Regime Fácil e Equal Weight: o futuro do mercado brasileiro

Imagine o mercado de capitais como uma grande avenida de mão dupla. De um lado, empresas buscam recursos para impulsionar seu crescimento. Do outro, investidores procuram oportunidades para fazer seu dinheiro render. Para garantir que esse tráfego flua de maneira segura e eficiente, é fundamental que existam regras claras, transparência nas ações e um ambiente equilibrado.

Nesse contexto, o Brasil tem investido no fortalecimento de sua infraestrutura econômica, promovendo iniciativas que ampliam o acesso ao mercado, aprimoram a governança e buscam maior equidade nos indicadores de desempenho. A implementação do regime Fácil pela CVM, os avanços em governança corporativa e a criação do índice Ibovespa B3 Equal Weight são exemplos de esforços voltados para esses objetivos. Essas iniciativas não apenas melhoram o funcionamento do mercado de capitais, mas também têm um impacto significativo na confiança que geram, não apenas entre empresas e investidores, mas também na sociedade como um todo. 

Vamos explorar como essas peças se conectam e como são essenciais para construir um mercado de capitais mais inclusivo, transparente e justo.

Regime Fácil: democratizando o acesso ao mercado de capitais

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) lançou o regime Fácil com o objetivo de ampliar o acesso ao mercado de capitais para pequenas e médias empresas (CMPs) com faturamento de até R$ 500 milhões anuais. A proposta, atualmente em consulta pública, busca reduzir custos regulatórios e flexibilizar requisitos, incentivando a captação de recursos por essas companhias e promovendo a diversificação de emissores.

O presidente da CVM, João Pedro Nascimento, destacou que o Brasil já possui o maior mercado de capitais da América Latina, superando o somatório de seus vizinhos sul-americanos, incluindo o México. Com o regime Fácil, a intenção é consolidar essa liderança e evitar a chamada “exportação” do mercado de capitais, fenômeno em que empresas buscam outros países para acessar recursos.

Nascimento enfatizou que o Fácil também favorece o mercado de dívida corporativa, oferecendo incentivos regulatórios mais expressivos para emissores que buscam crédito corporativo junto a investidores profissionais. Contudo, ele garantiu que a iniciativa mantém fortes sistemas de freios e contrapesos, assegurando a proteção dos investidores e a estabilidade do mercado. É nesse contexto que entra a governança corporativa, essencial para que o mercado de capitais se mantenha sólido e transparente.

Governança corporativa: a base da confiança no mercado

A confiança dos investidores, essencial para o bom funcionamento de qualquer mercado, depende diretamente das práticas de governança corporativa. No Brasil, a maioria das empresas abertas já adota comitês de auditoria e comitês de assessoramento ao conselho de administração, o que fortalece a transparência e reduz os riscos. 

O estudo da KPMG revelou que 90% das empresas abertas brasileiras possuem comitês de auditoria, enquanto 92% contam com comitês de assessoramento ao conselho de administração. Essas estruturas não só melhoram a operação das empresas, mas também alinham o mercado com as crescentes demandas por práticas ESG, uma tendência global que atrai investidores comprometidos com a sustentabilidade.

Enquanto o regime Fácil abre portas para novas empresas, a boa governança assegura que essas empresas operem com o nível de confiança necessário para manter a estabilidade do mercado. No entanto, à medida que mais empresas entram no mercado e a transparência aumenta, é igualmente importante que os índices de referência reflitam fielmente a diversidade dessas empresas. Surge, então, o papel do Ibovespa B3 Equal Weight.

Ibovespa B3 Equal Weight: corrigindo distorções do mercado

Já o Ibovespa B3 Equal Weight surgiu como uma resposta ao desequilíbrio do índice tradicional, que é dominado por grandes empresas como Petrobras e Vale. Ao atribuir pesos iguais a todas as ações, o novo índice proporciona uma visão mais representativa e equilibrada do desempenho do mercado. Essa mudança é especialmente relevante para investidores que desejam avaliar o mercado de forma mais ampla e menos influenciada pelas oscilações de poucas empresas de grande porte.

De acordo com a MZ, que acompanha mais de 340 empresas brasileiras, o índice Equal Weight representa uma evolução no cenário, ao proporcionar uma leitura mais precisa e equitativa do mercado. Essas mais de 340 empresas analisadas, que possuem um valor de mercado superior a R$ 4,8 trilhões, mostram que a maior parte das empresas brasileiras se encontra em um intervalo de valor entre R$ 1 bilhão e R$ 10 bilhões, representando 43,4% do total. Apenas 12,5% das empresas possuem um valor de mercado superior a R$ 25 bilhões, o que reforça a necessidade de um índice mais equilibrado e representativo da realidade das empresas brasileiras.

Uma narrativa de evolução: como esses pilares se conectam

O Regime Fácil, os avanços em governança corporativa e o Ibovespa B3 Equal Weight não são apenas iniciativas técnicas, mas fazem parte de uma narrativa de transformação no mercado de capitais brasileiro. Quando se comunica ao mercado, essa história precisa ser contada de forma clara e consistente. O regime Fácil, ao abrir portas para novas empresas, torna o mercado mais inclusivo. A governança, ao garantir práticas transparentes, constrói confiança. E o Ibovespa Equal Weight, ao corrigir a distorção de grandes empresas dominando o índice, oferece uma leitura mais justa e equilibrada do desempenho do mercado.

Essas iniciativas se conectam de maneira estratégica, formando um esforço coordenado para promover a eficiência, a acessibilidade e a confiança no mercado. Ao contar essa história de forma eficaz, o mercado percebe um movimento não apenas de adaptação, mas de evolução contínua. Essa narrativa, quando bem comunicada, beneficia empresas, investidores e a economia como um todo, criando um ambiente mais robusto e inclusivo. 

O grande desafio, no entanto, será garantir que esses avanços não sejam apenas mudanças pontuais, mas transformações duradouras. A comunicação eficaz tem o papel crucial de manter o ritmo dessa evolução, ajudando a consolidar os avanços em acessibilidade, governança e equilíbrio.

*Cássio Rufino é CFO & COO da MZ, empresa líder em soluções para relações com investidores. Graduado em Administração de Empresas pelo Mackenzie, possui pós-graduação em Finanças Corporativas pelo Insper e MBA Executivo em Finanças pela mesma instituição. É especialista em comunicação financeira e criador do método dos 3Cs, que já ajudou dezenas de RIs a gerar mais valor e aumento de liquidez para suas companhias.


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