Cientista admite que “lobo terrível” não foi ressuscitado

Lobo cinzentoAlan Watt

Em entrevista recente, a cientista-chefe da Colossal Biosciences, Beth Shapiro, admitiu em entrevista recente à New Scientist que os “lobos terríveis” desextinto são, na verdade, lobos cinza modificados com 20 edições genéticas, e não uma reconstrução fiel da espécie.

A revelação contradiz o anúncio inicial da empresa, que chamou os animais de “lobos terríveis” em comunicados e nas redes sociais afirmando ter criado o “primeiro animal desextinto do mundo”, em um anúncio polêmico em 7 de abril deste ano.

A alegação foi questionada desde o início por cientistas, que destacaram a falta de evidências para considerar os animais como “desextintos“.

Richard Grenyer, biólogo da Universidade de Oxford, classificou a mudança no discurso da empresa como uma “grande divergência” em relação às promessas anteriores, em entrevista à New Scientist.

O que eles não fizeram foi trazer de volta um lobo terrível da extinção“, afirmou.

Claudio Sillero, também de Oxford, ressaltou à New Scientist que há indícios de diferenças físicas entre as espécies, como a pelagem avermelhada dos lobos terríveis, em contraste com a branca dos lobos cinza editados.

Empresa mantém posição

Apesar das críticas, a Colossal continuou usando o termo “lobo terrível” para descrever os animais.

Em resposta a um comunicado de especialistas que rejeitavam a classificação, a empresa defendeu-se no X: “[…] mantemos nossa decisão de chamar Romulus, Remus e Khaleesi coloquialmente de lobos terríveis“.

Response to the IUCN SSC Canid Specialist Group: The Dire Wolf and Its Implications for Conservation pic.twitter.com/ThGhOEp5xV

— Colossal Biosciences® (@colossal) April 22, 2025

Shapiro, porém, argumentou que a empresa nunca escondeu a natureza real dos animais.

As pessoas ficaram bravas porque os chamávamos de lobos terríveis. Mas sempre dissemos que são lobos cinza com 20 edições“, declarou.

Anúncio polêmico em abril

No comunicado original, publicado em 7 de abril pela empresa, a Colossal Biosciences anunciou o primeiro caso bem-sucedido de desextinção: o renascimento do “lobo terrível“, extinto há 12.500 anos.

Segundo a nota, a empresa afirma ter usado DNA extraído de fósseis, um dente de 13 mil anos e um crânio de 72 mil anos, e realizado 20 edições genéticas no genoma do lobo-cinzento, seu parente vivo mais próximo, reintroduzindo 15 variantes genéticas extintas.

Eles afirmam que três filhotes saudáveis de “lobo terrível” nasceram, além de quatro lobos-vermelhos, criticamente ameaçados, clonados por meio de uma técnica não invasiva a partir de amostras de sangue.

A Colossal Biosciences pontua o potencial da tecnologia para recuperar espécies perdidas e salvar outras à beira da extinção, como os lobos-vermelhos, cuja população selvagem tem menos de 20 indivíduos.

Impacto na conservação

Shapiro também negou que a “desextinção” possa reduzir esforços para preservar espécies ameaçadas, uma preocupação levantada por críticos.

Agora está sendo vinculada à ideia de que não precisamos nos importar. É terrível“, disse.

Grenyer rebateu: “A palavra-chave é ‘subitamente’“.

Ele destacou que a empresa, mesmo ciente dos riscos, afirma em seu site que “a extinção é um problema colossal […] e a solução é a desextinção“.

Para Grenyer, a afirmação é equivocada: “É ciência transformadora, mas não é desextinção“.

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