Anúncios da Microsoft, Nvidia e Google marcam nova fase

Recentemente, Microsoft, Nvidia e Google, três das maiores empresas de tecnologia, apresentaram avanços que indicam uma nova etapa na evolução da inteligência artificial, do desenvolvimento de softwares e da infraestrutura digital global. As novidades fortalecem tendências que já estão impactando o mercado brasileiro e devem acelerar ainda mais a transformação digital nas empresas nacionais.

Os anúncios das big techs possuem impactos diretos sobre empresas brasileiras que operam com a transformação digital, pois o que está sendo proposto e lançado não pertence mais a uma onda passageira, de hype, mas sim algo que vai perdurar, os “catalisadores de um novo período”. 

As empresas brasileiras que ainda operarem com uma mentalidade incremental estão em risco existencial, e pra mim isso não é um exagero. A pergunta não é se devemos adotar a IA, e  sim, o quão rápido você consegue se reinventar com a IA. No mercado brasileiro, temos que abandonar um pouco o discurso da transformação digital gradual e abraçar uma ideia de revolução digital pela inteligência artificial. Se nós, como mercado, entendermos isso, temos a oportunidade de  saltar etapas no  desenvolvimento e nos posicionar no topo. Essa ideia do futurismo está sendo construída na nossa cara, com ou sem a nossa participação.

Entre os anúncios, a Microsoft apresentou a criação de softwares impulsionados por agentes autônomos de IA, integrando a tecnologia em seu portfólio e oferecendo ferramentas para que desenvolvedores consigam criar soluções mais rapidamente, com menos código e mais automação. Como exemplo, o CEO da empresa, Satya Nadella, recriou em oito minutos com a IA o primeiro software da Microsoft, que, quando foi criado, levou seis semanas para ser desenvolvido manualmente – o que, na minha opinião, foi uma provocação, no mínimo,  interessante.

Existe uma visão de futuro em relação a agentes, onde softwares e soluções desenvolvidas vão ser predominantemente puxadas por agentes autônomos de IA. É uma reinvenção radical de como se cria soluções de tecnologia, e isso me anima e traz a pergunta se nós estamos preparados para essa velocidade e profundidade de transformação, porque agora isso não parece mais ser algo utópico ou futurista, mas sim um processo em andamento. Quem não se mexer agora, assume o risco da obsolescência.

Olha só que jogada da Nvidia: pela primeira vez, eles vão permitir que seus chips de IA – a artilharia pesada da computação – sejam integrados com CPUs de outros fabricantes, usando a tecnologia NVLink. A gigante que dominava um ecossistema fechadíssimo está abrindo as portas. O que isso significa na prática? É a democratização do acesso a infraestruturas de altíssimo desempenho para IA, data centers e nuvem. Para nós, no Brasil, isso não é pouca coisa. Ter acesso a essa capacidade de processamento antes exigia um investimento massivo, quase proibitivo. Agora, com essa “abertura”, o processo tende a ficar mais acessível.

Isso ajudará a impulsionar as grandes empresas, que passarão a ter soluções customizadas, mas o grande salto vai ser visto nas startups e universidades, pois permitirá que ideias que talvez não pudessem sair do papel por limitações financeiras, agora saiam. E no nosso contexto, a parte de investimento é significativa em relação à competitividade que as nossas soluções têm lá fora. Agora, com esse “barateamento”, temos a oportunidade de flexibilizar um pouco a montagem de infraestruturas de IA, que hoje basicamente não temos, incentivando a inovação local e a retenção de talentos.

O Google, por sua vez, apresentou uma série de atualizações na sua IA generativa, o Gemini, além da implementação de um agente de compras diretamente integrado ao Google Shopping e uma parceria com a Warby Parker para o desenvolvimento de novos smart glasses, apostando na computação imersiva e no uso da IA em dispositivos do dia a dia. Esses anúncios não são apenas  uma evolução; eles são uma redefinição na experiência de consumo. O que o Google está propondo é que a era da interação passiva, onde nós, humanos, simplesmente reagimos à tecnologia, está com os dias contados. Eles querem mudar isso. Imagine uma IA que não só responde, mas antecipa seus desejos, te aconselha proativamente e até age em seu nome. E no caso dos óculos, faz tudo isso de forma direta no seu campo de visão – essa é a proposta.

Os smart glasses já nasceram e já morreram algumas vezes. Mas agora, com a IA embarcada, o Google talvez esteja querendo ressuscitar isso propondo uma interface radicalmente nova, com uma mistura de realidade digital e física. Isso passa a ter implicações no trabalho, na educação, e no caso do Brasil, no turismo. Porém, não estou certo se estamos  preparados para criar as aplicações que fariam dessa tecnologia algo indispensável. Nesse caso, acredito que temos que esperar para ver o que acontece, mas a ousadia aqui não é no quesito tecnológico, mas sim na velocidade com que estamos  propondo possibilidades de fronteira.

*Por Caio de Melo, head de inovação da Mirante Tecnologia.

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