Tarifas nos EUA: Solução para a economia ou um tiro no pé?

A política econômica dos Estados Unidos pode sofrer grandes mudanças caso Donald Trump retorne à presidência. O ex-presidente defende uma estratégia protecionista baseada na elevação de tarifas de importação para fortalecer a indústria americana e incentivar a produção doméstica. Mas será que essa abordagem pode realmente impulsionar a economia dos EUA? Em entrevista ao programa BM&C News, Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, analisou os impactos dessa estratégia no mercado de trabalho e na competitividade do país.

Segundo Cruz, o principal argumento de Trump é a necessidade de reindustrializar os Estados Unidos e reduzir a dependência de importações, especialmente da China. No entanto, os dados de desemprego apontam uma realidade diferente. “A taxa de desemprego nos EUA está em torno de 4%, um número historicamente baixo. Isso indica que não há uma crise de empregos industriais como no passado, mas sim uma transformação estrutural na economia”, destacou o especialista.

Indústria x Automação: o verdadeiro desafio

O avanço da automação e da tecnologia tem sido um fator crucial na mudança do setor industrial americano. Gustavo Cruz relembra que, décadas atrás, os trabalhadores rurais foram forçados a migrar para as cidades devido à mecanização do campo. Agora, um movimento semelhante ocorre com os operários de fábrica, que perdem espaço para máquinas mais eficientes e inteligentes. “O chão de fábrica mudou. Com a automação, muitas indústrias operam até mesmo sem iluminação, economizando energia e reduzindo a necessidade de mão de obra”, explicou.

Essa transição não é um fenômeno exclusivo dos Estados Unidos, mas sim um desafio global. Muitos governos têm dificuldades para lidar com essa mudança e preparar os trabalhadores para novas funções no mercado digital e de tecnologia. “As pessoas que antes trabalhavam em fábricas agora precisam se adaptar a funções diferentes, como logística e tecnologia. Mas nem todos conseguem essa transição com facilidade“, observou Cruz.

Tarifas e protecionismo: um impacto real?

A imposição de tarifas sobre produtos importados pode até levar algumas empresas a manterem sua produção nos EUA, mas a um custo mais alto, o que reduz a competitividade do país. “Se Trump conseguir erguer essas barreiras comerciais, a indústria americana pode crescer, mas será uma indústria menos eficiente e com custos mais elevados“, alertou o especialista.

Além disso, há uma insatisfação crescente entre trabalhadores que perderam empregos industriais bem remunerados e tiveram que aceitar funções com salários mais baixos, como em centros logísticos e armazéns. “Trump se apoia nesse descontentamento, prometendo trazer fábricas de volta, mas a realidade econômica e tecnológica atual torna esse objetivo cada vez mais difícil“, acrescentou Cruz.

O futuro do mercado de trabalho nos EUA

O especialista destaca que a tendência de digitalização e automação continuará redefinindo o mercado de trabalho, independentemente das políticas tarifárias adotadas. “O futuro não caminha para o retorno de empregos fabris tradicionais, e sim para uma economia cada vez mais orientada à informação e tecnologia“, afirmou.

Portanto, mesmo que medidas protecionistas sejam implementadas, elas podem não ter o efeito esperado sobre a geração de empregos industriais. “O grande desafio não é apenas trazer as fábricas de volta, mas capacitar a força de trabalho para os novos empregos do futuro“, concluiu Gustavo Cruz.

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