PM distribui 3,4 mil capacetes à prova de bala a policiais que atuam em operações; em 4 anos, 46 morreram com tiros na cabeça


Entre 2020 e 2024, 112 policiais foram baleados na cabeça; 41% morreram. Além de proteger o policial, medida quer acabar com sequelas de quem é ferido por disparos. PMs encenam operação em favela com o uso de capacete à prova de balas
Entre 2020 e 2024, 112 policiais militares do Rio de Janeiro foram baleados na cabeça quando estavam em serviço. Desse total, 41% morreram e os outros 59% que sobreviveram estão com sequelas, de acordo com levantamento da Diretoria Geral de Saúde da corporação.
Por isso, a Secretaria da Polícia Militar decidiu colocar em prática o que já era esperado há tempos pelos policiais: todos os integrantes de unidades operacionais dos batalhões ou de grupos especiais da corporação têm agora o seu capacete balístico – à prova de balas.
Foram distribuídos 3.395 capacetes para os policiais que estão diariamente em operações nas ruas do Rio de Janeiro, principalmente, nas comunidades.
“Todo policial que precise atuar em área conflagrada vai ter o capacete balístico. Isso vai garantir a segurança necessária ao policial. Muitos deles precisam entrar na comunidade durante os tiroteios e quanto mais protegido ele estiver, melhor”, afirma o tenente-coronel Rafael Sepúlveda, subchefe operacional do Comando de Operações Especiais (COE), da Polícia Militar do RJ.
Capacetes balísticos foram distribuídos pela Polícia Militar a todas às unidades especiais e batalhões que atuam em comunidades
Divulgação/PMERJ
O Equipamento de Proteção Individual (EPI) já está com policiais lotados no Núcleo de Apoio às Operações Especiais (Naoe), responsável por retirar as barricadas das comunidades, como também, dos agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope).
Integrantes dos dois grupos ouvidos pelo g1 relataram que os equipamentos garantem uma maior segurança nas ações e reduz preocupação com sequelas caso sejam feridos.
Estado condenado por falta de capacete
A falta desses EPIs já levou o governo do RJ ser condenado, em 2018, a pagar uma indenização à família do subtenente Paulo Roberto Medeiros Correa, baleado durante uma operação no Morro da Mangueira, na Zona Norte da cidade.
O policial foi baleado na cabeça na ocasião e disse que aconteceu por não usar o equipamento.
Para a juíza Alessandra Cristina Tufvesson, a responsabilidade é do estado que deve fornecer o capacete.
“O estado fornecerá aos servidores militares os equipamentos de proteção individual adequados aos diversos riscos a que são submetidos em suas atividades operacionais”, determinou a magistrada que apontou o artigo 91, parágrafo 11, da Constituição do RJ.
Para a juíza, a responsabilidade foi do estado que deve fornecer cuidados ao policial que sofreu com sequela de um trauma crânio-encefálico, que levou a alterações cognitivo-comportamentais e de linguagem. O ferimento impediu que o subtenente seguisse na PM, e levou o estado a ser condenado a pagar uma indenização ao policial.
Equipes do Núcleo de Apoio às Operações Especiais (Naoe), da PM, também receberam capacetes balísticos para atuar na retirada de barricadas
Divulgação/PMERJ
Casos se repetem
Ao longo dos anos, os casos de policiais baleados na cabeça em operações não pararam de acontecer, como mostram os números abaixo.
PMs mortos baleados na cabeça:
2020 – 9
2021 – 13
2022 – 8
2023 – 8
2024 – 8
TOTAL – 46
PMs feridos na cabeça:
2020 – 9
2021 – 13
2022 – 13
2023 – 16
2024 – 15
TOTAL – 66
Total de PMs atingidos na cabeça:
2020 – 18
2021 – 26
2022 – 21
2023 – 24
2024 – 23
TOTAL – 112
Capitão Galvão foi morto em operação no Rio
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São histórias como a do policial militar Leonardo Maciel da Rocha, de 33 anos, atingido na cabeça durante uma operação a Vigário Geral, na Zona Norte, em 2023.
A operação pretendia verificar se traficantes faziam uma reunião para determinar o roubo de cargas e arrecadar dinheiro para comemorar o aniversário do chefe do tráfico de drogas no Complexo de Israel – que engloba Vigário Geral e outras comunidades.
O policial morto foi atingido por um tiro na cabeça dentro do blindado. A bala entrou por uma das aberturas laterais do caveirão, que permitem aos policiais atirarem. O policial trabalhava havia 12 anos na PM.
Outro caso foi o do capitão Rafael Galvão da Costa, de 41 anos. Em julho de 2024, ele participava de uma operação 3° BPM (Méier) no Morro do Urubu, em Pilares, na Zona Norte, quando houve uma troca de tiros entre PMs e bandidos.
O agente foi socorrido por colegas e levado para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, mas não resistiu aos ferimentos. Galvão estava na PM desde 2009. Ele deixou esposa e dois filhos.
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