Analistas das federais querem ganhar o dobro

Os analistas de TI das universidades e institutos de educação do governo federal querem dobrar o seu salário.

A jogada é trocar de plano de carreira, saindo do plano de carreira geral dos funcionários técnico administrativos da educação (PCCTAE, na típica sigla indizível do governo federal) e entrar na carreira de analistas de TI do Ministério da Gestão.

O Ministério da Gestao funciona como o RH do governo federal. Os analistas de TI de lá começam a carreira ganhando R$ 11.150.

Os analistas das federais criaram no ano passado a Associação dos Servidores de Tecnologia da Informação das Instituições Federais de Ensino (ATIFES), visando promover essa causa, entre outras. 

Segundo o Convergência Digital, que acompanha de perto o funcionalismo público de TI, os analistas em questão são 7 mil servidores públicos, que atendem 69 universidades federais e 40 Institutos com mais de 2 milhões de alunos. 

No quadro geral de todos os funcionários públicos ligados a essas instituições, no entanto, os analistas e técnicos não chegam a 6% do total.

O principal argumento dos analistas das federais vem do próprio Ministério da Educação, que em setembro de 2023 apontou em um relatório interno que os salários estavam muito abaixo de colegas no Serpro e Dataprev, as grandes estatais de TI, ou mesmo dos analistas ligados ao Ministério da Gestão.

Os salários baixos, por sua vez, causariam a saída de profissionais, prejudicando as próprias instituições de ensino federais, um problema a ser combatido com salários maiores, dentro do raciocínio da Atifes.

“Há uma grande evasão nos patamares iniciais da carreira do servidor da área de TI que encontra oportunidades muito melhores na iniciativa privada ou migração de carreira através de outro concurso público”, diz o presidente da Atifes, Ubirajara Cesário.

As cifras dão razao à Cesário, pelo menos no que tange a rotatividade de profissionais. Informações do governo citadas pela Convergência Digital apontam que foram nomeados 3091 servidores para cargos de analistas nas nas instituições federais de ensino entre 2014 e 2023. No mesmo período, 2,8 mil profissionais deixaram as mesmas posições. 

Segundo a Atifes, 61,43% dos aprovados em concursos nem sequer chegam a assumir os cargos, porque já arrumaram algo melhor no meio tempo.

A Atifes está seguindo passo a passo a cartilha criada pela Associação Nacional dos Analistas de TI (Anati), uma entidade representativa dos analistas de TI atuantes no Ministério da Gestao, criada em 2010.

A Anati já está mais adiantada no quesito representatividade, participando ativamente de reuniões no ministério, organizando protestos e até uma operação padrão.

A argumentação é a mesma: os analistas de TI do funcionalismo ganham pouco, tornando as vagas pouco atrativas e gerando assim rotatividade e falta de mão de obra. 

A situação se explica em parte pela mudança do perfil do funcionário público brasileiro. Olhando o perfil dos integrantes da Atifes e Anati no Linkedin, é possível reconhecer um padrão de profissionais jovens, que já passaram em média uns 10 anos em Brasília ou no serviço, trocando de posições com alguma frequência. 

É o perfil do “concurseiro”, que encara uma carreira no setor público de uma maneira parecida com o setor privado, bem diferente do famoso “Barnabé”, eternizado pelo quadrinista Henfil no Pasquim nos anos 70.

A elevação do status desse tipo de profissional dentro da administração pública parece uma consequência natural da digitalização crescente do governo. Os ataques cibernéticos frequentes mostram que alguma coisa está mal. 

Por outro lado, as empresas de TI começaram a demitir nos últimos anos, a inteligência artificial está aí e ninguém sabe como ela deve afetar o trabalho dos profissionais, então não é como se uma carreira segura no funcionalismo público não tivesse atrativos. 

No final das contas, além da discussão sobre a estrutura ideal da área de TI do governo e dos salários que se devem pagar, é preciso ver a realidade dura do princípio do “quem não chora não mama”. 

Categorias de nicho podem ser muito eficazes em impor suas pautas e obter grandes salários. 

Talvez o exemplo mais representativo disso a nível federal sejam os auditores fiscais da Receita Federal. 

A diferença é que eles atuam numa estrutura sindical e vira e mexe estão organizando alguma greve, durante as quais o governo não arrecada.

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