‘Tenho nada a perder, desgraça!’: veja como quadrilha de ladrões de celular ameaçava vítimas para desbloquear aparelhos


Operação Omiros, da Polícia Civil do RJ, mira quadrilha que age na Central do Brasil, no Calçadão de Bangu e no Centro de Duque de Caxias. Quadrilha de ladrões de celular ameaçava vítimas para desbloquear aparelhos
O RJ1 teve acesso às ameaças feitas pela quadrilha de roubo de celulares, alvo da Operação Omiros, da Polícia Civil do RJ, nesta terça-feira (18).
Segundo as investigações da Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD), quando os aparelhos eram desbloqueados pelos bandidos, eles conseguiam ter acesso a dados das vítimas e entravam em contato para intimidá-los.
Em uma delas, o criminoso manda a foto de uma arma e exige os dados para acessar o sistema do celular. Ele diz que sabe onde a vítima mora, e não tem nada a perder.
“Tenho seus dados, endereço, meu
interesse é a conta iCloud remove 11
Pro Max da conta
Tenho nada a perder
Remove Desgraça
Vai ter 10 minutos.”
“Nós percebemos que eles praticavam extorsão contra as vítimas para que elas liberassem as senhas. Eles conseguiam dados das vítimas, dados dos familiares das vítimas. Enviavam mensagens com fotos de armas, dados, expondo aquelas pessoas, ameaçando aquelas pessoas caso elas não liberassem essas senhas”, explicou o delegado Pedro Brasil.
Os agentes saíram para cumprir 43 mandados de prisão, expedidos pela 2ª Vara Especializada do Rio de Janeiro — grande parte dos alvos já havia sido presa anteriormente por crimes como roubo, receptação, estelionato e até tráfico de drogas. Em alguns endereços, equipes foram recebidas a tiros.
Os ladrões agiam no entorno da Central do Brasil, no Centro do Rio de Janeiro; no Calçadão de Bangu, na Zona Oeste; e no Centro de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Para garantir exclusividade no fornecimento, os chefes da quadrilha forneciam armas aos assaltantes e estabeleciam parcerias com traficantes a fim de “autorizar” os roubos em troca de parte dos lucros.
Até a última atualização desta reportagem, 37 pessoas tinham sido presas.
Escutas autorizadas pela Justiça
Durante 2 anos de investigação, a polícia interceptou ligações que revelam como os bandidos se organizavam.
Em uma escuta, autorizada pela Justiça, dois homens, identificados como Richard e Magno, conversam sobre onde os roubos vão acontecer.
“Ali no Norte Shopping. Não quer saber não. Ninguém vai na Barra não. É Méier. Eles só pegam iphone só lá. Fazem arrastão. Oito, dezesseis, se deixar”.
Magno é identificado em outro grampo. Eles conversam sobre a conta para transferir o dinheiro de uma vítima pelo aplicativo de celular.
Richard: R$ 100 mil na conta do cara.
Magno: Ué, eu te passo a minha agora. Eu tenho.
Richard: Vou sacar agora. Sacar agora.
Magno: Tenho cartão. Tenho tudo.
Em outra gravação, um ladrão reclama dos roubos.
Ladrão1: Só cacareco.
Ladrão 2: Nenhuma maçã?
Ladrão 1: Nenhuma.
Ladrão 2: Nós “vai” lá onde tu “gosta”, em Jacarepaguá.
A polícia descobriu que os ladrões também se aliaram a traficantes ligados ao Comando Vermelho (CV), para que os assaltos fossem liberados nos arredores de algumas comunidades. Em troca, os traficantes recebiam dinheiro.
“Eles eram associados a esses traficantes, forneciam armas para que eles praticassem os roubos e dividiam esses lucros. Então, acaba que essa modalidade criminosa fortalecia essas organizações, essas facções, que tanto aterrorizam a vida do cidadão fluminense”, disse o delegado.
Na casa de um dos suspeitos, Leandro do Nascimento, os agentes apreenderam celulares, cordões e relógios.
Como era a extorsão
Após o roubo, entrava em ação o núcleo de extorsão da organização criminosa, que utilizava diferentes métodos para coagir as vítimas.
Ameaças diretas via WhatsApp e SMS: fotos de armas de fogo e exposição de dados pessoais das vítimas, incluindo endereços e nomes de familiares, eram enviados para gerar pânico.
Uso de informações adquiridas na “dark web”: criminosos acessavam bases de dados clandestinas para personalizar as ameaças e aumentar sua eficácia.
Golpes de “phishing”: mensagens falsas induziam vítimas a inserir credenciais em sites fraudulentos, permitindo que os criminosos desbloqueassem os celulares e acessassem aplicativos bancários.
Pressão psicológica e chantagem financeira: algumas vítimas eram obrigadas a fazer transferências bancárias para evitar que suas informações fossem vazadas ou repassadas a facções criminosas.
Quando esses métodos falhavam, os celulares eram desmontados e vendidos como peças para assistências técnicas clandestinas.
O grupo também montou uma complexa estrutura financeira, com uso de laranjas, para lavar o dinheiro obtido com a venda dos celulares desbloqueados e das extorsões.
Além disso, a investigação revelou que os criminosos ostentavam luxo nas redes sociais, com a compra de bens de alto valor e festas financiadas pelo crime.
Omiros é uma palavra grega que significa “refém”.
Alguns dos presos na Operação Omiros
Reprodução/TV Globo
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