O trabalho da PRF para salvar pessoas que pensam em se matar

Para além do combate ao crime nas rodovias, agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Rio de Janeiro têm em suas rotinas um trabalho “silencioso” aos olhos da sociedade, porém muito importante: salvar pessoas que tentam tirar a própria vida em momentos de aflição, em pontes, viadutos, passarelas e até mesmas nas estradas.

Não há estatística sobre isso nem detalhes dos casos são narrados. Até porque quantificar não é o objetivo da prática, diga-se de passagem, merecedora de aplausos. Um único policial, no entanto, salvou cerca de 10 vidas em seus plantões nos últimos dois anos, segundo a corporação.  

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Segundo o porta-voz da PRF, o agente José Hélio Macedo, em muitos casos a atuação se dá pelo alerta da população em situações já configuradas, mas acontece também do pior ser evitado a partir do olhar atento do policial.

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Por exemplo, durante uma ronda você identificava uma possível situação de vulnerabilidade ali e aborda. Já teve situação de acontecer que, realmente, a pessoa estava ali já desorientada, vulnerável e a gente conseguir tirar a ideia da pessoa


José Hélio
Porta-voz da PRF

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Ainda de acordo com José Hélio, os policiais da PRF passam por treinamentos voltados para o gerenciamento de crises desde o início da carreira e também ao longo dela. A capacitação envolve cursos promovidos internamente e em parceria com instituições como o Corpo de Bombeiros, que ministrou em 2024 um treinamento com foco em resgate e acolhimento.

O policial rodoviário federal Guilherme Villar, reconhecido por salvar várias vidas, explicou como os treinamentos fazem parte da rotina dos agentes.

“Desde o Curso de Formação Profissional (CFP) e, anualmente, nos Ciclos de Atualização Profissional (CAP), os policiais rodoviários federais passam por instruções e capacitações em gerenciamento de crises, a fim de estarem preparados para agir nas situações mais diversas, entre elas casos de salvamento e acolhimento de pessoas em vulnerabilidade”, disse Guilherme.


A vida renasce quando pela primeira vez lançamos um olhar inteligente sobre nós mesmos

Villar explica ainda que os agentes são orientados a observar detalhes que possam indicar um possível risco durante o patrulhamento. 

“Realizamos abordagens de pessoas que possam apresentar possíveis características que indiquem uma situação de vulnerabilidade, mas vai também muito do tino do policial. Algumas atitudes podem levar a identificar possíveis casos, como roupas em desalinho, andar desnorteado, falando sozinho, chorando ou até mesmo em locais propícios”, explicou.

O policial disse ainda que, apesar de existir um protocolo para essas situações, a experiência e a sensibilidade do agente acabam sendo fundamentais.

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Embora exista um protocolo, inclusive orientado durante as instruções, cada caso é um caso. A empatia com o cidadão e, principalmente, a experiência, direcionam o melhor tipo de abordagem, porém o ponto chave é conseguir ganhar a confiança do cidadão e fazer o acolhimento, ouvindo o seu desabafo


Guilherme Villar
Policial Rodoviário Federal

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O policial explicou também como funciona o acolhimento após a intervenção. “Após essas ocorrências, os cidadãos são direcionados a hospitais psiquiátricos especializados no tratamento. Entretanto, acredito que o melhor acolhimento é quando a pessoa se sente protegida, recebendo um caloroso abraço, por exemplo, pois ali é o real momento de desabafo, quando o cidadão se dá conta de todo o contexto e de uma situação que foi evitada, observando a gravidade do ato”, argumentou. 

Projeto Vida PRF

Além de ajudar quem está em sofrimento, os policiais também recebem apoio quando precisam lidar com as próprias emoções após intervenções tão delicadas. A PRF oferece suporte por meio do projeto estratégico “Vida PRF”, criado com o objetivo de promover saúde mental no ambiente de trabalho.

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A instituição disponibiliza atendimento psicológico aos policiais que solicitem ou necessitem de acompanhamento, é o programa Vida PRF


Guilherme Villar
Policial Rodoviário Federal

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A atuação da PRF nesses casos é feita com discrição, mas o tema precisa ser debatido, como avalia o policial.

“É um tema muito complexo, sendo os debates salutares para otimizarmos a prevenção, por isso buscamos a capacitação constante. Uma frase que sempre cito nessas ocorrências é: ‘A vida renasce quando pela primeira vez lançamos um olhar inteligente sobre nós mesmos’”, finalizou.

Trabalho conectado ao CVV 

O CVV é reconhecido como de utilidade pública federal e funciona 24 horas por dia


O CVV é reconhecido como de utilidade pública federal e funciona 24 horas por dia


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Imagem ilustrativa

A atuação da PRF no resgate de pessoas em situação de vulnerabilidade emocional nas rodovias se conecta diretamente com o trabalho do Centro de Valorização da Vida (CVV), que apoia e tem parceria com a corporação. 

“O CVV apoia emocionalmente todas as pessoas que nos procuram. Além disso, somos convidados a fazer palestras, rodas de conversa e outros dispositivos em diversas instituições, e a PRF é uma delas”, disse Alan Lima, voluntário do CVV há oito anos. 

O CVV é uma organização da sociedade civil que oferece apoio emocional e atua na prevenção do suicídio. Fundado em 1962, o CVV é reconhecido como de utilidade pública federal e funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana, com atendimento gratuito pelo telefone 188, chat, e-mail, carta e presencialmente.

Ao longo de 2024, os voluntários do CVV atenderam, pelo telefone 188, mais de 2,4 milhões de ligações, uma média de 7 mil por dia. Segundo Alan, o perfil mais comum das pessoas que procuram ajuda é o de jovens em situação de solidão ou incompreensão.

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Como garantimos o sigilo e o anonimato, percebemos que é mais comum a procura de jovens que se sentem sozinhos ou são incompreendidos. Mas atendemos pessoas de todas as faixas etárias, gêneros ou regiões do país, desde que necessitem conversar com alguém sem ser julgado


Alan Lima
Voluntário

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Em 2024, a instituição contou com 2.343 voluntários atuando diretamente no atendimento pelo 188. No total, foram 3.367 voluntários envolvidos nas mais diversas frentes de trabalho e apoio.

As datas comemorativas e os meses de maior visibilidade, como o Setembro Amarelo, costumam registrar aumento nas ligações. 

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Datas comemorativas como dia das mães, dia dos pais, natal e ano novo, que remetem à perda de alguém querido, ou durante o setembro amarelo, mês de prevenção do suicídio, registram o maior número de ligações


Alan Lima
Voluntário

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Entre os estados que mais utilizaram o 188 no último trimestre estão São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Bahia, seguindo a tendência observada em relatórios anteriores. Em dezembro, Pernambuco ultrapassou a Bahia em número de atendimentos.

Para mais informações, o site oficial da organização é cvv.org.br e as redes sociais são @cvvoficial (Instagram, Facebook, YouTube, TikTok, Spotify, LinkedIn e X). O telefone 188 funciona gratuitamente em todo o Brasil.

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