Brasil tem 10 milhões de CPFs envolvidos em golpes

Existem no Brasil 10 milhões de CPFs no Brasil suspeitos de participar de golpes, atuando como contas laranja para receber valores obtidos por criminosos.  

A cifra faz parte de um relatório encomendado pela Febraban, a federação dos bancos, e realizado pela Quod, uma empresa de análise de crédito fundada em 2017 por Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú Unibanco e Santander.

Os envolvidos no assunto parecem estar numa boa posição para fazer essa estimativa, para a qual foram usadas tecnologias de inteligência de dados e machine learning para encontrar padrões suspeitos de movimentações financeiras.

(Como tudo isso foi feito respeitando coisas como o sigilo bancário e a privacidade de dados pessoais é certamente uma conversa complexa).

O relatório ainda aponta que a maioria dos CPFs utilizados para os golpes são de jovens de 18 a 25 anos – que, em sua maioria, possuem várias contas abertas ao mesmo tempo. 

Algumas cidades aparecem com força no radar, com destaque para o aumento da incidência de aberturas suspeitas em Imperatriz do Maranhão, onde houve um aumento de 40%, Mogi das Cruzes, com 29% e São Gonçalo com 28%.

“A evolução das fraudes em contas laranjas também indica uma tendência de aliciamento de contas antigas e de planejamento a longo prazo. Com isso em vista, a tecnologia é capaz de apontar operações suspeitas, além de aprender e indicar comportamentos, que podem alertar para uma futura fraude”, explica Danilo Coelho, diretor de produtos e dados da Quod.

DENTRO DO SUBMUNDO DAS LARAS

As chamadas “conta laranja”, ou “Laras”, no jargão do crime. são usadas para fazer evasão fiscal ou lavagem de dinheiro oriundo de golpes. As contas podem ter sido abertas inclusive sem o conhecimento dos CPFs envolvidos. 

Em agosto de 2023, um estudo da Tempest mostrou como esse submundo opera.

Muitas vezes, pessoas comuns alugam suas contas bancárias para golpistas por meio de grupos na Internet, em troca de uma comissão sobre as transferências oriundas de fraudes. 

Em alguns casos colhidos pela Tempest, pessoas pediam comissões de 45% dos valores, oriundos de diferentes tipos de golpes que se aproveitam do Pix.

Um grau mais sofisticado de fraude são pessoas que emprestam seus rostos para validar a abertura de contas correntes digitais.

Com o uso de documentos falsos, criados utilizando a fotografia da pessoa cooptada, o fraudador abre a conta e gera um link para que o laranja faça a validação de prova de vida por meio de selfie e confirmação de imagem para abrir a conta. 

Em um caso selecionado pela Tempest, o fraudador solicita empréstimos e, após receber os valores, promete pagar R$ 2 mil, por cada contrato de empréstimo aprovado no nome da vítima da fraude.

Nas comunidades monitoradas pela Tempest, um dos temas do debate é a busca por bancos digitais menores, com menos requisitos de segurança para abertura de conta (o famoso “onboarding digital”). 

Isso explicaria porque a Febraban, que representa os interesses dos bancos grandes, decidiu pesquisar sobre CPFs envolvidos em contas falsas. 

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