União Operária 1º de Maio há mais de 100 anos preserva a memória de Alegrete

Neste dia 25 de abril de 2025, a União Operária 1º de Maio, de Alegrete, completa 100 anos. A entidade foi criada com o nome de União Operária e, mais tarde, recebeu o complemento 1º de Maio, tornando-se, assim, a União Operária 1º de Maio. Na assembleia do dia 16 de abril de 2024, sua razão social foi mudada para Associação Cultural, Recreativa e Comunitária União Operária Primeiro de Maio, com o nome fantasia União Operária 1º de Maio.

No contexto de sua fundação, há um século, era uma associação de trabalhadores e trabalhadoras com fins de amparo mútuo, de luta e resistência por direitos trabalhistas (sindical). A União Operária possuía um fundo construído pela contribuição dos próprios associados para que fosse usado em momentos em que os trabalhadores precisassem, por exemplo, faltar ao trabalho por motivos de doença. O pecúlio da entidade servia para amparar os trabalhadores necessitados, prestando socorro mútuo, como assistência médica, funerária e educação. Promovia uma educação sindical e organizava campanhas e lutas, como as manifestações do 1º de Maio em Alegrete.

Foto: acervo Stop

Em uma aprofundada pesquisa o professor e historiador Anderson Pereira Correa, teve como inspiração o trabalho de alguns historiadores: Frederico Duarte Bartz, com o projeto Caminhos Operários em Porto Alegre, e Paulo Fontes, com Lugares de Memória dos Trabalhadores.

Esses trabalhos são parte da batalha por significação e ressignificação dos territórios como bases materiais e subjetivas das resistências e pertencimentos do cotidiano. Alguns lugares relacionados ao início da União Operária, que são alguns dos lugares de memória da classe trabalhadora de Alegrete.

Conforme o trabalho apresentado por Correa, o primeiro local, por ordem cronológica dos acontecimentos, é o lugar onde aconteceu a assembleia de fundação e onde tomou posse a primeira diretoria da União Operária.

No dia 25 de abril de 1925, no Teatro Rio Branco, na então Praça 15 de Novembro, foi criada a União Operária e, no mesmo local, foi empossada a primeira diretoria. O Teatro Rio Branco, antes desse nome, também era chamado de Teatro 13 de Maio, em homenagem à abolição da escravidão.

Em publicação do jornal Gazeta de Alegrete, em 1973, que publicou sobre a fundação da União Operária, é relatado que, naquele dia, logo após a posse da primeira diretoria, o Sr. Jan Von Seffelen plantou uma árvore na Avenida Freitas Valle. Em 2019, o pesquisador conversou com o João Braz (in memorian), que, na época do diálogo, tinha 93 anos (seus pais e tios foram integrantes da União também). Ele contou que, quando era guri, ia cuidar da árvore da União Operária – a terceira à esquerda na Av. Freitas Valle, em Alegrete.

Já em conversa com o historiador Márcio Sônego, Anderson foi informado que os trabalhadores daquele contexto reconheciam em Freitas Valle alguém que tinha contribuído para a abolição da escravidão na cidade. Talvez, por isso, o plantio de uma árvore naquela avenida. A memória social construída na cidade, sobre a luta contra a escravidão, mostra Luiz de Freitas Valle como um dos principais abolicionistas da cidade. Na tese de Sônego, aparece que, em Alegrete, existiu um processo diferente e que muitos conhecidos por abolicionistas eram, na verdade, emancipacionistas. O patrono do referido Centro, Renato Jaques (Renatão), foi um militante sindical dos trabalhadores na educação e era afrodescendente.

Mas segundo a história, o local onde começou a União Operária, foi no prédio alugado do tintureiro Anum Adler, que ficava na Rua dos Andradas, número 104. A localização precisa desse prédio; ainda é incerta, certo que estava situado no início da Rua dos Andradas, provavelmente na primeira quadra.

Eventualmente, entre 1925 e 1927, aconteciam atividades da União Operária, na sede da Societá di Mutuo Socorro Unione Italiana, na Rua Gaspar Martins: palestras, comício e até uma turma da escola da União Operária funcionou nesse local. Local, por exemplo, onde aconteceu uma conferência com o palestrante, sindicalista e anarquista de Bagé, Reduzindo Colmenero, em setembro de 1926.

Em 1926, a União Operária alugou um terreno da Sra. Conceição e, em 1927, comprou o terreno, na Rua 20 de Setembro, dando início às obras da sede própria, construída por etapas. Prédio concluído em 1955, que hoje se encontra com uma pintura feita pelo artista Tharcus Aguilar Alves.

No dia 25 de junho de 2019, a diretoria da União Operária decidiu encaminhar solicitação ao Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural de Alegrete (COMPAHCA) para que o local onde funciona a entidade seja consagrado como Lugar de Memória de Alegrete. O COMPAHACA, em reunião do dia 20 de dezembro de 2024, decidiu registrar a União Operária 1º de Maio no inventário do Patrimônio Histórico da cidade de Alegrete, ou seja, foi dado um passo no processo de Consagração.

Em seu estudo, o professor Anderson concluiu que existiram tipos diferentes de mutualismo (mútuo socorro), como étnico cultural (o exemplo da União Italiana) e o mutualismo classista (como o exemplo da União Operária). A formação da classe trabalhadora em Alegrete recebeu a influência de uma diversidade étnica, de gênero, política e profissional. Contribuíram para a sua formação trabalhadores e trabalhadoras nacionais, afrodescendentes, descendentes de imigrantes e imigrantes com suas experiências herdadas, vividas e compartilhadas.

Situação Atual

“Hoje em dia nossos maiores desafios é a manutenção do espaço físico ,mas trazemos como objetivos principais é a melhoria desta estrutura , reativar o quadro social e retornar nossas atividades sociais”, destacou a presidente
Ela diz que representar a União Operária, como Presidenta ,neste centenário é uma honra , é um legado que vem sendo construído por seus ancestrais e de outras tantas famílias alegretense, durante este tempo.
“Precisamos que toda comunidade esteja conosco nesta reestruturação do clube, que é uma referência da negritude alegretense”, comenta.

Na véspera de completar 100 anos, a reportagem do PAT visitou a União Operária e passeou por um lugar carregado de memórias de Alegrete. Da escadaria, ao fundo do bar, da extinta sacada, o prédio hoje se encontra interditado. No andar térreo, a 13 anos funciona a sede da UABA. Algumas cadeiras espalhadas no salão do segundo andar, palco de grandes bailes, hoje a poeira toma conta. O teto precário infiltra água da chuva e precisa urgentemente de uma reforma para assegurar a estrutura do centenário prédio.

Atualmente o clube é presidido por Rosa Machado, 1º Vice Enesildo Silveira; 2º Vice Vladimir; Secretária Geral: Gilmara Domingues; Secretária adj.: Aline Castilhos; Tesoureiro I: João Pedro; Tesoureiro II: Everaldo Alemeida Paré; Diretor Cultura: Gilmar Martins; Diretoria de Recreação, Esporte e Cultura: Vinicius; Diretor Comunitário: Airton Alende; Diretoria de Patrimônio: Rui Antunes e Comunicação: Edgar Lopes.

Integram o Conselho Fiscal (Jurídico): Dr. Sivens Carvalho; ⁠Dr. Amilton Oliveira e ⁠Dr. Fernando. No Fiscal: Marina Castilhos; Ercio Silveira e Marta Firmina da Rosa. Suplentes: Antônio Cezar Lara; Anderson Pereira Corrêa e Jorge Moogen.

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