‘Xerifa’ da Rocinha: por onde anda Danúbia, ex-mulher do traficante Nem

Pouco mais de um ano após deixar a prisão, Danúbia de Souza Rangel, 41, ex-esposa do traficante Nem da Rocinha, que chegou a ficar conhecida como primeira-dama do tráfico no Rio, já soma mais de 80 mil seguidores no Instagram e compartilha a rotina longe das grades na rede social.

Tratamentos estéticos e nova gravidez. Em 27 publicações desde que foi solta, Danúbia postou fotos e vídeos de tratamentos estéticos que realizou, entre eles procedimentos odontológicos, harmonização facial e tratamentos capilares. Em janeiro deste ano, ela anunciou a nova gravidez em uma foto publicada ao lado do companheiro, o rapper Calvin. O casal será pai de uma menina.

Viagens e passeios de lancha. Em recentes publicações, ela mostrou que esteve em Maragogi, no litoral de Alagoas, e em uma pousada no interior do Rio de Janeiro. As fotos também incluem passeio de lancha e ida ao festival de música Rock in Rio.

Curso de apresentadora. Em maio do ano passado, a mulher compartilhou a foto de um certificado de conclusão de um workshop de apresentadora, ministrado pelo diretor de televisão Jorge Nassaralla.

“É incrível como no início do curso eu relutei tanto, minha vontade era sair correndo e desistir. Mas agora, olhando para trás, estou tão feliz por terem me incentivado a não desistir e persistir. Foram três dias de autoconhecimento e crescimento que eu nunca vou esquecer”, escreveu Danúbia.

A mulher também usa o perfil para divulgar serviços de clínicas e salão de beleza. Ela também compartilha selfies e a rotina com a família.

Danúbia anunciou gravidez em janeiro deste ano

 

PRESA POR OITO ANOS

Danúbia ficou presa por pouco mais de oito anos na zona norte do Rio. Ela estava detida no Instituto Penal Oscar Stevenson, em Benfica, quando foi solta, em janeiro de 2024 após cumprir a pena. A ex-esposa de Nem da Rocinha foi condenada pelos crimes de corrupção ativa e associação ao tráfico de drogas. Danúbia foi acusada de ter assumido o comando do tráfico de drogas da Rocinha, favela localizada na zona sul do Rio, após a prisão do então marido, o traficante Antonio Francisco Bonfim Lopes, preso desde 2011.

Ela nega os crimes. Um mês após deixar a prisão, Danúbia afirmou, em entrevista ao Domingo Espetacular, da TV Record, que não cometeu os crimes pelos quais foi condenada e cumpriu pena. “Inventaram que eu trazia recados de presídio federal [onde Nem está preso] para a Rocinha”, disse. Segundo a investigação da polícia, ela era responsável por transmitir as ordens de Nem aos traficantes da Rocinha. Além disso, também foi acusada de pagar propina a policiais militares para ter informações sobre ações na favela.

“Nunca tive envolvimento com o tráfico, nunca peguei em uma arma, nunca trouxe recado do presídio federal para a comunidade da Rocinha. Me associaram ao tráfico só porque eu era mulher dele na época”, acrescentou ao negar ter cometido os crimes. Ela se separou de Nem em 2017. Eles têm uma filha de 15 anos.

Recomeço. A mulher que já foi conhecida como a “Xerifa” da Rocinha, apelido que, segundo ela ganhou da imprensa, afirmou que não tem o mesmo pensamento de dez anos atrás e garante que está mais madura hoje em dia. “Estou recomeçando tudo do zero”, declarou. “Aprendi a valorizar mais a vida, as pessoas, entender que nem tudo na vida se resume a dinheiro”, complementou.

Atualmente, Danúbia não está mais na Rocinha. Ela ressalta que sua consciência está tranquila.

“Minha vida de luxo foi dentro de uma favela que é a favela da Rocinha. (…) Sempre fui uma pessoa diferenciada aqui devido a ter sido mulher do Nem, ter livre acesso de ir para alguns lugares, mas não de Xerifa porque eu dava ordem ou fazia maldade com alguém, foi um apelido que veio através da mídia”, disse Danúbia Rangel, em entrevista à TV Record.

HISTÓRICO

A história de Danúbia Rangel com o tráfico começa muito antes do relacionamento com Nem. Antes de se tornar a “Xerifa”, ela ficou conhecida como “Viúva Negra” no Complexo da Maré. Ela se casou com Luiz Fernando da Silva, o “Mandioca”, chefe do tráfico da comunidade e tiverem uma filha, Beatriz. A adolescente morreu em decorrência de uma pneumonia em 2012.

Em 2003, Mandioca foi morto em confronto com a polícia. Pouco tempo depois, Danúbia se envolveu com Marcélio de Souza Andrade, que tomou o lugar de seu ex-marido no comando do crime na Maré. Mas, em 2005, após uma tentativa frustrada de fuga da cadeia, Marcélio também foi morto por policiais. Aos 21 anos, Danúbia perdeu o segundo marido, o que rendeu a ela o apelido de “Viúva Negra”.

Danúbia conheceu Nem em 2008. Nessa época, ela deixou a Maré e se mudou para a Rocinha. Nem já era o líder dos criminosos na comunidade desde 2005, quando Erismar Rodrigues Moreira, o “Bem-Te-Vi”, foi morto pela polícia.

A mulher foi presa pela primeira vez em 2011, acusada de associação ao tráfico de drogas. Segundo a polícia, ela foi encontrada disfarçada dentro do salão de belezas de uma amiga e levada por agentes do BOPE (Batalhão de Operações Especiais). Após prestar depoimento, no entanto, foi solta por falta de provas. Poucos meses depois, Nem foi preso e levado para uma penitenciária em Campo Grande (MS).

A partir daí, Danúbia passou a se dividir entre o Rio de Janeiro e Campo Grande. Lá, ela chegou a abrir um salão de beleza. Três anos depois da prisão do chefe do tráfico na Rocinha, Danúbia foi presa. Em março de 2014, ela foi encontrada com dez aparelhos de telefone celular e três tablets com conexão à internet. Ela foi acusada de enviar recados de Nem para traficantes aliados. Em 2016, ela foi absolvida de uma das acusações de associação para o tráfico e acabou solta. No entanto, menos de um mês depois, a Justiça a condenou a 28 anos de prisão.

Danúbia conseguiu reduzir a sua pena. Condenação passou de 17 anos e quatro meses de prisão para oito anos, dois meses e 20 dias. Em 2020, a Justiça acolheu pedido da defesa e diminuiu a pena de Danúbia.

Essa foi a segunda vez que a defesa conseguiu reduzir a pena. Em março de 2016, ela havia sido condenada a 28 anos de prisão por associação ao tráfico, corrupção ativa e tráfico de drogas. Em 2018, ela foi absolvida da acusação de tráfico de drogas e teve a pena reduzida para 17 anos e quatro meses de prisão.

Na cadeia, ela chegou a conseguir a progressão de pena para o regime semiaberto. Nessa modalidade, os presos podem ganhar autorização para deixar o presídio e trabalhar, estudar ou visitar a família. Mas foi punida e colocada em isolamento na cadeia por tirar “selfies” dentro da cela.

Em 2020, a Justiça decidiu que Danúbia Rangel Souza deveria voltar a cumprir pena em regime fechado. Em outubro de 2019, uma vistoria encontrou um celular na prisão com uma selfie de Danúbia. Ela recebeu uma punição administrativa da direção da unidade, sendo colocada em isolamento e tendo visitas suspensas.

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