mais, está sobrevalorizada.

Durante anos, o índice apontou que o peso argentino estava altamente desvalorizado, o que tornava a Argentina muito barata para turistas estrangeiros. No entanto, com a distorção cambial e a inflação acumulada, esse cenário mudou. Em dezembro de 2023, um Big Mac custava cerca de US$ 3,83 no país. Seis meses depois, em junho de 2024, o mesmo lanche já custava US$ 6,55 — valor superior ao dos EUA, onde custa US$ 5,69. Ou seja, segundo o índice, a Argentina passou a ser considerada “cara” em termos relativos.

O novo regime trará mais transparência e previsibilidade para quem viaja, mas retirará o “bônus” que o câmbio paralelo oferecia anteriormente. Antes, o turista brasileiro trocava reais por muitos pesos no mercado informal e encontrava preços locais muito acessíveis. Agora, com a unificação cambial, essa margem de economia praticamente desapareceu.

Ainda assim, visitar a Argentina pode valer a pena — desde que o turista se prepare financeiramente. O câmbio continua flutuando, a inflação segue alta e os preços internos foram reajustados. Planejamento se tornou essencial. Veja orientações práticas para se organizar:

  • Acompanhe o câmbio nos dias que antecedem a viagem: use aplicativos ou sites confiáveis para acompanhar a cotação do peso argentino. Se identificar um momento favorável, compre parte do montante em espécie.
  • Troque moeda aos poucos: como o câmbio é flutuante, dividir a troca de valores ao longo da viagem pode ser vantajoso.
  • Prefira pagamentos em pesos argentinos: restaurantes, hotéis e comércios locais normalmente cobram mais caro se o pagamento for feito em dólar ou real.
  • Evite depender apenas do cartão de crédito: o IOF e a cotação no fechamento da fatura podem tornar a viagem mais cara. Use o cartão de forma estratégica.
  • Monte um orçamento com margem extra: os preços mudam com frequência. Uma margem de segurança evita imprevistos.
  • Consulte preços atualizados de hospedagem e alimentação: muitos sites ainda têm valores defasados. Priorize fontes recentes.
  • Tenha um plano de emergência: leve uma reserva em reais ou dólares para eventuais imprevistos.

O Índice Big Mac mostra claramente que a Argentina não está mais “barata” como antes. Os preços subiram, o câmbio deixou de favorecer o turista como antigamente, e o real continua desvalorizado frente ao dólar. Isso torna a viagem mais cara em termos relativos.

Por outro lado, a Argentina continua sendo um destino com grande apelo cultural, gastronômico e natural. Buenos Aires, Mendoza, Bariloche e outras regiões ainda oferecem experiências únicas por um custo que, mesmo mais alto, pode ser mais acessível do que destinos europeus ou norte-americanos.

A era do turismo barato ficou para trás. O fim do câmbio paralelo e a adoção do regime flutuante tornaram os preços mais realistas — e, para muitos brasileiros, mais altos. O Índice Big Mac mostra o que o bolso já sente: a vantagem cambial sumiu.

Hoje, o diferencial não está mais no câmbio, mas na preparação. Quem viaja com orçamento definido, acompanhando as cotações e atento aos custos locais, ainda pode viver uma ótima experiência. Mas quem embarca sem planejamento, esperando encontrar a Argentina de antes, corre o risco de se frustrar.

O país segue valendo a pena, com bom custo-benefício — mas agora, só para quem se planeja.

*Coluna escrita por Carlos Castro, planejador financeiro pessoal, CEO e sócio fundador da plataforma de saúde financeira SuperRico

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