Advogados da VR Brasil secaram contas antes de bloqueio, diz delegado: ‘Chegaria a R$ 2 bi’

O caso da VR Brasil, empresa localizada em São José, suspeita de encabeçar um esquema milionário de venda de cotas imobiliárias, teve novos desdobramentos na última semana de fevereiro, com o bloqueio de R$ 500 mil em contas ligadas aos investigados. No entanto, para Leonardo Silva, delegado de Defraudações da Deic (Diretoria Estadual de Investigações Criminais), o valor é menos da metade do que poderia ter sido bloqueado, já que a demora judicial permitiu que as contas fossem “secadas” pelos advogados.

O escritório da empresa fica localizado no Centro Empresarial Terra Firme, em São José, mas o local está fechado desde o início das investigações - Foto: Reprodução/ND

O escritório da empresa fica localizado no Centro Empresarial Terra Firme, em São José, mas o local está fechado desde o início das investigações – Foto: Reprodução/ND

O ND Mais noticiou o caso pela primeira vez em maio do ano passado. Em agosto, uma série de reportagens trouxe, em detalhes, como o esquema funcionava e como as vítimas eram atraídas, além dos entraves judiciais.

Por determinação judicial, todos os investigados no caso tiveram sigilo bancário quebrado, sendo definidos:

  • O bloqueio de R$ 500 mil em 96 contas diferentes;
  • A indisponibilidade de nove imóveis, sendo oito em área urbana e um em área rural;
  • O bloqueio de 54 veículos, a maioria de luxo, e seis embarcações, entre iates e motos aquáticas.

Segundo Silva, os entraves na Justiça deram tempo hábil para que os advogados fizessem a “limpa” nas contas e impedissem que houvesse mais bens bloqueados.

“Se as medidas fossem autorizadas oito meses atrás, o valor seria de cinco a oito vezes maior, chegando na casa dos R$ 2 bilhões. Com a demora, os advogados dos investigados tomaram conhecimento das medidas e se desfizeram de boa parte do patrimônio que tinham”, lamentou.

Ninguém aparece no escritório da empresa, pelo menos, desde maio do ano passado - Foto: Reprodução/ND

Ninguém aparece no escritório da empresa, pelo menos, desde maio do ano passado – Foto: Reprodução/ND

Um dos principais entraves durante o ano de 2024 dizia respeito à competência do processo. Por se tratar de crimes contra o sistema financeiro, a dúvida era se a Justiça Federal ou a estadual deveriam ser responsáveis pelos autos.

A discussão, então, foi para o STJ (Superior Tribunal de Justiça), e só no fim de 2024 ficou decidido que a competência seria da Justiça Estadual. Durante todo esse período, a investigação não avançou. Somente em fevereiro deste ano, oito meses após o início dos trabalhos, foi autorizado pela Justiça o cumprimento das primeiras medidas.

Os investigadores irão analisar todos os dados bancários bloqueados, com expectativa de que o trabalho dure de um ano a um ano e meio. A polícia quer comprovar que os investigados se desfizeram de bens, ou até mesmo passaram para o nome de outras pessoas, para evitar os bloqueios. Assim, será possível reaver o máximo dos valores para pagar os lesados, já que o prejuízo das vítimas chega a R$ 1 bilhão.

Caso VR Brasil: tudo começou com a morte do CEO da empresa

A investigação sobre o caso da VR Brasil começou em junho de 2024, um mês após a morte de Márcio Ramos, proprietário e fundador da empresa, que sofreu um acidente de moto no bairro Capoeiras, no dia 16 de maio de 2024.

O delegado Silva afirmou que, na época, já sabia que se tratava de um golpe financeiro e, ciente disso, solicitou medidas cautelares como bloqueio de bens e contas, além da quebra de sigilo bancário de envolvidos no esquema, mas a demora judicial não permitiu que isso acontecesse ainda em 2024.

Investigação começou após a morte do fundador e proprietário da VR Brasil, Márcio Ramos - Foto: Reprodução/YouTube

Investigação começou após a morte do fundador e proprietário Márcio Ramos – Foto: Reprodução/YouTube

Depois do mentor do negócio falecer, Monique Baumgartner, esposa de Márcio, assumiu a gestão dos negócios. Porém, ela e todos os gerentes e gestores da VR Brasil culparam o fundador da empresa por uma má administração.

Hoje, essas pessoas são alvo da investigação e respondem pelos crimes de estelionato, na modalidade de pirâmide financeira, que pode evoluir para crime contra a economia popular, associação criminosa, que pode evoluir para organização criminosa, e lavagem de dinheiro.

“Temos 12 pessoas físicas, entre ex-gerentes da VR e ex-sócios de Márcio Ramos, além de 16 empresas dentro desse inquérito criminal”, esclarece o delegado Leonardo Silva. “Os crimes foram praticados contra cerca de 3 mil pessoas. Esse golpe fez vítimas em Santa Catarina, em outros Estados e até no exterior”, finaliza.

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