Cientistas da USP identificam fragmentos de microplástico no cérebro de oito pessoas

Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo identificaram fragmentos de microplástico no cérebro de oito pessoas que habitaram a cidade de São Paulo por ao menos cinco anos. O projeto contou com apoio da Fapesp e da ONG holandesa Plastic Soup.

Após a morte dessas pessoas, foi realizada autópsia nos corpos em que foram coletadas amostras de bulbo olfatório, primeira parte do sistema central, localizado bem acima do nariz. Essas estruturas ligam-se a neurônios que identificam moléculas de odor e podem ser vias de entrada de partículas de “objetos estranhos” e microrganismos no cérebro.

Após congelarem os exemplares do bulbo olfatório, os estudiosos os fatiaram e inseriram enzimas para tornar possível identificar partículas que estivessem em regiões profundas. Esse material foi encaminhado ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, onde as amostras foram iluminadas por um tipo de luz altamente energética por uma semana com feixe de radiação infravermelha.
Em cada pedaço de bulbo avaliado os pesquisadores encontraram de 1 a 4 partículas de microplástico, com dimensões variadas do tamanho de bactérias. “Não havia grande quantidade de microplásticos nas amostras do bulbo olfatório, mas, de fato, eles estavam lá”, declarou Thais Mauad, patologista que participou da pesquisa.
Os riscos envolvidos na grande ingestão de micro e nanoplásticos pela água e também via alimentos têm sido objeto de estudos e ainda não estão claros. Há suspeitas de que aditivos e produtos químicos inseridos nos plásticos possam afetar a saúde humana.
No início de 2024, pesquisadores da Universidade de Columbia, em Nova York, nos Estados Unidos, fizeram uma análise aprofundada sobre a presença de fragmentos de plástico em garrafas de água mineral.
Os resultados da análise de três marcas populares do produto nos Estados Unidos mostraram uma concentração bem maior que o imaginado do material.
O estudo se valeu do Espalhamento Raman Estimulado (SRS), técnica que utiliza dois lasers simultâneos nas amostras para detectar materiais microscópicos.
A análise concluiu que em um litro de água mineral engarrafada há 240 mil fragmentos de plástico.
A proporção é até cem vezes maior que as estimativas feitas anteriormente. Os pesquisadores verificaram a presença de entre 110 e 370 mil fragmentos de plástico por litro de água.
Do total, 90% se enquadravam no conceito de nanoplásticos (tamanho igual ou inferior a cem nanômetros, frações minúsculas).
No universo de plásticos encontrados, o mais comum foi a poliamida, uma espécie de náilon.
“É provável que venha (poliamida na água mineral) dos filtros plásticos usados para, em tese, purificar a água antes do engarrafe”, explicou o pesquisador Beizhan Yan, que integrou a equipe de estudos.
Outro plástico presente em abundância nas amostras foi o Polietileno Tereftalato, conhecido popularmente como PET (material comum na fabricação de garrafas).
De acordo com os especialistas, o PET pode entrar na água por exposição da garrafa ao calor ou por repetidas aberturas e fechamentos da tampa, por exemplo.
Poliestireno, cloreto de polivinila e polimetilmetacrilato também foram tipos de plástico identificados em quantidade significativa no estudo.
Estudo similar desenvolvido na Espanha chegou a resultados também alarmantes sobre a presença de plástico em garrafas de água mineral.
A pesquisa foi conduzida pelo Instituto de DIagnóstico Ambiental e Estudos da Água (IDAEA) e pelo Conselho Superior de Investigação Científica (CSIC) em parceria com o Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal).
Ao todo, 20 marcas de água mineral em garrafa foram objeto de análise e apenas uma não tinha microplásticos.
A análise encontrou em média 359 nanogramas de microplásticos por litro de água mineral, proporção similar à identificada em outro estudo prévio do mesmo consórcio com água de torneira.
“A principal diferença que encontramos é o tipo de polímero: na água da torneira encontramos mais polietileno e polipropileno, enquanto na água de garrafa detectamos principalmente tereftalato de polipropileno (PET), embora também polietileno”, explicou a pesquisadora Cristina Villanueva.

A partir dos dados, os pesquisadores espanhóis concluíram que uma pessoa habituada a beber dois litros de água mineral diariamente está ingerindo 262 microgramas de partículas de plástico por ano.
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