Oferendas e despachos nas ruas; o que dizem religiosos de matriz africana em Alegrete

Os despachos nas ruas são oferendas religiosas, especialmente na Quimbanda e no Batuque do RS, que são deixadas em encruzilhadas para agradar e pedir proteção a Exu (Bará), um orixá importante dessas religiões. Essas oferendas, que podem incluir comida, bebida e outros itens, são uma forma de se conectar com o mundo espiritual e de fazer pedidos ou agradecimentos. 

Em Alegrete, é possível avistar em ruas, às margens do Rio Ibirapuitã e encruzilhadas da 566 com a RS 507 e também da RS 377 saída para Manoel Viana. Recentemente a redação do PAT recebeu dezenas de questionamentos sobre despachos em ruas centrais da cidade. O assunto gerou pauta e dois integrantes do Conselho Municipal do Povo de Terreiro foram convidados para abordar o tema.

O Babá Omioci Cristian Hoesel, da Casa Yle Àse wure Alagbede – Associação Águas Claras e o Babalorixá Pablo Soares Presidente do Conselho, estiveram na redação e conversaram sobre o tema. Cristian explica que Exu é considerado um guardião dos caminhos e das encruzilhadas, sendo um mediador entre o mundo físico e espiritual. As oferendas (despachos) são uma forma de agradá-lo e pedir sua proteção e auxílio em diversas situações. 

Ele fala que as encruzilhadas, ou cruzamentos de ruas, são vistas como locais de passagem entre dois mundos, um ponto de encontro entre o mundo dos vivos e o dos espíritos. É por isso que são escolhidas para as oferendas (despachos), pois representam um espaço ideal para a comunicação com o mundo espiritual.

As oferendas (despachos) podem ser feitos para diversos fins, como proteção, descarrego, prosperidade, agradecimento, entre outros. O conteúdo das oferendas pode variar dependendo do objetivo, e é comum o uso de comida, bebida (como cachaça) alimentos biodegradáveis, velas, e outros itens que são considerados agradáveis aos orixás, revela Pablo.

No entanto, os conselheiros são unânimes em afirmar que isso é uma prática cultural de largar oferendas (despachos) em certo lugares. “Temos atos esporádicos com animal”, rechaça Hoesel. Ele inclusive cita como racismo cultural o modo que encaram as oferendas. Já Pablo salienta que se tem feito um trabalho de conversa nas “Casas”, explicando o cuidado com o descarte do lixo, que acaba gerando um problema no dia seguinte. É um trabalho de formiguinha admite. “Conversamos com muitos pais de santo, mas infelizmente alguns acabam ignorando esse cuidado”, destaca.

No município são aproximadamente 150 terreiros e embora a prática seja mais comum nos terreiros (templos das religiões de matriz africana), os despachos também são realizados em locais públicos, como encruzilhadas, devido à importância simbólica desses locais. 

Conforme Cristian, é importante ressaltar que as oferendas (despachos) não são “macumba”, como erroneamente se pensa. “São rituais religiosos com um objetivo específico, que visam a comunicação com o mundo espiritual e a obtenção de proteção e auxílio”, cita o religioso. 

Os líderes afirmam que fazer oferendas na rua não é considerado um crime, até porque não existe uma lei que impeça em nível nacional. A liberdade de culto religiosa é garantida pela Constituição, somente se tivesse uma legislação local com regras específicas sobre a utilização de espaços públicos, porém sem prejudicar a sociedade religiosa que sofre com o descaso.

A Constituição brasileira garante a liberdade de consciência e de crença, incluindo o livre exercício dos cultos religiosos. Isso significa que, em geral, as pessoas podem praticar suas religiões, incluindo fazer oferendas, sem serem impedidas. Se uma oferenda for feita em frente à casa de alguém sem o consentimento do proprietário, pode haver uma questão de respeito e até mesmo uma falta de ordem, o que pode justificar a remoção da oferenda e suas ações legais.

O post Oferendas e despachos nas ruas; o que dizem religiosos de matriz africana em Alegrete apareceu primeiro em Alegrete Tudo.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.