Chocolate de baixa qualidade na Páscoa: entenda os riscos para a saúde das versões ‘puro açúcar’


Um produto precisa ter no mínimo 25% de cacau para se chamar chocolate no Brasil.
Quanto maior o teor de cacau, mais benéfico o produto será para a saúde. Chocolate de baixa qualidade na Páscoa: os riscos para a saúde das versões ‘puro açúcar’
💹 🍫 A disparada do preço do cacau no Brasil contribui para a oferta de ovos e barras de chocolate cada vez menores e com qualidade nutricional inferior. Mas como saber identificar um chocolate de boa qualidade e um ruim? Como um chocolate pouco nutritivo pode prejudicar a saúde? E como identificar o que de fato é chocolate e o que não é?
Abaixo, nesta reportagem, você vai entender:
O que faz um chocolate ser mais ou menos nutritivo?
Como interpretar o rótulo do chocolate?
Quais os tipos de chocolate por teor de cacau?
Como a qualidade nutricional dos chocolates diminui?
Qual o limite aceitável de chocolate e açúcares por dia?
Quais os ricos do consumo em excesso de chocolate e açúcar?
Chocolate de baixa qualidade na Páscoa: entenda os riscos para a saúde das versões ‘puro açúcar’
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1 -📋 👍👎 O que faz um chocolate ser mais ou menos nutritivo?
Desde 2005, um produto precisa ter no mínimo 25% de cacau para se chamar chocolate no Brasil (na Europa, é 35%). ⚠️Isso significa que os 75% restantes da receita podem ser de açúcares, leite e gorduras.
🌰 Quanto maior o teor de cacau, mais benéfico o produto será para a saúde, pois maior será a concentração de antioxidantes, minerais e compostos bioativos que trazem benefícios reais.
Os chocolates amargos, com altos teores de cacau, a partir 70%, entram na lista dos chocolates mais saudáveis.
Produtos que levam a especificação “sabor chocolate” não são considerados chocolate propriamente ditos, pois possuem menos de 25% de cacau na composição.
⚠️ O chocolate branco deve ser ingerido com ainda mais moderação. Isso porque ele não contém massa de cacau (a parte escura do grão que carrega os flavonoides e antioxidantes), e sua composição é basicamente manteiga de cacau, açúcar e leite. Pela Anvisa, ele precisa ter no mínimo 20% de sólidos totais de manteiga de cacau. Apesar de não conter massa de cacau, o chocolate branco ainda é considerado chocolate por conter manteiga de cacau, que é a gordura natural extraída do grão.
2 – Como interpretar o rótulo do chocolate?
Verifique a ordem dos ingredientes (essa lista de ingredientes costuma aparecer abaixo da tabela com informação nutricional): se o primeiro ingrediente for cacau, significa que ele está presente em maior quantidade. Se o primeiro ingrediente for açúcar, há mais açúcar do que cacau no produto.
O ideal é sempre consumir chocolates com menor índice de gordura, açúcar, carboidratos, sódio e aditivos artificiais. ⚠️ ATENÇÃO! O açúcar também pode aparecer com outros nomes, como sacarose, xarope de glicose, xarope de milho ou dextrose!
Opte pelos que não têm “gordura vegetal”, nem “gordura trans”, proibida desde 2023 no Brasil.
Um chocolate de boa qualidade deve conter apenas manteiga de cacau, como fonte de gordura. O ideal é que a concentração dela fique entre e 30% e 40%.
A gordura vegetal hidrogenada (ou parcialmente hidrogenada) e óleos como os de palma, palmiste, soja e de coco são os substitutos mais comuns da manteiga de cacau indicam qualidade inferior.
Produtos rotulados como “sabor chocolate”, “cobertura fracionada” ou “cobertura hidrogenada” e não como chocolate propriamente dito estão entre os de baixa qualidade.
Alguns de má qualidade gorduras interesterificadas (aquela utilizada para solidificar os óleos), que podem prejudicar a saúde cardiovascular e a sensibilidade à insulina.
Versões que têm açúcar como primeiro ingrediente elevam o risco de obesidade, diabetes tipo 2 e outras doenças metabólicas, destaca a nutricionista especializada em emagrecimento e Psiquiatria Nutricional e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Adriana Molica: “Os primeiros ingredientes devem ser: massa de cacau, manteiga de cacau e não açúcar ou gordura vegetal”.

3 – Quais os tipos de chocolate por teor de cacau?
Molica explica que a legislação brasileira não especifica classificações oficiais para os diferentes tipos de chocolate com base no teor de cacau, como “amargo”, “meio amargo” ou “ao leite”. Essas denominações são utilizadas comercialmente e podem variar entre os fabricantes. Geralmente, considera-se:
Chocolate Amargo: contém uma alta porcentagem de cacau, geralmente de 70% a 100%.
Chocolate Meio Amargo: possui teor de cacau entre 50% e 70%.
Chocolate ao Leite: apresenta uma proporção menor de cacau, entre 25% e 50%, com adição de leite e açúcar.
Chocolate Diet: é aquele que não contém açúcar (sacarose), sendo voltado principalmente para pessoas com diabetes. No entanto, para manter sabor e textura, muitos chocolates diet compensam a ausência de açúcar com mais gordura, o que pode resultar em um produto tão ou mais calórico que o convencional. Por isso, não é indicado como opção de emagrecimento.
Chocolate Light: É aquele que apresenta redução mínima de 25% em algum nutriente, como açúcar, gordura ou calorias, em comparação com a versão original. A composição varia bastante entre marcas, por isso é fundamental ler os rótulos para entender qual nutriente foi reduzido e qual pode ter sido aumentado.
⚠️ ATENÇÃO: ➡️ O fato de se substituir a manteiga de cacau por gorduras alternativas ou o aumento do teor de açúcar não necessariamente provoca mais riscos à saúde do que o consumo excessivo de chocolate com alto teor de cacau que, geralmente, possui alto teor de gordura.
“O percentual de 30 a 40% de manteiga de cacau garante uma textura mais cremosa e um chocolate que derrete suavemente na boca, o que não acontece quando a manteiga de cacau é substituída por outras gorduras vegetais, tendo uma perda de qualidade e sabor”, explica o médico nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
4 – Como a qualidade nutricional dos chocolates diminui?
Nos ovos de Páscoa, para suavizar o sabor amargo característico do cacau e atender ao paladar da maioria dos consumidores – especialmente das crianças – há um aumento no teor de açúcar e gorduras, elevando o índice calórico.
Além disso, para cortar custos, ingredientes mais nobres são substituídos por outros menos nobres.
A preocupação é que a indústria opte por reduzir o teor de cacau nos ovos de Páscoa e aumente a quantidade de gordura, leite e açúcar, para equilibrar os custos, pois é no cacau que se concentram as maiores propriedades benéficas para a saúde, segundo Ribas Filho.
“Quando a indústria faz a substituição do cacau por outras substâncias menos nobres, ela pega um alimento funcional e o transforma em um alimento ultraprocessado. E a população brasileira tem que cada vez mais fugir destes alimentos, porque eles estão associados a uma redução não só da qualidade de vida quanto da duração da vida”, destaca o médico nutrólogo Noé Alvarenga.
A engenheira de alimentos da Unicamp Priscila Efrain explica que parte dos benefícios à saúde advindos do consumo de chocolate são provenientes dos polifenóis, presentes predominantemente nos sólidos não gordurosos – o que sobra após a extração da manteiga de cacau. Por isso, quanto maior o teor de cacau de um chocolate, maior será o teor desses sólidos e, consequentemente, dos compostos benéficos à saúde.
“Os teores de polifenóis presentes no chocolate variam muito em função da formulação e de como foram feitas as etapas prévias de processamento do cacau (fermentação, torração, alcalinização – se foi feita). Essa variação dificulta muito ter um percentual fixo de cacau que possa conceder benefícios à saúde. Porém, considerando os estudos científicos já realizados, pode-se afirmar que o consumo de chocolates com teores de cacau próximos a 70% seria mais recomendado”, afirma Efrain.
“Os chocolates amargos, com mais de 70% de cacau oferecem mais benefícios à saúde devido aos flavonoides, compostos bioativos que atuam na prevenção de várias doenças e possuem propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e antidepressivas. Além disso, são fontes de fibras e possuem pouco ou nenhum leite, reduzindo a quantidade de gordura saturada, açúcar e sódio”, explica Ribas Filho.
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5 – Qual o limite aceitável de chocolate e açúcares por dia?
O consumo de chocolates com 25% de cacau deve ser moderado, pela maior quantidade de açúcar e gordura e menor de cacau. A recomendação é de, no máximo, 20g a 30g por dia (cerca de 2 a 3 quadradinhos de uma barra de 100g).
Se pensarmos em um chocolate mais amargo, com 70% ou mais de cacau, este consumo pode ser de 30g a 40g por dia (3 a 4 quadradinhos de uma barra de 100g), para se obter os benéficos para saúde, segundo Ribas Filho.
⚠️ O chocolate branco deve ser ingerido com ainda mais moderação, pois não contém sólidos de cacau, e sua composição é basicamente manteiga de cacau, açúcar e leite.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o consumo de açúcares artificiais não ultrapasse 10% da ingestão calórica total diária em pessoas sem doenças como diabetes, obesidade metabólica, gota ou excesso de ácido úrico.
Para ter benefícios adicionais, o órgão sugere uma redução para cerca de 5% de (açúcares livres) das calorias diárias, o que equivale a aproximadamente 25 gramas de açúcar por dia para um adulto com uma dieta de 2.000 calorias.
A American Heart Association (AHA) recomenda limites ainda mais baixos, indicando que os homens não consumam mais de 36 gramas e que as mulheres não ultrapassem 25 gramas por dia.
Já a Sociedade Brasileira de Hipertensão SBH recomenda uma média de 40g por dia, ressaltando que essa porção fornece cerca de 800mg de substâncias antioxidantes, especialmente flavonoides. Essas substâncias são responsáveis por auxiliar na vasodilatação e proteção dos vasos sanguíneos, fatores importantes para o controle da pressão arterial. Porém, não é qualquer chocolate que promove esses benefícios. Os efeitos positivos estão associados aos chocolates com cerca de 70% de cacau ou mais. Essa porção (de aproximadamente 45g) contém, em média:
270 kcal
20g de carboidratos
20g de gorduras
3g de proteínas
4g de fibras
6 – Quais os ricos do consumo em excesso de chocolate e açúcar?
A ingestão excessiva de chocolate e ovos de Páscoa – compostos na maioria das vezes por gordura, açúcar e leite – pode prejudicar o funcionamento adequado do fígado, causando náuseas, refluxo, diarreia, dor de cabeça, de estômago e mal-estar, destaca Ribas Filho.
Ingerir açúcares em alta quantidade pode contribuir para o aumento do risco de doenças metabólicas, como obesidade e diabetes.
No caso dos chocolates, as versões com mais açúcares não oferecem os mesmos benefícios antioxidantes e anti-inflamatórios dos chocolates com alto teor de cacau.
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