Como venture studios estão transformando a inovação

O mundo está passando por uma transformação acelerada impulsionada pela inovação tecnológica. As novas gerações já são consideradas digital-first e, cada vez mais, aprendem a viver de forma híbrida, transitando entre o mundo físico e digital de maneira fluida e natural. Em 2010, não imaginávamos a comodidade de pedir delivery pelo celular, sentado no sofá, com uma infinidade de opções de comida a preços variados. Também não era possível prever que o acesso ao transporte particular, antes restrito a cidades com frotas de táxis regulamentadas, se tornaria tão acessível e popular no mundo todo. Essas transformações evidenciam como a tecnologia vem moldando novas formas de consumo e interação social.

Além de mudar a vida cotidiana, a inovação tecnológica tem redefinido os modelos de negócio e a forma como as empresas operam. A capacidade de adaptação às mudanças e o uso estratégico das novas tecnologias se tornaram diferenciais competitivos. Novos modelos de negócio continuarão surgindo, exigindo que todos se adaptem a esses avanços e os integrem ao cotidiano para não ficarem para trás. A capacidade de inovação e a flexibilidade para se ajustar a essa nova realidade serão fundamentais para garantir o sucesso no mercado cada vez mais dinâmico e competitivo.

Dentro desse cenário de evolução acelerada, os venture studios, estão ganhando espaço no Brasil. Embora em muitos países esse modelo se configura como uma venture builder, aqui no Brasil o formato operacional muda de forma. Enquanto as venture builders normalmente trocam serviços dentro de sua expertise em troca de participação societária, e em muitos casos, não realizam um acompanhamento integral com esses founders em seu início de jornada. Esse modelo de negócio redefine a maneira como a inovação e o desenvolvimento de novos negócios são abordados, combinando a agilidade de uma startup com os recursos de uma grande empresa. Além disso, ele traz uma abordagem mais sistemática e colaborativa na criação de novos negócios.

De acordo com um relatório da Global Startup Studio Network (GSSN), startups criadas dentro de venture studios têm uma taxa de sucesso de 30% a 50% significativamente maior do que as startups tradicionais, cuja taxa de falha ultrapassa 90% nos primeiros cinco anos. Esse modelo vem ganhando espaço no Brasil à medida que investidores e empreendedores buscam alternativas mais eficientes e estruturadas para a inovação.

A abordagem, baseada na metodologia do professor húngaro Attila Szigeti, especialista em venture studios, enfatiza a criação sistemática de startups, promovendo um processo de validação contínuo e assertivo. Isso possibilita a geração e teste de múltiplas ideias simultaneamente, utilizando uma tese de investimento bem definida, parcerias estratégicas e uma metodologia própria para identificar oportunidades promissoras. Além disso, a alocação de recursos é feita de maneira eficiente, garantindo que novos modelos de negócio contem com equipes capacitadas, infraestrutura adequada e tecnologia de ponta, reduzindo falhas e evitando desperdício de recursos.

O tempo de lançamento de novos produtos no mercado também é otimizado, pois há um time interno dedicado a manter todas as iniciativas sincronizadas. Caso a solução inicial não se mostre viável, a possibilidade de pivotagem é rapidamente aplicada, permitindo mudanças ágeis no modelo de negócio sem comprometer o processo de inovação.

Nos últimos anos, o Brasil tem visto um aumento expressivo na adoção desse modelo. Um exemplo de destaque é o The Garage, um dos principais venture studios do país, que tem se consolidado como referência na criação de negócios inovadores. A atuação do The Garage demonstra o potencial desse modelo para impulsionar startups em setores estratégicos e garantir que novas ideias sejam validadas e escaladas com eficiência.

Além disso, o mercado brasileiro está passando por uma readequação na forma como os investimentos são direcionados. O crescimento acelerado de startups no país, aliado a um ambiente de venture capital mais criterioso, tem levado investidores a preferirem modelos com maior previsibilidade e controle sobre os riscos, o que favorece a ascensão dos ventures studios.

O futuro do mercado de inovação exige essa abordagem sistemática e colaborativa para o surgimento de novas empresas. Os ventures studios estarão liderando esta transformação, combinando metodologias ágeis com recursos corporativos para acelerar o processo de inovação. As empresas que adotarem essas mudanças, investindo em tecnologias emergentes, fomentando ecossistemas de inovação e utilizando modelos flexíveis de desenvolvimento de negócios, estarão mais bem posicionadas para prosperar nesse novo cenário. Aqueles que souberem aproveitar essas oportunidades estarão um passo à frente na construção do futuro.

*Por Flávia Fária, head de inovação da Nexmuv.

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