Abelhas em imagem de Santa: especialista vê ‘enxame viajante’ e explica comportamento de insetos


Entomologista Osmar Malaspina acredita abelhas deixarão em breve o local na Paróquia Santa Rita de Cássia, em Leme, no interior de São Paulo. Padre vê ‘sinal de Deus’. Abelhas ‘pousam’ em rosto da imagem de Santa Rita de Cássia
Um vídeo de uma colmeia de abelhas no rosto de uma imagem da Santa Rita de Cássia, em uma paróquia de Leme (SP), viralizou nas redes sociais na segunda-feira (7). A imagem fica em uma área na entrada da igreja a quatro metros de altura. Os insetos estão no local desde sexta (4).
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O caso gerou ainda mais comoção pela relação com um milagre atribuído à santa e relacionado a abelhas, em 1381, na Itália. (veja abaixo como foi o milagre). O padre da paróquia, Eduardo Milaré, vê um “sinal de Deus”.
Um especialista ouvido pelo g1 explica que esse comportamento dos insetos é comum e vê um ‘enxame viajante’ que está descansando e logo deixará o local. Como estão há muito tempo no local, ele também acredita que elas tenham perdido a rainha no caminho e estão desorientadas. (entenda mais abaixo).
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Por que as abelhas estão na cabeça da imagem da santa?
O entomologista e professor do Instituto de Biociências (IB) da Unesp de Rio Claro Osmar Malaspina
Wesley Almeida/EPTV/arquivo
O entomologista Osmar Malaspina, de 76 anos, é professor de pós-graduação do Instituto de Biociências (IB) do Centro de Estudos de Insetos da Unesp de Rio Claro. Ele tem cinco décadas de pesquisas focadas em abelhas e suas relações com os seres humanos e meio ambiente.
Osmar explicou que os insetos fazem parte de um “enxame viajante”. Eles estão migrando e, em breve, deverão deixar o local.
“O que está acontecendo é um comportamento natural das abelhas, que saíram de uma colmeia e estão mudando de lugar. É temporário”, disse.
Descanso na busca de novo local para colmeia
Imagem de Santa Rita de Cássia com o rosto ‘tomado’ por abelhas
Arquivo Pessoal
O entomologista explicou que grupos de abelhas chamadas “batedouras” saem da colônia para procurar um outro local adequado. Os grupos de dividem e depois voltam para a colônia com a informação. Ao encontrarem o futuro “lar”, elas disputam com o outro grupo o melhor lugar.
“Se acharem um lugar só, é mais fácil porque elas se juntam à rainha e vão para aquele local. Agora se cada grupo achou um lugar, as abelhas fazem uma disputa, como se estivessem em uma assembleia, efazem uma votação, claro que de outra maneira. Os insetos até se batem para disputar qual dos lugares irão para convencer o outro grupo sobre o espaço escolhido”, disse.
Malaspina disse que a cabeça da santa não é o local escolhido para a colmeia porque é um lugar aberto.
“Um enxame permanente não fica em local aberto. Elas são viajantes e pararam para descansar. [O descanso] pode durar 24h, 48h e um pouco mais. Não ficam em local aberto e desabrigadas. O lugar que escolhem são fechados ou protegidos da chuva”, contou.
Abelhas podem estar sem rainha e desorientadas
No caso de Leme, as abelhas estão na cabeça da santa há mais de 48 horas, segundo o padre do local. Esse período de tempo não é comum, segundo o especialista, mas há uma explicação. As abelhas podem ter perdido a abelha rainha e, por isso, estão desorientadas.
Mas por que elas ficam juntinhas? O entolomogista explicou que as abelhas são insetos químicos e o que rege uma colônia é a substância química. Assim, elas se comunicam e atraem outros da mesma espécie.
“Elas estão eliminando uma substância química chamada de agregação, o feromônio, por isso que ficam juntinhas. Para cada comportamento, tem uma substância que rege, se é de migrar, vai ter uma substância, se estão em perigo, é outra substância, e assim por diante”, disse.
Alguém pode ter colocado algo para atrair as abelhas?
O entomologista acha pouco provável alguém ter colocado alguma substância açucarada no local para atrair os insetos.
“Dificilmente alguém passaria algo ali para atrair, e, mesmo que passasse, elas não ficariam tanto tempo. O que pode ter acontecido é que elas perderam a rainha no caminho e, se perderam, estão desorientadas. Não tendo rainha para levar, elas morrem porque ela é a única que reproduz. As abelhas vivem 40 dias e morrem. Já a rainha vive entre 1 e 3 anos”, contou.
O cientista acredita que em breve elas devem deixar o local.
Abelhas pousam em imagem de Santa Rita de Cássia em paróquia de Leme
Milagre de Santa Rita de Cássia em 1381
Quando viu a cena na paróquia em Leme, o padre Eduardo Milaré imediatamente lembrou do milagre atribuído a Santa Rita de Cássia.
Beatificada em 1627, Santa Rita de Cássia é conhecida por “eventos extraordinários”. Um deles quando ainda era bebê, em 1381, e foi deixada em um cesto enquanto os pais trabalhavam na roça.
Naquela ocasião, um enxame de abelhas brancas começou a “tomar conta” do rosto da menina e depositar mel em seus lábios, sem causar qualquer ferimento. Um agricultor que havia ferido a mão com uma enxada tentou espantá-las e, com o movimento, as feridas dele teriam cicatrizado.
“Não posso dizer que é milagre, mas não posso negar um sinal de Deus. As abelhas poderiam formar esse ninho em qualquer lugar. Nós temos uma torre, o próprio nicho, algum cantinho, parede da igreja, em alguma lâmpada, o telhado…”, disse.
Segundo Milaré, apesar de o fato comover, o Corpo de Bombeiros da cidade foi chamado para dar mais segurança aos fiéis. “Eles fizeram uma avaliação. Disseram que são abelhas passageiras e daqui uns dias vão embora. Vamos aguardar ver se saem mesmo, porque, se os bombeiros fizerem a retirada, podem acabar matando as abelhas. Então vamos tentar a melhor solução possível.
Local onde está imagem de Santa Rita de Cássia, em paróquia de Leme
Arquivo pessoal
O padre também contou ao g1 que já visitou a cidade de Cássia, na Itália, onde a santa teria vivido, e fez outra associação.
“Lá, ao lado da janela da cela de Rita, tem uma colmeia, e as abelhas sempre chegam na Semana Santa e vão embora no dia 22 de maio. E nós estamos a uma semana da Semana Santa. A gente se emociona, tem rezado e pedido a Deus para que possamos compreender esse sinal”, afirmou.
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