Prefeitura acerta na curadoria e iluminação do Centro de SP e erra em infraestrutura da 20ª edição da Virada Cultural: o que deu certo e errado


Shows espalhados por 21 palcos no Centro e periferia da cidade contaram com atrações que atenderam diversos gostos musicais, mas problemas com som e lotação mostram que administração pública ainda precisa corrigir algumas coisas. Público escalou estruturas e portões para ver o DJ jamaicano King Yellowan
João de Mari / g1
A Virada Cultural 2025, que aconteceu neste fim de semana, celebrou duas décadas do evento que, entre altos e baixos, ainda é um dos mais queridos da cidade de São Paulo.
Nesta edição, os 21 palcos espalhados pelo Centro e periferia contaram com atrações que atendem diversos gostos musicais.
Apesar disso, a Prefeitura de São Paulo errou em aspectos estruturais do evento. No Vale do Anhangabaú, no Centro, o esquema de segurança concentrou a entrada principal ao local pela esquina da Praça Ramos de Azevedo, afunilando o público em uma revista corporal feita por funcionários terceirizados.
A estratégia causou filas para acessar o Vale. Na saída, a organização obrigou o público a caminhar até a Rua Formosa. Quem quis voltar para o local teve que dar a volta subindo a escadaria ao lado do Viaduto do Chá.
Segundo a Prefeitura de São Paulo, cerca de 4,7 milhões de pessoas frequentaram o evento. A Guarda Civil Metropolitana (GCM) registrou 17 ocorrências atendidas e 12 pessoas foram conduzidas a delegacias.
Ainda segundo a gestão, entre 15h de sábado (24) e 00h de domingo (25), foram realizados 273 atendimentos médicos e 24 remoções para hospitais e UPAs
Os dois únicos bares do local não tinham mais bebidas antes mesmo de João Gomes, a atração principal de domingo (25) se apresentar
João de Mari / g1
A qualidade do som e a transmissão pelos dois telões, os atrasos e as poucas opções de tendas de hidratação nos palcos principais também foram pontos negativos.
Os dois únicos bares do local não tinham mais bebidas antes mesmo de João Gomes, a atração principal de domingo (25) se apresentar.
Já nos palcos menores, destinados às festas de rua, a Prefeitura subestimou as atrações, como a Novo Affair, que sufocou o público no Largo do Café, e do DJ jamaicano King Yellowman, que levou o público a escalar estruturas e portões na rua XV de Novembro e adjacentes.
Veja o que deu certo e o que deu errado na Virada Cultural 2025:
O que deu certo
Festas
No Largo do Café, perto da São Bento, mal dava para se movimentar com a quantidade de pessoas que foram atrás da Novo Affair
João de Mari / g1
Na comemoração dos 20 anos da Virada, o evento fez as pazes com algo que é a cara de São Paulo e que não fez parte das últimas edições: a festa de rua.
Foram seis palcos completamente dedicados a DJs e, praticamente todos, estavam lotados.
O fenômeno Submundo808, que faz baile funk em locais fechados, transformou a Rua Aurora em um bailão, com um som potente e centenas de jovens que ocuparam o local por cerca de seis horas. Outra festa que também estava lotada era a Subete!, que levou música latina para a pista República.
No Largo do Café, perto da São Bento, mal dava para se movimentar com a quantidade de pessoas que foram atrás da Novo Affair.
E na pista XV de Novembro, a lotação era tanta que o público chegou a subir na estrutura da própria Virada para conseguir ver as atrações do palco destinado ao dancehall e soundsystem.
A lotação das festas na Virada provou que o público de São Paulo está disposto e tem interesse em se movimentar pela vida noturna, ocupando o Centro.
Diversidade de eventos
Além dos mega artistas e das festas, o público também pode entrar em contato com outras culturas, como na virada K-Pop, no Centro Cultural Oswald de Andrade. Dezenas de adolescentes se empilharam no palco da Oswald para dançar desenfreadamente as danças coreografadas do K-Pop. Aulas para iniciantes também eram ministradas em salas ao lado.
Também teve Queen Live Kids, no palco Butantã, e Jazz e Choro, para os “sentantes” participarem.
Virada Cultural 2025 tem espaço para o universo K-pop com dança, cinema, moda e karaokê
Cíntia Acayaba/g1
Tudão Crocodilo
Aparelhagem Crocodilo leva espetáculo inédito à Virada Cultural de São Paulo
Um dos maiores acertos de curadoria desta edição da Virada — senão o maior — foi a presença da aparelhagem Tudão Crocodilo no Vale do Anhangabaú, fenômeno na cultura do Pará.
Os DJs levaram música paraense e a cultura da aparelhagem para o Vale do Anhangabaú, animando o público nos intervalos dos shows, com uma energia contagiante e muito interesse pela cultura que o público paulista não tem tanta familiaridade.
A atração reuniu uma galera que já conhecia o estilo, mas também muitos curiosos que acabaram se encantando com o crocodilo gigante. As participações da Gang do Eletro, Gaby Amarantos e, principalmente, Viviane Batidão também foram bem acertadas.
Gang do Eletro não deixou o público do palco da aparelhagem esfriar
João de Mari/g1
Iluminação e sensação de segurança
A Secretaria da Segurança Pública, responsável pelas polícias Civil e Militar, ainda não divulgou ainda O balanço de toda a Virada Cultural
João de Mari / g1
Outro ponto que melhorou em relação às últimas edições do evento, foi a sensação de segurança. A iluminação e policiamento do Centro trouxe um público que não participava da Virada Cultural há anos. Em 2022, o evento ficou marcado por arrastões, esfaqueamentos e prisões.
Se depender dos cálculos da Prefeitura, a sensação se confirma, já que os números preliminares de até o meio-dia de domingo (25) mostraram que a Guarda Civil Metropolitana (GCM) atendeu apenas duas ocorrências. Uma por roubo de celular, com detenção e encaminhamento do suspeito ao 47º Distrito Policial, e outra por mal súbito, com pronto atendimento à vítima.
A Secretaria da Segurança Pública, responsável pelas polícias Civil e Militar, ainda não divulgou ainda O balanço de toda a Virada Cultural.
O que deu errado
Localização das festas
Público pista XV de Novembro
Reprodução/FreshDanceHall
Se as festas foram um grande acerto, a localização delas não foi tão boa. Isso porque boa parte foi colocada em ruas mais estreitas, o que dificultou a movimentação do público e causou superlotação.
Um exemplo é a pista XV de Novembro, onde teve dancehall. O local estava tão lotado que o público subiu em estruturas da própria prefeitura para conseguir assistir às apresentações.
A FreshDanceHall, que se apresentou na pista com Yelloman, fez um post nas redes sociais pedindo desculpas ao público pela superlotação — e também àqueles que não conseguiram localizar a pista.
No domingo (25), a apresentação de Russo Passapusso, vocalista do BaianaSystem, gerou críticas pela lotação e visibilidade do palco, que foi montado diretamente no chão da rua XV de Novembro.
Problemas nos telões no Vale do Anhangabaú
Um dos dois telões presentes no Vale do Anhangabaú.
Deslange Paiva/ g1
Segundo a Prefeitura de São Paulo, cerca de 120 mil pessoas assistiram ao show da Liniker no domingo (25) no Anhangabaú, mas “assistiram” é uma palavra muito forte — talvez o mais correto fosse dizer que “sentiram” a presença da artista. Apesar da lotação, o local contava com apenas dois telões, pequenos para o público que estava mais distante do palco.
Além de pequenos, os telões estavam mal posicionados, muito baixos, o que dificultava ainda mais a visão para quem estava longe.
No sábado (24), as telas no show do pagodeiro Belo não estavam sincronizadas e tinham um enorme delay.
Outros palcos do Centro, como os do Largo do Arouche e da Praça da República, não contavam com nenhum telão.
Liniker durante show para multidão no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, durante a Virada Cultural, neste domingo (25).
AGATHA GAMEIRO/ZIMEL PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Falta de caixas de som no Vale do Anhangabaú e em outros palcos
Outro problema estrutural foi o som dos palcos. No Anhangabaú, por exemplo, não havia caixas de som espalhadas pelo vale e, por isso, dependendo da localização do público, não era possível ouvir a música adequadamente.
No show da Liniker, por exemplo, durante seus discursos, quem estava mais distante — próximo à aparelhagem — não conseguia entender o que a cantora dizia.
O mesmo problema foi sentido no palco República e também na pista República: as festas Subete! e Mamba Negra estavam com o volume da música muito baixo.
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